31 de dezembro de 2010

Celebrar

A vida é o momento presente. É a visão do momento real, incondicional aos desejos, apenas resultado de ações do passado. Dentro de cada contagem regressiva existe a dor da despedida e a alegria do recomeço. O preço da vida é a sina em que ela mesma se torna. Por mais que seja única e individual, os melhores momentos se referem ao dividir histórias.
Através do meu espaço faço um laço de amizade e cumplicidade, de alegria e indignação, de paradoxos outros possíveis e esquecidos, com cada um que se permite. A graça da vida é esse nosso apetite farto pela nova experiência. Então vivamos todos juntos mais um ano, mais uma década, de mais e mais desventuras nesse nosso espaço de tempo.
Vamos Celebrar!


a todos vocês meus amigos
FELIZ ANO NOVO!

28 de dezembro de 2010

Os corações fraternos

Todo fim de ano se propaga pelo ar um suspiro de bondade humana em todas as direções. Contudo infelizmente apenas poucas pessoas se permitem fazer a diferença. Não acredito em uma crença que alimente apenas a satisfação pessoal, mas sim naquela que acredita sempre no homem e em como ele pode ser melhor.
Aqui no meu pedaço de mundo encontrei duas pessoas que merecem ser louvadas. Não conheço suas vidas, nem conheço suas batalhas diárias, mas sei que nada é fácil pra ninguém. Dentro de seu mundo Dona Cida faz um pouco a cada um que a cerca, filhos, amigos, parceiros da rotina e crianças cujos destinos foram traçados em uma triste realidade. Ali em sua casa elas recebem o carinho daquela senhora que não vai apenas entregar os presentes que Papai Noel mandou, mas sim um colo materno, um zelo mimoso de alguém que acredita num futuro mais belo aos que ficaram sós.
Na mesma cidade em sua luta anual, um rapaz magrelo, de sorriso fácil e comportamento inspirador realiza a fantástica tarefa de alegrar o ano daquelas que não tem nos sonhos as aspirações para a vida. Meninos e meninas de pé no chão, pessoas especiais esquecidas pela sociedade e pais famintos por uma felicidade mais presente em seus calendários. Cristiano é mais uma formiguinha que batalha por um mundo melhor.
São esses os hérois do Natal, assim como tantos outros espalhados pelo mundo. Pessoas simples que veem na alegria daquelas crianças e adultos refletida sua própria alegria. São pessoas que me fazem acreditar que todo ser humano guarda, ainda que muito escondido em seu coração, a bondade.

Cristiano e seus fraternais colaboradores.


27 de dezembro de 2010

palavras imagens & sons

Na livraria de minha vida as histórias sempre foram confusas, estranhamente alegria e dor estavam entrelaçadas. Deixei de ler com medo do que essa não-ficção seria capaz de me oferecer. De repente uma nova narrativa se escreve em minha pele e meu sangue ferve só em imaginar a poesia que virá. Versos e orações me devoram enquanto teu sussurro declama as mais absurdas palavras em meu ouvido. E eu arrependido de não imaginar, me lanço na aventura de compartilhar as paginas desse novo romance.
Parece até um filme desses que fazem com que os olhos não desgrudem da tela. É quase uma aquarela exposta na sala de casa. Uma montagem perfeita do sonho mais feliz que se pode ter.
Cada segundo é uma fotografia de pura beleza e sinceridade. Os olhos presos em direção ao outro absorvem um mundo mais colorido. Colorido que se reflete em minha face, já sem disfarces. Agora de cara limpa o mundo me vê mais vivo.
Sintonizei em uma rádio nova que me deixou fora de órbita. De repente as canções tinham outro sentido, e não era preciso entender o idioma ou sequer ouvir a melodia. A alegria me invadia de maneira absurdamente insensata, essa era uma grata novidade. Meu coração se perdeu nesse turbilhão sonoro que teu jeito menina travessa me apresentou.

Agora minha 'coisa linda', eu sou o samba!

Quero teu bem

Não importa quantos copos quebrem, nem quantos olhares secos provenham de ti. Quero o teu bem! Não me importa se é triste pensar que você me desfez em pequenos gestos de imaturidade ou se a tua intenção tenha sido puramente cruel. O passado é a palavra que ficou num momento distante e hoje parece inaudível. Já não te lembro com meu pesar. Não quero te guardar com o teu pesar, presente meu. A tua dor de agora é também algo passageiro, e faço minha fé pra que passe ligeiro. Que teu sorriso retorne. A verdade que te ofereço é pra saciar teu curioso desejo de flagelamento, pois a verdade antes de tudo é um tormento que desilude a esperança. Mas a lança não fui eu quem projetou, sou pequeno ser vivendo essa história, e não demora novos personagens te aparecerão. A vida é feita de marés e a nossa praia foi varrida por uma ressaca. Agora uma embarcação veio me salvar, estou de cá da minha ilha, e sinto que não demora você haverá de encontra seu rumo.

*"Agora vou lhe dá uma dica:
-O mundo é tão lindo.
...
E o bom da vida é viver bem,
estar bem, querer bem..."


24 de dezembro de 2010

História de Natal

Esta história começa no inicio do século passado. Uma criança que nasce num berço humilde, filho de camponeses já cheios de filhos. Menino que crescendo presencia a morte do pai, a fome da mãe e a pobreza que vai assumindo protagonismo em sua vida. Junto com seus irmãos assiste o definhar calado da mãe no seu leito de miséria e dor. Dor de não ter o que comer e não ter o que oferecer aos seus meninos espalhados ao chão. Chão de uma casa de farinha que presencia o desfazer de uma família. Família que perde o sentido nos rumos distintos que cada um faz em seu destino. Uns morrem, outros somem, mas alguns, incluindo aquele menino, conseguem se reencontrar e construir uma história.
Ele cresceu no labor da vida. Foi homem do campo, colhedor de cacau, ‘cuidador’ de animais; Foi homem do progresso ao abrir estradas, construir igrejas, levantar sobrados; Contudo o que se destacou em sua história foi ser homem de família. Teve seus filhos, criou-os em sua modéstia, nos seus ensinamentos silenciosos, na sua sabedoria interminável freqüentadora da vida e ausente da escola. Fez-se um homem de fartura na mesa, de casa cheia, de sorriso fácil, de alegria evidente na face marcada pela tragédia escondida.
Seus filhos lhe deram netos, seus netos bisnetos. Sua mulher morreu e ele se casou de novo. Criou outra família, fez dos filhos de outros os seus. Viveu sua aposentadoria em momentos de simplicidade serena, com dificuldades preservou-se vivo. Seu coração batia diferente.
Hoje esse velhinho ouviu uma criança pedir comida a uma pobre mãe que não soube o que falar. Hoje é natal. Ele fez seus caminhos, seguiu sua rotina, e encontrou a menina na porta de sua casa. Como quem quer fazer uma surpresa trouxe num pacote embrulhado uma boneca. A menina com fome sapateava na sua frente e o pobre velho não sabia quem estava mais contente. Então emocionado saiu discretamente por conta de um coração fragilizado. O seu coração é maior que o peito.

“Quem pede, pede chorando
Quem dá merece vontade
Coitado de quem pede
Pela sua necessidade.”
Dezin

O natal é todo dia em que a bondade renasce no coração do homem.


minha ceia

minha ceia
palavras, sons e imagens
num show de entretenimento
num espetáculo de consumo
num momento de entrega
num minuto de fraternidade
na ausência do estar só
quando eu cá estou com o mundo
e o mundo me é melhor


Feliz Natal!

