17 de maio de 2009

Discurso Celeste

Na última quinta, dia 14, meu irmão (Guga) completou 18 anos de vida. A festa foi muito animada e interessante. Muita gente bonita se apresentou para saudar este momento tão especial. Um desses visitantes foi Deus, que deu uma passadinha por lá para homenageá-lo. Abaixo seguem suas palavras:
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"E no inicio eu criei o céu e a terra; Depois criei o sol e os mares; E depois criei o diabo a quatro! Bem, na verdade o diabo eu não criei, mandei lá pra baixo, pois dava muito trabalho. Mas o importante é que criei muitas gerações, muitas pessoas. Teve alguns indivíduos que eu não criei, foram as mães que criaram , mas garanto que paguei a pensão alimentícia em todos os casos; Um exemplo disso foi Jesus, dentre outros. Mas tive participação.
Fui criando, criando...
-Vocês sabem que eu sou demais!-
Aliás é preciso tira a limpo uma história: pessoal, eu já sou um senhor de milhões de anos e vocês conhecem todas as minhas incríveis capacidades, então pelo meu amor, parem com essa história de que eu sou 'uni-m-potente'. Seus velhinhos tem o apoio moral do Pramil, do Cialis, e eu fico a base do natural, catuaba e guaraná. Mesmo assim mando ver. A partir de agora quero ouvir: Deus é super potente!
Mas voltando ao assunto, criei um bocado de coisas importantes e legais. Mas foi quando um jovem casal, Juce e Gil, resolveram fazer ousadia, que uma das mais belas criações surgiu. Eles deram vida ao supra-sumo das criaturas: O super-mega-hiper fantástico Rafha.
Mas hoje eu vim falar da outra criatura que eles trouxeram ao mundo. Aquele menino amarelo do nariz entupido, o rei do egoísmo, o catador das bugingangas universais, o Guga.
Durante muito tempo observo sua vida, meu menino. Vi sua mãe passar talquinho nessa bunda magra, suas encrencas infantis e suas aventuras adolescentes. Agora vejo você adentrar a maioridade, a fase adulta. Hoje sinto a força de sua vida, de criatura você passa a criador.
-Então se previna, use camisinha!-
E como criador tem um mundo inteiro a reinventar. Faça sua história. E se converta moleque, se não tu vai queimar no inferno! Boa sorte! O mundo é seu."
...
E dito isto, Deus subiu ao céu, perdendo a cachaçada que veio a seguir. A noite se prolongou em um sorriso macio e feliz.

Parabéns meu pqno !!!

13 de maio de 2009

De tarde

Quente a poeira me invade as narinas pela rua cinzenta da cidade. Ao longe vejo o asfalto queimando os pneus e os solados dos sapatos gastos que protegem pés apressados. O sol sobre minha cabeça me avisa que nada externo vai mudar a rotina que me cansa. O suor que corre em meu pescoço me reclama que só eu sou capaz de uma mudança. A vida é minha. Está em minhas mãos.
Anoitece. Vou pra casa.
...
...
Os sonhos se derretem na aceitação da realidade.
...
...
BOA TARDE!

10 de maio de 2009

A Genitora

Menina, mulher e o que mais?
Aquela que complica o destino
implica com os amigos
atrapalha os namoros
regula os horários
impõe os limites
reclama do sossego
reclama do barulho
reclama do meio-termo
reclama, enfim, de tudo
e diz seus absurdos
fala mal dos outros
de nós e do papai
promete e nunca vai
e quando vai é indiscreta
é a gênia e a profeta
moralista de uma figa
ranzinza que 'num' morre
e mesmo ela sendo um porre
é a mais fiel amiga
...

Mesmo sendo mala
como não amá-la?