23 de dezembro de 2010

pessoas diversas

a saudade que me toma
o carinho com que zelo
o desejo que atropela
a fúria que contenho
...
as almas se somam
se dividem
se mutiplicam
e se subtarem
mas nunca se fracionam.
...
Em dias nos quais as verdades são postas na mesa
tenho a fineza de me apresentar.
Estou pronto pro jogo.

22 de dezembro de 2010

se lembrar de celebrar muito mais...

Era para ser mais uma noite. A lua em seu posto olhando por nós num céu sem estrelas, a brisa fria que aconselha o corpo a encontrar abrigo, os amigos que fazem seus papéis ao encontrar no outro o calor desejado. Mas não era uma noite qualquer.
Um show de música no palco e a plateia clamando Teatro. No ínicio do ato um palhaço um tanto eloquente instiga toda essa gente a se desprender do imposto. Apostando o oposto, sem mostrar o rosto, deixando nessa confusão de vertentes um saboroso gosto de prazer. O prazer da descoberta. As canções, encenações e invenções de um trapézio louco, de duas mulheres belas, e uma trupe aquarela da jovem arte a se expressar bem ali, no meio da praça, da praça do povo que se espalha por ela. Como se fosse o primeiro contato os olhos brilham. Como se fosse uma rotina comum os lábios dançam na melodia efervescente de letras magistrais. A poesia prevalece na certeza de que os homens amam, amam viver o que lhe é permitido, o que ele pode se permitir. A voz se esvai e continuo cantando enquanto respirar.
Se lembrar de celebrar muito...muito mais!
O Teatro Mágico em Vitória da Conquista, 21/12/2010.

20 de dezembro de 2010

...e não deu tempo!

Acorda já cansada do que ainda há por vir. Levanta de sua cama desconfortável, abri a janela pra uma paisagem desinteressante, escova os dentes entediada e condena seu dia a insatisfação. Seus amigos lhe parecem falsos e distantes. Seu corpo dói como se tivesse quebrado pedra o mês inteiro. O ônibus se atrasa, o trânsito congestiona, o sol esquenta o ambiente, a mente explode em mil variedades de palavras chulas para descrever sua sensação. Chega ao trabalho atrasada, seu chefe não percebe, mesmo assim ele já é responsável e alvo de possíveis queixas por seu próprio atraso. O dia caminha e ela insiste em negar a alegria que é possível co-habitar seu espaço. Sobre um traço errado sua assinatura anula o trabalho de toda uma semana, é o fim do mundo, mesmo bastando apenas uma reimpressão. Irritada com as vozes que viajam ao seu redor no caminho de volta pra casa, ela só pensa em limpar a bagunça do seu apartamento. Chega na casa arrumada e encontra defeitos no trabalho da diarista, diz que essa só pode ter problema de vista por não enxergar a poeira que não existe. Passa um pano fajuto por sobre a mesa de centro, se cansa e desiste de persistir em sua condenação do trabalho alheio. Vai ao banho, parece outra, calada e distante de seu próprio mau humor. Com um copo de café assiste a novela que se repete e reclama do enfadonho roteiro que não se altera independente do título do folhetim. Alguém lhe liga, e ela não atende. Pensa em quem pode ser o demente que quer atrapalhar seu momento de lazer. Vinte minutos depois acorda de um cochilo , desliga a tevê, ruma ao quarto.
Três dias depois é encontrada morta no leito, aparentemente vítima de causas naturais.
...
Esqueceu de viver o que o dia lhe propôs.
Agora não há mais tempo.


19 de dezembro de 2010

abelha operária

A personagem a quem escrevo tem no seu enredo uma história bem comum. Ela é uma operária da colmeia onde vive. Busca pólen nos jardins de sua extensa varanda, brinca de ciranda e constrói o seu espaço. É uma menina e uma mulher, e tudo que possa ser no intervalo dessas fases.
A beleza de sua história está nos detalhes de sua sina. Não nasceu rainha por detalhe do destino, mas eu, pobre menino, vim disposto a coroá-la. A realeza de sua imagem adorna o meu encantamento e sobre esse firmamento quero me instalar. Ela me mostrou um mundo onde já não há barreiras para ser o que eu sonho.
Hoje o enfadonho perfeito conto de fadas que esperava acontecer, é apenas uma lembrança inocente do amor. A vida é ficção fantástica que se escreve em cada novo minuto, e hoje um eu adulto está disposto a se arriscar.
Já não quero a Cinderela, quero a magrela que lhe vendeu os sapatos.

17 de dezembro de 2010

#vergonhadobrasil

Nos últimos dias acompanhando os noticiários nacionais me dei conta do tamanho da ignorância de um povo. Chegando em mais uma reta de comemorações natalinas uma corja de sangue-sugas aproveita o clima de abestamento natalino para usurpar dos bolsos brasileiros indiferentes a realidade. Mas o que tem isso demais, se já se tornou um comportamento comum?
Meus amigos que país é esse que corta gastos da educação, da saúde e da segurança pública por conta de um orçamento apertado e ao mesmo tempo se compromete com um aumento acima dos 60% nos salários de indivíduos que só denigrem a imagem de um povo. Interessante é que se multiplicarmos apenas os futuros salários pelo numero de favorecidos teremos um montante acima dos 16,5 milhões mensais. Dinheiro de troco pra esses que não suam para conseguir sobreviver. Enquanto isso o trabalhador se mantém com 510 reais e ainda tem que bancar através dos impostos essa esbornia governamental.
Mas não me assusta o aumento dos deputados federais, senadores, presidente e vice e ministros. Muito menos assustador é o efeito cascata que vai se disseminar pelas assembleias legislativas e governos estaduais, câmaras municipais e prefeituras. Não me assusta políticos roubando do povo. Me assusta esse silencio que vela a própria ignorância de uma população.
Viva ao sistema pão e circo que blinda um governo populista! Viva a satisfação do lesado que se espalha pelos rincões do Brasil! Viva a estupidez de 190 milhões de brasileiros!
.........
Alguém por favor avise ao Exército, ao bope e as forças policiais no Complexo do Alemão e demais favelas cariocas, que o cerco deve ser fechado em Brasília. A possibilidade de encontrar malandro, vagabundo e ladrão lá é de quase 100%.
.........
#vergonhadobrasil

14 de dezembro de 2010

13 de dezembro de 2010

o corpo no rio

Imerso vai um corpo pelo leito do rio de águas barrentas. Sem passado que presencie sua última rota vaga aquele pedaço de carne em putrefacção navega em direção ao seu leito de morte. O porto da pobre sem sorte é uma margem invadida pela vegetação. Os homens apreciam distantes o espetáculo de sua degeneração. Ao longo da ponte que a emoldura a felicidade obscura de quem assiste o ato infeliz de seu destino a se realizar.
Homens outros também sem sentimento cumprem seu dever em troca do alimento de cada dia. Analisam sua forma deturpada pelo liquido, avaliam as possíveis causas de sua história e desdenham da fatalidade ocorrida. É a vida. Todos se aproveitam de alguma forma do receptáculo abandonado.
Ao lado o espectro que outrora habitava o ser humano ali jogado, sente o peso de seu fado. É testemunha de sua própria morte. De inicio acredita ser um trote divino, uma brincadeira infernal, mas a loucura perde para a lucidez, e aos poucos a sensatez faz a cena perder a graça. Ela chora, olha, disfarça,...
Mas a vida segue e a morte ainda guarda seus mistérios.


12 de dezembro de 2010

Catarina da Suécia

A santa que espanta minhas preces em sua aparição
é uma mulher palpável.
Encontrei-a na esquina de minha vida.
Tinha no rosto a face da alegria
e a simpatia exuberante da pureza.
Sua beleza estampada num álbum virtual
me inundava de esperança no amor.
Eu fechei os olhos
e a oração foi suprimida
pelo som de um coração que não mais cabia em mim.
Ela me apresentou o céu.

11 de dezembro de 2010

O sorriso da menina

O dia se desdobra em uma sequência rotineira de ações. Vou e volto pela rua de paralelos distintos. Ao longo da distante rua que me absorve matinalmente, conheço gente por diversas razões. Algumas me encantam em suas singularidades, não as esqueço, outras se vão como os segundos que se perdem no contador do tempo.
Existe no meu caminho um sorriso, às vezes ingênuo, outras impreciso, de uma menina que me provoca em seu olhar. A sua feição juvenil de quem na vida quer se embriagar é algo que me torna espectador. Talvez no seu passado guarde a lembrança de outros mundos, outros seres. Talvez guarde no peito uma saudade gigante do que viveu antes, mas nada comparado a falta que ela faz nesses mesmos lugares. Talvez num cantinho na Minas imaginária da alegria haja ainda uma casinha na árvore que a espere ansiosamente.
Aqui, na rua em que caminho ela é o ponto em que me perco. No seu jeito quase sem jeito, me deleito numa pulsação que me renova. Uma fonte da juventude me encharca toda vez que a encontro. Não me sinto pronto para seu olhar, mas não me permito perder a chance de iluminar o dia. Hoje essa menina me faz companhia o dia todo. Já não sai da minha cabeça.

6 de dezembro de 2010

madrugada

foto by Guh Drade

esse sorriso que faz nascer o dia
me abraça tímido
em companhia.
...
notas dessas noites em que não durmo


Coisas do céu

Ao acordar a mente produz uma ideia que causa incomodo ao ser pensante. Diante do mundo que o circunda a inexatidão de sua expressão assusta e isola a possibilidade de encanto alheio. No seio do que foi acordado socialmente ele é apenas um ininteligente que sobrevive em suas vãs criações sem nexo. Ali em sua tolice incompreendida ele cria projetos que confrontam a lógica do ar, que explica a gravidade, que possibilita o uso da energia elétrica, que inverte o senso da beleza, que contrapõe qualquer certeza estabelecida. Ao mesmo tempo é possível que esse gênio tenha dificuldades com palavras e letras. É possível que o simples seja difícil para quem está predestinado ao que seja único. Um paradoxo visual é afirmado na observação da vida: a genialidade é simples & a simplicidade é genial.
.
___________________________________
.
Ao assistir a obra de Aamir Khan, "Como Estrelas na Terra - toda criança é especial" (Taare Zameen Par - Every Child is Special),  me senti alimentado na ideia fixa que tem me acompanhado neste último ano e meio, a importância da fomentação de uma infância mágica. Na rotina de meu pequeno tenho cada dia me encontrado mais com um passado fascinante de mundos imaginários e personagens fantásticos que criava na busca de me permitir a alegria.

 

2 de dezembro de 2010

Life, Love and the HIV

Ele músico, ela louca, ele tímido, ela solta, ele homem, ela uma mulher de encanto mágico. Diante do trágico o espelho reflete a história de um casal imaginário. A vida é o acolchoado de retalho que os cobre em noites de frio. São dois mundos diferentes que se somam na angústia de alimentar a ausência que um sentimento tão puro é o único capaz de preencher.
Depois de anos na busca o caminho os reuniu numa mesma sala-quarto-cozinha, prontos para dividir os momentos de uma vida familiar. Na mesa ao jantar descobrem as rotinas e antecipam os desejos. Antes da cama os beijos e depois a sedução do amor carnal. Pelas ruas as mãos dadas exibindo o compromisso é o símbolo do enlace que a sociedade deve compreender.
No peito bate um coração incorrupitivel, imutável em sua capacidade de sentir e viver a realidade de que a vida é o prosseguir de cada instante, e diante das adversidades é a coragem de se manter firme na certeza de que o sonho é um passo possível. Eles amam e querem se sentir amados. Eles lutam e querem conquistar seus espaços. Eles vivem, e isso por si só já basta.

"Ser positivo quando se é positivo.
E não ser negativo quando se é negativo."


.
*Inspirado no documentário Me, Myself & HIV exibido pela MTV.


30 de novembro de 2010

Olhos abertos no escuro

É noite e você vagueia inconsciente de seus passos. Algo o inundou de pensamentos tolos que enfraquecem a sua segurança. Na dança dos ventos noturnos tudo parece suspeito. No peito um coração acelerado vai aumentando a sua capacidade absurda de batimentos. O mundo vai escurecendo como num obscuro buraco oco que suga qualquer possibilidade de raciocinar logicamente o que lhe cerca. Agora o irreal é plausivel e insastifatoriamente possivel, e pior, parece proximo. Qualquer barulho - um voo de mosquito, um estalar de gravetos, um uivar da brisa - alimenta o assassino instinto de perigo que te cerca. Você esta encurralado pela sua imaginação. Os mitos ganham vida, os filmes se tornam lembranças e o homem-você é um menino acuado. Aquele demônio que te existe se esconde, e você está incapaz de se defender. Clama por Deus, que continua calado. Chora em silencio, treme em segredo, e sofre da quimera sem cura, o...


Medo- fotomontagem de Fr. Dhael


Do lado de fora da casa a vida continua intacta.

RocKinRiO.2011





Snow Patrol, Red Hot Chilli Peppers, Metallica, COLDPLAY e muitos outros.

!!!

26 de novembro de 2010

¬Trincheira urbana.

Um tiro disparam do alto do morro;
outro explode no pé da ladeira.

Evaristo Sá/AFP
.

Estavamos em guerra.
Começamos a lutar.

,
*"No serviço de auto-falante
...
Amanhã vai fazer alvoroço
Alertando a favela inteira "
que haja paz


*'zé do caroço', de Seu Jorge.

20 de novembro de 2010

...rei de mim...

Não sei de onde vem, mas é pura magia.
Era mais de meio-dia, a tarde já se espalhava e o sol me ardia os olhos, o suor me enojava o corpo, eu já parecia mais um morto a esperar o ônibus. Ali começava o meu seguir, a rotina fora do trabalho, a vida livre das doutrinas. O transporte chegou, me levou e no meio do caminho quebrou. Sai ao sol e esperei um outro. O outro veio e eu fui, e cheguei aonde queria. Estava em casa e me parecia que tinha sido a melhor das minhas viagens. Teria eu viajado mais do que o comum, viajado na minha insólita imaginação de como podem ser maravilhosos os momentos descompromissados que me permito ter. Talvez o pragmatismo das coisas impeçam meus olhos de observar as minúcias agradáveis do cotidiano.
Hoje eu perdi alguns minutos a mais esperando pra chegar em casa, o carro quebrou, o sol me queimou, e a tarde me consumiu sozinho. Mas a água do chuveiro estava na temperatura exata e a musica mulata de Seu Jorge batia num ritmo que harmonizava o peito, e um sorriso fresco me preenchia o rosto. Eu devia estar sentido o oposto, mas era a alegria de mais um dia bom pra se viver.
...
*Ainda não sei de onde vem a calma daquele cara,
mas posso me coroar rei de mim.