9 de maio de 2009

Colhendo Acerolas

A lua iluminava brevemente a terra na noite em que me vi de perto.
Tinha acabado de chegar de minhas ocupações escolares e cansado por mais um dia de trabalho. Da pia os pratos calados me olhavam pedindo um banho e meu corpo, que pedia descanso, foi vencido pela mania de limpeza.
Pus-me a lavar a louça despretensiosamente, mas foi me surgindo uma fome repentina – não era literalmente fome, apenas vontade de comer – e comecei a imaginar as possibilidades. Naquele momento estaria mentido se dissesse que havia abundancia de possibilidades, mas o que importa é como um momento tão comum pode parecer e ser especial. Vi os pães e os condimentos que poderiam rechiá-los e percebi a falta do acompanhamento liquido indispensável. O horário do evento induzia um café com leite padrão, mas como o que calor local nos impõe é inquestionável, fiz um bom suco. Vi a geladeira vazia, os pacotinhos artificiais de sabores diversos – vulgos: Kisuquis – também desaparecidos, então me permiti olhar além dos limites da cozinha. No quintal, à luz de um luar discreto, dois pés de acerola reluziam graciosos ao balanço da brisa mansa. Ao acender a lâmpada, esse mini-sol criado pelos humanos, vi a beleza das frutinhas vermelhas que acenavam animadas para mim.
- Esse é o momento mágico.
Às 22 horas do dia sete, em pleno mês de maio, lá estava eu com tudo que sempre sonhei. No céu uma lua acompanhada por estrelas brilhantes. Em terra eu, as acerolas e o silêncio que se perdia na imensidão de uma noite especial. Fiquei admirando as frutas e sua coloração, me permitindo não pensar em nada que não fosse a beleza daquele momento. A cabeça vazia dos problemas do cotidiano me libertava das emoções que cansavam meu corpo e das angustias futuras que machucavam meu pensamento. Ali eu vivi o momento presente, e nada me lembrava que o mundo existia. Colhendo as acerolas eu revezava de árvore e imaginava como a natureza poderia ser tão bondosa. O azedume que a boca experimentava era de uma pureza bela e simples, e percorria meu corpo por dentro como um néctar de vida celestial.
Saboreei cada minuto daquela contemplação e entendi que todas as noites são especiais, o nosso olhar é que não nos permite vive-las dessa maneira. A lua, a brisa, e as acerolas estão sempre lá – está certo, as acerolas nem sempre –, mas o que importa é nós estarmos. Nós, e não o resultado dos dias. As angustias, preocupações, e todos os sentimentos que nos prendem nessa civilização e nos impede de sentirmos o nosso lado natural, não devem estar presentes sempre em nossa vida, em todos os momentos. Somos animais, fazemos partes desse mundo, e o mundo também faz parte da gente.
Depois de viver estes singelos segundos entre as aspas da rotina, me vi sentado no sofá, já com o pão recheado e o suco na mão e me dei conta: fazia tempo que não bebia um suco tão puro de mim.

6 de maio de 2009

Pequenos Contos Modernos - II

¬O Curioso Caso de Seu Jerilson
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Era uma noite linda dentro do templo evangélico quando em louvor o ministro iniciou a sessão de batismos da congregação. - O batismo é um rito de purificação que representa a passagem de uma vida mundana para uma baseada nos ensinamentos de Cristo. Este ritual ocorre no altar do templo, em uma espécie de piscina onde os convertidos vivem os mesmos procedimentos a que o próprio Cristo fora submetido por João Batista no rio Jordão. – Tudo ia como de costume, alguns muito emocionados, outros engolindo mais água do que o esperado, as mulheres perdendo o dinheiro gasto com a chapinha, e até um incidente um tanto estranho quando o pastor batizava sua própria sogra. A velha pelo visto ficou tempo demais submersa, fora apenas um incidente estranho, nada que levantasse suspeitas.
Mas quando todos já estavam esperando o fim da cerimônia eis que surge seu Jerilson, um senhor de 96 anos de idade. A comoção foi geral por aquela conquista da palavra. Depois de viver nove décadas e meia cometendo todos os pecados possíveis, vivendo a luxuria da vida mundana, experimentando das delicias infernais que a sociedade permite, ele havia aberto sua vida para Jesus, e a partir de agora usaria todas as suas forças na campanha por um mundo melhor. O pregador fez seu discurso enfatizando o valor da vitória, recebeu a confirmação de seu Jerilson de que era aquilo que ele realmente queria, e com o apoio de outro irmão submergiu o velhinho com certa dificuldade, já que naquela idade a flexibilidade estava um tanto comprometida.
Ele emergiu sob os aplausos eufóricos dos fiéis e seu corpo tremia alucinadamente.
Naquele momento seu Jerilson estava garantindo um pedaço do paraíso para seu descanso, porém não sabia que estava também comprando uma passagem marcada para o céu. Quarenta e cinco dias depois o pobre velho veio a falecer por culpa de uma pneumonia. Hoje não sabemos ao certo se ele se salvou antes de morrer ou se morreu por tentar se salvar.

Magra

Quando anda pela rua faz do calçamento sua passarela particular.
Ela, a magrela que a gravidade se esforça para segurar, é uma boneca frágil que encanta e desbanca qualquer que tenha uma visão presumida de seu jeito. O seu corpo de visível peculiaridade tem as curvas que alimentam os pensamentos juvenis dos homens de qualquer idade.
A amarela de meus olhos vis tem o sabor colorido de uma traquina inocente. O conjunto de partes que compõe seu modo único de se apresentar é um modelo daquilo que faz o sorriso da libido se tornar presente.
***
Lá vem ela pela rua de granito em seu passo de beleza e sedução. Vê os olhos que seguram a paisagem por instantes incontidos. Faz do tempo o registro de seu canto e me encanta sendo outra em meu colchão.
Levemente me permite flutuar.