15 de novembro de 2010

Fim da história...

Foram anos numa historia que se perdeu no sentido de olhares secos, sem tato. Sem teto, um sentimento de mendigar carícias e companhia. Dois mundos que se repeliam a cada novo passo. Sons distintos; os glóbulos pulsavam em compasso fora do ritmo outro. Sair do que se havia habituado se apresentava como a maior de todas as batalhas. Criou-se entre e envolta deles um muro que os prendia como numa cela, que já não os merecia.
Os corações acostumados com o som daquele que já não era afeto, de fato soavam de maneira estranha. Pensar outro olhar, outro sorrir, e até mesmo o peito acelerar a um olhar cruzado, num gesto tímido, num passar por portas, tudo isso que um dia pareceu normal, era inaceitável. O desejo tornou-se uma ideia alienígena aos olhos cansados de alguém que agora transava como um trabalhador cumprindo o horário. Ele dormia no sofá como se a suite presidencial lhe tivesse oferecido. Na cama dormia a dama do passado que se esqueceu de partir. Era nojento perceber que por culpa dele mesmo foi possível criar um presente repressor ao seu sentimento de vida.
Abria a boca em frente ao espelho toda manhã como se quisesse engolir sua obra-mundo, ou se partir e em parte sumir daquilo que se fez. A lua que no inicio do romance em questão era alucinógeno combustível, tornou-se figurante de um drama desmedido e sem brilho. A noite era um momento de atuação e sono. Talvez as madrugadas lhe fossem o melhor momento do dia, já que no sonho era incontrolável seu desejo; ali ele fugia.
Mas o amanhecer o acordava incessante e impiedosamente para a realidade. A dor sobrevivia do respeito aos anos dourados de antes, da glória pintada na caverna de um tórax empobrecido. Penumbrava na ânsia de seu fim, já que não se permitia acreditar em um fim aos dois. Sentia-se siamês de um inimigo ao qual não podia simplesmente eliminar, enquanto ela também sofria a sua dor.Talvez também ela se sentisse refém de sua aventura juvenil, de sua luxuria romântica que agora se tornara angustia e depressão.
O espaço se retraia mais e mais, e onde antes havia flores, bombons, desejos, vontades e a infinidade passional de sentimentos hoje já não comportava mais que dois silêncios. Eles ardiam no frio seco de suas amarguras, corações atrofiados sem vislumbre de expectativas novas. Morriam em sua inércia. Chovia lâminas e os corpos não tinham sangue a oferecer.
...
Por destino ouviram a mesma canção, assistiram ao mesmo filme, dividiram o mesmo gosto pela liberdade. Escreveram em seus olhos a sentença do querer. O muro caiu. Agora os olhos se perdem no encontro, o corpo toma seu lado, rumos diferentes. Hesitam.
É preciso seguir, ele sabe. Acaba de começar uma nova história.




.
Baseado em um história hipotética.
Inspirado pelo filme "500 dias com ela" e também
pela canção "la trama y el desenlace" de Jorge Drexler.

14 de novembro de 2010

13 de novembro de 2010

amando a Trama

Lembro do seu segredo silencioso que só teus olhos me revelavam. Eu, teu descobridor, e... quem te perdeu. Seguir o que o vento me traz é reviver a lembrança do teu perfume em meu respirar e o passar  do tempo que desgastava o coração que já era teu sem o meu conhecimento. Estava perdido em meus minuciosos problemas que agora se foram na amnésia do antes de ti. Meu mundo nasceu quando eu imaginava-me vivo. Um salto em teus braços revivo naquilo que sempre pude e não fiz, agora é lembrança inexistente que invento para me sentir um homem melhor.
Éramos nós e a cama, nós e a praça, nós e as flores, e nunca uma soma bem realizada, e nunca um produto das parcelas. Viajo nos dias de minha desilusão sabendo de minha cegueira, da inutilidade das lentes que carrego sobre o nariz. Nos outdoors da estrada se vende de tudo e nada me preenche como o teu sorriso que ilumina o avesso de minha pálpebra. Somente na noites vazias é que me sinto feliz, por te ter de volta na rota da minha canção, no rumo do meu inventar, sem pensar em despertar pro que sou agora. Agora sou apenas um homem, um homem sem você.

só - GuhAndrade
Os dias calidosamente irão me fazer sucumbir ao que restei, mas a saudade do tempo antes, da vida pura, do gesto simples e de tudo que impresso em minha pele é registro seu, me permitem o desfrutar de uma paixão que eu não soube viver.
Na amargura da rotina os sonhos adoçam o meu caminhar. É no acaso que talvez os nossos passos se encontrem num momento mais feliz do destino e eu possa me permitir o desejo [dar e ter].


"Amar la trama más que al desenlace"


.





*escrito ao som de 'La trama y el desenlace' de Jorge Drexler.

10 de novembro de 2010

Coisas da rotina

Vivendo aqui na esquina do fim do mundo, invariavelmente me encronto vago nas lacunas ociosas de minha rotina. Nos últimos dias estive meio ausente deste blog por conta da manutenção de velhos hábitos. Segue então uma lista de coisas que me ocuparam e que eu sugiro aos mais diversos (ainda que poucos) leitores.

Livros
Técnicas de masturbação entre Batman e Robin
O sobrinho do mago - As Crônicas de Nárnia
O clube dos anjos
Marley e Eu

Séries

Além das series baixadas e dos livros amontoados, uns filmes medianos e um joguinho viciante no celular tem tomado meu tempo extra. Isso, é claro, quando meu pequeno prioridade máxima me dá uma folga.
Vivendo entre os bizarros personagens de terror, os gangsters do século passado, assassinos em série, seres fantásticos e famílias comuns, percebo ainda mais forte a presença constante em minha necessidade de viver de figuras estranhas e ausentes [como vocês].
Na tv e nos livros a vida é tão mais fácil...

5 de novembro de 2010

Algumas Palavras

Já li diversos livros, nos mais variados estilos de escrita, das mais variadas nacionalidades. Alguns autores me fizeram pensar no mundo, outros me fizeram perder tempo. De fato o que me marcar nas histórias é necessariamente a capacidade de mutação das reações ao leitor que se permite encontrá-las. Cada um ver o verso ao seu modo. Quintana quando brinca em seus versos poéticos fala tão sério quanto Machado quando enlouquece a natureza humana. Efraim e sua marginalidade é tão interessante quanto Zusak e sua imaginação sentimental, mesmo que ambos falem das mesmas relações de maneiras tão distintas. Agora que acabei o meu Veríssimo e continuo com o Lewis, me vejo inundado com palavras que mexem e preenchem minha rotina, meu pensamento e minha sensibilidade ao mundo. Estou acostumado com as palavras, elas me dão sentido, me permitem sentir histórias outras que também são minhas.
...
Eu só nunca estive preparado para desvendar as palavras aleatórias que você descartou naquela bolinha de papel no cesto de lixo.
.
.
.
*Depois de ler o in-opus e acordar pro que era vísivel.

no Tabuleiro Social

Ao acordar me vejo no reflexo do espelho e imagino quem me olha de lá. Dentro do ambiente fechado do banheiro começo a analisar quantos contatos indiretos fazem parte da minha vida, quantas pessoas desconhecidas produziram peças de acomodação para o meu dia.
O cara da fabrica de torneira, o da empresa de cerâmicas, de tintas, o cara do creme de barbear e o da escova, todos eles interferem na minha rotina. Eles produzem ações que me promovem facilidades. Mas ainda assim não me conhecem. Eu também não os conheço. Mas sei que a interferência tem um preço e eu também devo pagar. Em algum lugar alguém se reconforta com o resultado que eu produzo. Todos temos papeis a realizar no nosso ambiente micro, que por vezes reverberam no macro. Isso é um jogo interminável de ligações discretas entre os participantes.
Agora que terminei minha higiene bucal, é hora de fazer a minha parte.
.
A sociedade é um organismo de imperceptíveis relações.

20 de outubro de 2010

19 de outubro de 2010

O Diabo do Homem

um romance hipotético a respeito do pensamento humano
_________________________________________
.I.


Há milênios atrás em uma determinada região desconhecida do mundo surgiu uma aldeia onde os homens viviam das ações primitivas como a caça. Todos os aldeões eram igualmente responsáveis pela manutenção da rotina e pelo progresso que se instalava em seus modos de vida.
Percebendo da capacidade de produzir, o homem resolveu utilizar do seu conhecimento sobre a natureza para interferir nos ciclos dos vegetais, assim surgiu o ato de cultivar. Essa atitude provocou a observação e interesse nos outros grupos que percebiam a mudança no comportamento daqueles humanos que agora já não viviam reféns das estações, e estavam promovendo uma mudança no ambiente onde se encontravam instalado.
A necessidade de fortalecimento do homem se deu através da união dos interesses. Os seres daquele grupo já não eram nômades e o seu comportamento para com os mesmo de outros grupos também não era hostil. Aos poucos, baseados na coletividade das atividades foram se formando novos grupamentos em torno das primeiras casas. O que antes parecia uma vila familiar passou a incorporar outros homens que habitavam a região de maneira isolada, e isso foi alimentando a rotina local com outros costumes, contudo a busca pela sobrevivência coletiva ainda era o principal objetivo.
Enquanto aprendiam a controlar os ciclos das plantações adequadamente os aldeões perceberam que também era possível fazer uso dos animais de maneira consciente. Passaram a criar animais pequenos que serviam de comida, e depois animais maiores para as ações do cultivo e outras atividades.
A sociedade se formava de maneira promissora, até que começaram a surgir os primeiros conflitos de convivência. Um dos motivos para o problema se deu justamente no momento em que os homens não tiveram mais que se deslocar para caçar. Agora que estavam todos ali no mesmo ambiente, e que já não eram parte de uma mesma família, não se conseguia chegar num consenso em quais atividades cada homem assumiria como de sua responsabilidade. Ninguém se sujeitava a realizar ações menores, pois isso acarretaria em um desrespeito social.
Como não havia hierarquia familiar não existia um comando natural, e não fazia parte do ideal de sobrevivência o desapego ao egoísmo, os homens daquele novo grupo, resultado das uniões de progresso, não se permitiam assumir papel inferior nas ações da rotina.
Desse modo cada homem tomou pra si a idéia de realizar por conta própria às ações que acreditavam ser de sua competência. Isso provocou uma desestruturação da sociedade. Todos cultivavam o mesmo alimento, todos criavam os mesmo animais, e todos realizavam as mesmas ações na aldeia. Agora cada um vivia a vida pra si, e o grupo era apenas uma questão de geografia em meio à selva que a cercava.
Veio a primavera, o verão, o outono e no inverno tudo que havia se construído naquele pequeno espaço do globo se desfazia feito espuma no mar. Os homens solos rejeitaram o pensamento coletivo. Nada parecia capaz de uni-los novamente até que em uma noite de frio e neblina algo de muito estranho aconteceu.

.II.

Na noite da loucura, ouviam-se gritos e sussurros pelas frestas das portas. Pela janela era possível ver sombras passearem pelo campo em torno do vilarejo
Um aldeão de certa idade, membro de uma das casas mais simples da aldeia trouxe a mensagem que os membros precisavam escutar. Naquela noite um ser das profundezas da alma terrestre havia se irritado com tamanha fraqueza humana e resolveu eliminar os irmãos que estivessem em desacordo com os princípios. Esse ser inominável tinha uma missão de ceifador dos males humanos. Levava consigo os que não habitavam os preceitos condizentes com os interesses sociais.
A partir daquele momento havia o que se temer. O homem já não era único dominador da natureza. Naquele momento era integrante da gama de seres já dominados por ele. Um ser desconhecido e abominável tinha poder superior, e temer era única maneira de continuar habitando o meio. Através do medo foi possível conter o ímpeto.
A ordem se restaurou, e o ar de medo enchia o peito daquela aldeia. Ninguém mais se sentia capaz de questionar as determinações que agora eram interpretadas pelo mensageiro. Um homem comum aos demais não fosse o fato de ser o interlocutor entre a fera e os aldeões. Mas a força da mensagem que trazia criava uma áurea de temor e receio em torno de si e dos seus.
A sociedade prosperava sem equilíbrio. Aos poucos o muito, e aos muitos, pouco. Assim aqueles ao lado do mensageiro se postaram no alto da pirâmide do poder social. Nascia o extremo das classes e aflorava a essência do comportamento egoísta absoluto que reinou por tempos no seio humano.
A miséria se expandiu pelos cantos do vilarejo, enquanto os cálices de ouro tilintavam ao brinde do ancião mensageiro e seus descendentes. Criou-se um reinado de pavor que por tempos se exibia concreto.
Deu-se a existência do assombramento pacificante, agora eram reféns de uma mal possível e invisível. Não se pode subestimar o inimigo natural pelo simples fato de não conhecê-lo. Todos se postavam diante da besta julgadora.

.III.