2 de maio de 2009

Revendo...02

A Virgem do Fuso - Leonardo Da Vinci
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Após longa caminhada a família repousa no topo da montanha que corta a paisagem. O pai que busca alimento para seus amores não vê o cuidado que a mãe tem ao seu filho. Enquanto ele se distrai com gravetos em uma curiosa forma de cruz, a madona o admira incapaz de acreditar que a pouco aquele mesmo anjo tenha saído de seu corpo.
Estavam fugindo dos pais dela que não aceitaram aquela situação, uma gravidez inconcebível - um ultraje familiar. Dali observavam os limites do horizonte, certos de sua decisão. A fuga agora era o resultado de suas vidas e a criança a prova viva daquele amor. O raso rio que corta o vale seria em breve o lar de sua choupana enamorada. Os jovens apaixonados haviam encontrado a sua terra prometida.

Pequenos Contos Modernos - I

¬.o Ateu & Deus
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Certo dia o ateu chegou a casa, cansado da correria de sua rotina infeliz [trabalho, família e outros ambientes sociais saturados], e decidiu utilizar dos métodos religiosos que seus conhecidos faziam uso na busca de respostas que solucionassem os problemas. Pôs-se de joelho ao lado da cama e fechou os olhos.
Naquele instante viu-se em uma locação imaginada do nirvana, algo como uma planície nas nuvens, então do nada um grande senhor barbudo, parecendo um vovô grego, se colocou a sua frente. Aquele homem falou com sua voz radiofônica, questionando o motivo da visita inusitada. Então o ateu respondeu:
- Minha vida anda em parafuso. Preciso de um olhar divino e palavras que me coloquem no rumo certo para a felicidade.
Então Deus, iluminado de graça, pôs-se a declamar versos que acalmavam aquele coração. Falou do comportamento otimista, da aceitação dos limites pessoais, da ausência do desejado como promovedor da busca, e de demais coisas genéricas que nos facilitam a aceitação do mundo como é.
Após ouvir tudo com os olhos fechados, ele vagarosamente iniciou um processo de analise do interlocutor. Olhava profundamente nos olhos de Deus. Aos poucos ficou de pé, virou-se e caminhou por sobre as nuvens. Antes de se afastar o bastante para despertar, olhou para aquela visão e bradou:
- Valeu vovô! Obrigado por nada.
Acordou só no seu quarto, ouvindo as reclamações de sua mulher na cozinha e pensando em como os políticos, heróis e deuses são tão genéricos em seus discursos. E se vendo no espelho foi ainda mais espetacular evidenciar o seu super-poder humano, a capacidade de criar algo que apenas alivie seus transtornos. Ele que nunca acreditou conseguiu criar uma imagem tão bem definida daquela figura, parecia até um curta-metragem, puro entretenimento.
O Deus que via seu criador se afastando aos poucos foi se dissolvendo como um quebra-cabeça que perde as peças lentamente, até que enfim sumiu, experimentando do seu apocalipse.

1 de maio de 2009

Corpo & Mente

Diz um velho ditado que uma mente sã é um corpo são. Nada mais real do que essas palavras para reafirmar a constante implosão do comportamento humano como um universo individual de sensações. Aos seres, em geral, é necessário um conjunto de dados biológicos harmonizados para que se mantenha a condição de vida. Quanto ao ser humano, por conhecermos somente o nosso real funcionamento cerebral (sobre os demais animais podemos apenas supor), de nada vale um físico perfeito se a capacidade encefálica não funcionar.
As pessoas necessitam acreditar na valorização da vida para que esta seja preservada, não somente a outra como também a sua. São raros os casos de suícidio na natureza selvagem. O homem por forças desconhecidas do seu inconsciente usa de sua condição auto-destrutiva para realizar esta atividade tão nobre e egoísta, afim de uma afirmação nunca conhecida, já que não temos a possibilidade de avaliar as consequências de nossa morte por motivos óbvios. Assim, após este ato impulsivo, cabe a sociedade criar seus pensamentos a respeito e julgar a atitude.
Nesse contexto surgem as especulações e idealizações que se tornam costumes de um povo. Costumes que se representam em cultos (religiões), estabelecendo a cultura de uma dada civilização. O ser humano não vive em um mundo solitário, frio e desacreditado. É necessário um alimento abstrato que o conduza rumo a uma ilusão viável, estimulando sua sobrevivência e reprodução, afim de perpetuar a espécie.
A busca incessante pela felicidade é uma demonstração clara da fome que nossa massa cinzenta sente, e que se expressa em diversas formas de comportamento. A criação de deuses, de idealismos amorosos e utopias político-sociais, são exemplos clássicos desta necessidade. A alegria se apresenta na realização destes anseios abstratos que tem características pessoais. Cada ser possuí suas próprias ausências e seus alimentos transcendentes. A falta de componentes que provoquem a alegria anulam a liberação de determinadas enzimas provocando um colapso das idéias, gerando outras, tais como as comuns cordas amarradas ao teto, abismos acessíveis ao vôo, lâminas em pulsos, entre outros.
Então como apenas determinada minoria tem consciência de tamanha fraqueza humana, e ainda menor são os que convivem satisfatoriamente bem com isso, é relativamente potencial a capacidade de extermínio de boa parte da população mundial apenas afrontando suas convicções.
Assassinar deuses, destruir sonhos; A arma de destruição em massa mais poderosa que existe no mundo é revelar a verdade.