Com o passar do tempo o regime do medo foi ganhando resistência, os outros aldeãos observando a desigualdade promovida pela fera, ou pelo temor humano, começaram a questionar a sua existência e principalmente o seu poder. A sociedade respeitava o mensageiro, mas não se unia a seus ideais. A massa não se permitia ir contra, contudo também não se associava ao governo da temeridade.
Vendo desse espaço abandonado pelo mensageiro e seu grupo bestial, um aldeão utilizando de sua astúcia promovia versos a outra entidade, que ao invés de julgar e condenar as ações dos aldeãos, promovia as bonança no seio do povo.
Então de repente o que era natural, passou a ser celestial. A chuva, o sol, a prosperidade e todas as demais situações de felicidade do individuo provinha de um ser superior ao homem e também a fera que perseguia a população.
Desse modo aos poucos a sociedade começou a rachar. A aldeia se dividiu entre os temerosos da fera, comandados pelo mensageiro, e os abençoados pelo celeste, comandados pelo representante. Ambos acusavam o outro de ilusão e desrespeito. Ambos ofereciam um caminho certo a seguir.
Contudo apenas um manteve seu posto e a o outro teve que assistir o desfacelamento de sua história. Venceu a batalha o que ofereceu conforto. O ser celeste agora era supremo, e acreditava-se que a paz reinaria naquelas terras.
Os homens embriagados com a certeza de que alguém proveria suas necessidades comemoravam a vitória dos céus, e esqueceram-se dos seus afazeres. As estações foram se sucedendo e agora toda aquela euforia se dissipando silenciosamente. Esperando que o deus bom fosse enviar o suprimento para as mazelas os aldeões se mantiveram estáticos perante a natureza, e as plantações fracassaram, e os animais se foram. A fé estava abalada, até mesmo para o representante que descobriu que sem o medo o homem não se sente devedor, e com isso não aproveitou dos benefícios de líder que haviam surgido ao mensageiro.
Dado o caos da preguiça e esperança, o representante do céu requereu a presença do mensageiro da fera, afim de um acordo. Dias depois a nova doutrina social previa que quem não se permitisse seguir os fiéis comandos do senhor celeste, haveria de pagar nas profundezas com a fera tamanho erro. O medo fora ressuscitado, e a esperança mantida.
Contudo não seria suficiente para organizar e conter a massa. Viver era uma arte que todos já haviam aprendido, e na vida o maior temor era morrer, porém morrer era o natural fim da passagem. Os homens estavam habituados com a idéia da morte. Mas não com a idéia que haveria uma recompensa ou um castigo depois dela.
A insegurança diante do receio de seu destino passou a ser o principal motivo da associação popular com o credo instaurado. A sociedade se equilibrou, os homens passaram a cumprir com seus deveres naturais e com os deveres criados pelos representantes do credo.
Agora todo aldeão devia ao desconhecido ser celeste, algo tão desconhecido quanto mesmo, a sua alma. O poder abstrato passou a reinar. E os seus interlocutores mantinham o poder de modo sustentável e seguro.

.IV.

Porém uma desgraça começou a se alojar na mente do homem. Está malévola contaminação se proliferou por várias mentes e promoveu diversas ações distintas.
O conhecimento se alastrou pelas ruas da aldeia, que se transformou em vila e progrediu a cidade. O progresso, fruto do conhecimento, permitiu que novas figuras humanas oferecessem também sua idéia ilusória de salvação. Novos deuses surgiram, para combater novos males. E o deus de um não podia conviver com o deus do outro.
Os embates foram tomando proporção e força até que o combate se tornou inevitável. A guerra se fez, e os inventos do conhecimento alimentaram a sede de sangue dos deuses humanos.
O homem se destruiu. A sociedade se desfez. Os deuses e feras retornaram a caixa de pandora da inexistência. Tudo era lembrança do apocalipse humano. A cidade se tornou pó.

.V.

Existe nos arredores das ruínas apenas uma choupana onde uma família se mantém. As crianças brincam entre as plantações, os animais soltos vagueiam pelo gramado, a mulher cuida dos afazeres e eu lhes escrevo nossa história.
Aqui em nosso éden particular foi preciso aprender a ser só no coletivo e vivo na união. Não tememos nada que não seja natural, nem tão pouco devemos a ninguém, pois o que temos é resultado de nossas ações.
As regalias que a vida nos oferece são desfrutadas de maneira intensa já que é previsível a efemeridade das coisas. As batalhas que enfrentamos são na esperança de continuarmos mais dias em comunhão. Somos um pequeno grupo de sobreviventes que se permitem apenas a certeza do presente.
Contudo não aniquilamos a fera ou o ser celeste, ambos mantemos vivos o bem e o mal, porém aprisionados em nosso interior. A verdade é singular e o respeito é à base de sustentação de minha família. Cada um cria o seu caminho. Não nos limitamos. O paraíso é coexistir na beleza da vida.

16 de outubro de 2010

Visões do 2º Turno

Dia 31 ocorrerá o fim das eleições 2010. Aqui só iremos optar pelo presidente, todos os demais cargos já foram ocupados (bem ou mal). Diante disto farei uma breve analise a partir de minha sutil miopia política.
Eis os dados deste embate:


         Azul X Vermelho
Homem X Mulher
      Sul/Sudeste X Norte/Nordeste

Aparentemente as diferenças se limitam a este fatores. Nos demais, ambos os candidatos compartilham de situações parecidas. Seja no quesito beleza, ou a falta da mesma; Seja na questão da inexistência de projetos para um governo futuro; Seja na confiabilidade vaga que os mesmo apresentam aos menos crédulos e mais observantes do Estado.
Se depois de 16 anos corridos um fez o esgoto e o outro pavimentou a rua, eles não fizeram mais do que a obrigação. Tenho comigo apenas a certeza de que a mesma não será arborizada!INFELIZMENTE
.
.
.
Obs: Nas propagandas tem se visto cada vez menos projetos e cada vez mais acusações. O que me leva a pensar que no Brasil se abdicou de eleger o melhor programa de governo, se elege aquele que promete ser menos corrupto. 

14 de outubro de 2010

A dimensão do homem

As vezes me espanto olhando o mundo. Tem horas em que tudo me parece tão pequeno, enquanto em outras horas o pequeno sou eu. A dimensão do que penso delimita a dimensão do que sou. Isso cria um paradoxo interessante e angustiante da vida: quando penso grande me vejo pequeno, e quando do contrário é o contrário e pronto.
As vezes meu olhar panorâmico me deixa em pânico ao ver o quão importante as pessoas pensam que são. As vezes eu sou uma dessas pessoas, meu mundo é magnifico e o universo se resume na rua onde moro e nas pessoas com quem convivo. Me limito a tal ponto que o mundinho que me cerca serve apenas para me sufocar. As vezes o universo se expande num piscar que torna distante qualquer sonho de compreensão. A minha ambição é saber mais e mais, e isso me diminui enquanto ocupante desse espaço infinito.
O meu grito ecoa no vão das incertezas e imprecisões de minha mente, mas ao menos o demente que vos narra seus dilemas tem a certeza de que seu tamanho é resultado de seu conhecimento [ínfimo].



Sinais de luz - Alvaro Dias


12 de outubro de 2010

Ano III

Em três anos muita coisa aconteceu. Muita coisa mesmo. Não posso aqui relatar uma seleção das coisas mais importantes, pois tudo foi de certa maneira importante. E além disso, esses três anos estão diretamente relatados aqui em todos os textos de maneira objetiva ou não, cada verso traz uma mensagem, uma lição aprendida, um momento guardado na eternidade.
Minha maior felicidade na existência desse canal é a possibilidade de manutenção das relações distantes, assim como a possibilidade que  mesmo me dá de conhecer as mais variadas pessoas dos lugares que parecem inacessíveis do cantinho de onde escrevo. A todos vocês, mais uma vez, muito obrigado pela convivência!
Que venham mais três!!!...

da Infância

Quando eu menos esperava veio a minha alegria. Em pequenas doses de sentimento vi o momento se transmutar no crescimento daquele corpo, daquele eu mirim, que já não lembra tanto o meu jeito, mas que é perfeito em sua singularidade. Do mais, ele é como qualquer outro: brinca, chora, ri e faz pipi, se contorce em careta e faz cocô, faz birra e sai desembestado do lado de quem quiser sair com ele. Parece um gato, tem apego ao lar. Mas o lar dele é no colo da 'mamam', e na loucura do 'papá', e nos carinhos e vontades dos 'dós'.
O tempo vai seguir e ele vai continuar sua metamorfose natural, vai ganhar mais dentes, mais gordura, mais tamanho, e vai exigir cada vez mais atenção. Isso aconteceu comigo e com vocês. Aconteceu e acontece com todo mundo. A gente cresce, mas não desaparece a criança que nos habita. Por mais sóbrio e sério que possamos parecer basta um colo da mãe, uma bronca do pai, para rememorarmos a nossa condição de bebê eterno aos olhos deles. E não se enganem, vocês agirão da mesma maneira. A gente vai crescendo e torcendo pro tempo ir mais lento, para aproveitar mais o que a vida nos oferece, para saborear as minúcias do cotidiano, para ver cada movimento daquele rostinho sorrindo pra nós.
A infância é um parque de diversões efêmero.

10 de outubro de 2010

Je me parfume

Quando da tua boca de sabor de fogo se pronuncia as letras de meu nome me sinto como nunca me imaginaria novamente. É de repente que a gente sente um calor a percorrer o corpo. De tão intenso e inconsciente me sinto um pobre louco entregue em teus desejos, sonho o beijo que me lanço em tua direção e antes do contato  já posso produzir a sensação completa de meus sentidos. Tenho pressa em me fazer feliz e a matriz dos meus sabores são tuas mansas canções ao pé do ouvido. Quero o agora dias e dias à fim, quero tanto esse momento que esqueço das dores presentes, guardo apenas a realização antecipada do enlace. Antes de sair de casa já sei tudo que quero fazer com você, mas é sempre um tanto diferente, e é sempre melhor. 'E cada letra me enlouquece, as minhas noites são brancas e para sempre' como se o extremo do prazer habitasse em mim.
"...
 a l'aire d'un sage
Et ses paroles sont de velours
De sa voix grave
Et de son regard sans détour
Quand il raconte
Quand il invente
..."
Raphaël - Carla Bruni




9 de outubro de 2010

O perfume dela

Era tarde de calor em mais um fim de semana comum, quando ao longe a brisa me trouxe a certeza de uma prazerosa lembrança. Na dança de versos avulsos, o sangue em meu pulso vibrou na alegria de recriar uma imagem, a mais terna  ilusão de que a felicidade estava ali. Daquele dia em diante o ser amante que havia sucumbido aos dias triste que persistem em nos cercar no teatro da vida voltou a se exibir. O meu sorriso meio indeciso berrava gigante aos ventos errantes que se esvaiam de mim. Era a primavera de calor ardente, uma estação de passagem distinta, a sensação de minutos eternos, era eu embriagado de saudades de meu próprio coração. Nesse dia você apareceu...
.
O teu perfume me inunda na iminência de te imaginar.

7 de outubro de 2010

Pequenos Contos Modernos - IV

¬. A Janela d'Além Horizonte
...
Todos os dias lá estava ele a contemplar o cotidiano de sua rua. Ninguém o notava, ninguém o sentia, mas não havia dia, nem tempo que o impedisse de se manter concreto em sua posição. Com o busto sobre o batente de cimento e o olhar turvo atento ao que se movia. Ele estático em sua analise solitária da vida que seguia seus rumos distintos era a marca da paisagem por tantas vezes despercebida.
Mas a vida segue seu próprio caminho independente dos viventes, dentre as linhas únicas existe um emaranhado de dados que nos ligam, que nos uni, mesmo que nós não tenhamos contato. Existe na rua o tato do tempo, que nos toca provocando sensações diferentes sobre a mesma sentença. Pensando nisso um dia ele não se postou sobre o batente. E o presente parecia comum, mas havia algo de errado no percurso. Não havia o vigilante da ordem no caos, não havia a figura singular do homem que vê além daquilo que nos permitimos enxergar. Estávamos inseguros na orfandade do observador.
Passaram-se alguns dias na monotonia da incerteza do que haveria ocorrido. O velho de armações oculares sem lentes não fazia suas aparições corriqueiras, ele parecia um criminoso, um fugitivo de suas obrigações. Os outros moradores seguiam suas rotinas. As crianças brincavam, os adultos trabalhavam, os velhos seguiam seus ócios e não havia ninguém para registrar as performances sociais.
Na sua ausência então coube a cada um observar um pouco mais do que o comum. De repente eu percebi o quanto colorida era aquela rua, quantas novas crianças se espalhavam pelos gramados da praça, como os vizinhos eram pessoas agradáveis e como aquela janela estava vazia sem o olhar que outrora saboreava cada camada de cores que a rotina singela de nossa terra pode nos proporcionar.
Então deu-se o retorno. E curioso como havia ficado, na primeira oportunidade de avistá-lo, fui saber o porque de sua tão demorada ausência. Ele em sua linguagem simples e sabedoria extensa de longos dias vividos me disse:
"- Fui a capital fazer uma cirurgia nos ouvidos. Tava escutando cada vez menos do mundo. E como cego de longa data, é o ouvido que me permite perceber a sua valorosa presença toda manhã rumo aos seus afazeres, e o retorno no fim da tarde para os sorrisos de sua família."
Dei minhas boas vindas e retornei a minha rotina. Dessa vez me permiti perceber como os paralelos da rua são irregulares, como as amedoeiras da praça estão carregadas e como as pessoas podem ser interessantes. Eu segui meu rumo de olhos abertos.

4 de outubro de 2010

Eleições 2010

No fim de mais um pleito eleitoral fica aquela velha sensação de dever cívico, de prosperidade futura, de ufanismo libertário,... [disco arranhado]
Ontem foi mais um domingo de escolhas públicas, que definiram os rumos a serem seguidos nos próximos quatros anos. Se foram escolhas acertadas ninguém pode confirmar até o fim de 2014, contudo ficou evidente a indignação e a ignorância de determinadas camadas da sociedade brasileira. Não tomo partido, mas partindo do pressuposto que os eleitos e mantidos ao segundo turno são a opção da maioria do eleitorado, me pergunto:"- o que pensa o povo brasileiro?"
Reforcei meu pensamento de que aqui não se pensa, se festeja.
Agora é viver para ver as decisões dos nossos governantes, estejamos satisfeitos ou não. Em 2011 iremos assistir a está estreia promissora.
 .
.
Dados relevantes:
*O palhaço Tiririca foi eleito Deputado Federal com mais de 1,35 milhões de votos pelo estado de São Paulo, o que comprova a busca por profissionais para participar do circo político nacional.
* Por diversas seções eleitorais, os mesários e presidentes descobriram que existe um tipo pior de eleitor que o analfabeto, é o analfabeto-bêbado-partidário.
*O Brasil apresentou mais uma vez ao mundo o que tem de melhor em política: um dia de extrema eficiência. E também o que tem de pior: a perspectiva de mais 4 anos de absurdos.
...

"Os políticos e as fraldas devem ser mudados frequentemente e pela mesma razão."  

-eça de queiroz-

2 de outubro de 2010

na Boca da Urna

Ontem à noite em Brasília a democracia assumiu um espaço no Teatro Municipal e soltou o verbo, muitas vezes acompanhados de palavras populares de significados comuns. Entre os palavrões proferidos pelo sempre interessante e sagaz Danilo Gentili ficou exposto situações ironicamente infelizes de nossa rotina política.
Não sei quantos processos ele terá de encarar, mas com certeza a população brasileira agradece pelo deboche.
.

Eu ri muito de minha míseravel situação de cidadão brasileiro.
.
O vídeo na integra está no CQCblog .

1 de outubro de 2010

Lembrando dos meus... [2]

.
...e na tua ausência a saudade me abraça
cada vez mais forte.
.
.
.
sentimento aos amigos que em qualquer canto deste vasto globo em algum momento me fizeram sorrir e me ensinaram a ser um homem melhor.

30 de setembro de 2010

Rumo ao Gliese 581g

Acordei cansado de tudo que me circunda o olhar. Até mesmo o espelho da parede reflete uma impressão falsa daquilo que imagino ser. Durante toda minha vida eu fui e sou mais um entre os mais de 6 bilhões que co-habitam este planeta que não me conhecem. Estou na ânsia da fuga do que me for possível. A realidade como se apresenta não me traz atrativos para querer permanecer nessa civilização que definitivamente não deu certo. O sistema que se mantém não oferece progresso no tempo devido. O homem é apenas produto de uma soma infeliz de ordens desmedidas e desnecessárias, que possibilitam a manutenção insatisfeita das engrenagens deste modelo de sociedade. Quero fugir de minha casta, de minha casa, de meu esconderijo de verão e do círculo de oração de um deus que já abandonou o barco.
Quem sabe lá, num novo mundo eu me encontre, ou encontro um novo que me permita evoluir fluidamente numa serenidade singela de ações não humanas. Quem sabe seja lá um novo Éden a ser desbravado e eu possa passar distante da maçã da ganância, do desrespeito, da mediocridade e de tantas características tipicamente comuns a minha espécie. Talvez seja lá uma pandora, se assim for eu serei um estrangeiro que fará de tudo bem ligeiro para poder me adaptar.
Eu vou partir rumo ao espaço e me partir, pois os despedaços servem para selecionar o que devo levar de mim. Para que haja a mudança eu devo mudar primeiro. E assim me vou em branco para poder construir uma história diferente do que vivi entre essa gente que não soube aproveitar. Esse lugar é especial só pelo fato de não ser aqui. Ele é lá.
...
Talvez amanhã eu acorde diferente.

26 de setembro de 2010

Ah! A democracia...

No próximo final de semana teremos um domingo diferente: sem futebol na TV, sem silêncio nas ruas, e sem a liberdade de permanecer em nossos lares no ócio preguiçoso da rotina dominical. Assim é que se faz a democracia em nosso maravilhoso país. Somos obrigados a votar, exercer o papel do cidadão, elegendo figuras ironicamente (!) selecionadas pelos partidos políticos para governar a nação.
É claro que eles nos dão a opção de deixar o voto em BRANCO, através de um botão especifico para isso, dessa maneira eles preenchem o seu voto distribuindo entre as legendas concorrentes de maneira a validar o pleito. Contudo, é mais difícil o processo de anular o voto. Anular, é bom deixar claro, é diferente de deixar o voto em branco, na anulação você afirma que é contra as opções oferecidas pelos partidos. Se 51% dos eleitores anularem determinada área do pleito (deputado, senador, presidente), o concurso será anulado e os concorrentes que dele faziam parte não poderão participar de um novo pleito que será realizado, obrigando que os partidos observem a exigência popular e nos ofereça candidatos mais dignos (ou menos indignos) de exercer uma função politica. Porém não existe um botão NULO. Para anular o voto é preciso digitar um numero que não corresponde a nenhum partido e CONFIRMAR. A única opção numerica que acredito não corresponder a nenhum partido é o Zero (0). Até porque tem partido de tudo em nossa fauna politica.
Então meus queridos leitores, a par destas informações vamos juntos fazer parte desta grande encenação democrática. Que o Estado seja mais valorizado e que a população entenda sua importância, pois sem povo não há nação. Minha maior desconfiança de que nada vai mudar é que durante toda minha vida tenho visto absurdos que me parecem normais. Isso é porque o governo é o representante do povo, e como já dizia Rui Barbosa:
"O povo tem o governo que merece."
...é...

24 de setembro de 2010

Sen - ti - mento

O amor é um sentimento que não cabe em mim
uma dor sem cabimento que nos faz feliz
um segundo tão efêmero quanto eterno
surge como brisa e se escreve como inverno
é um olhar escondido atrás do vidro que revela tudo
a discreta sensação de que se vive o absurdo
o contraditório do que estranho ao paradoxo do pensamento
é tanta coisa junta, tão maluca a conta
que a soma da beleza com o ardor das incertezas
não pode ser medida em palavra que defina
o que pode ser fortaleza também pode ser ruína
é a desconstrução ao que fui, e a reformulação do que sou
é tão intenso e tão abstrato que perdido não sei pr'onde vou
...é preciso se encontrar.

escrito ao som de
Somebody to Love
Queen

22 de setembro de 2010

a Rebelião de #/:Ҝ∂τﻜμΦ

Poderia ser uma rebelião em qualquer lugar do planeta, porém o personagem exige a especificação correta de sua localização psicológica por conta da racional ‘ficcionalização’ desta história. Em meados do futuro na Área 11 iniciará uma batalha já vencida por sua capacidade ultra-humana de idealizar e pensar o mundo.
Não adiantarão os Knightmare Flames atacarem seus modos operandis em relação à sociedade que o insere. Seus principios são claros e sua coragem é certa. Por mais poderoso que o império possa nos parecer, ainda faltará aos Britanians a genialidade nata do anti-heroi que nos circunda. A beleza de sua animosidade está na silenciosa aliança fraterna com que ele aquece aos seus. Fruto de um destino distante de suas convicções, faz da inversão de lógica uma confirmação de que ainda vale lutar pelo que se sonha.
Sem calvários e sem dinvindade ele costura uma vida de conquistas e afirmações baseadas em cada nova conduta. Crente na capacidade esquecida pelo homem, e desconfiado da inutilidade do mesmo por sua estupidez, faz sua parte na guerra rotineira da elucidação do comportamento e ação individuo/social.
Enquanto eu/Suzaku não consigo compreender toda a sua manifestação, tenho a certeza de que cada gesto é uma tentativa de melhorar os cantos do nosso espaço. O laço que nos uni não poderá ser desatado pela espada da oposição de ideias, assim como essa união serve para manter viva a proliferação incesante de dúvidas. Eu cresço ao vê-lo escrever sua era.
Diante dos olhos que o descreve ele surge como deve ser: um Lelouch que se desconhece, um #/:Ҝ∂τﻜμΦ desconhecido; um Zero obestinado e um Evandro que tem a capacidade de reconstruir um mundo. Sua tamanha sapiência é apenas o resultado de alguém que vive no mundo sem pálpebras.
Meu amigo, você é um estúpido. Mas de uma estupidez fenomenal! 

18 de setembro de 2010

Onírica Insensatez

Estavam aos montes em todas as partes. Em várias camadas, em dimensões de minha mente. Era um universo perfeito das imperfeições que me assumem. Ao lado de homens e mulheres que projeto, criando suas mazelas e incertezas, realçando suas loucuras sociais de equilíbrio estranho. Caminhavam pelos vagos pensamentos que me tenho.
De repente eram outros, e eu de novo no meio daquele povo esquisito. Bradava-me internamente um grito de insatisfação da realidade. Queria dormir. Acordei em outro canto cercado de coisas que queria a muito tempo. O belo se materializou num instante que nem me lembro como essa história começou. Agora forte de minhas convicções eu caminhava sublime, até deparar-me com a certeza do sonho. Estava eu percebendo o quanto o estranho era meu próprio personagem, e como a imperfeição do mundo é algo que apenas completa a complexa realização do perfeito sistema de realidades individuais. O universo se abriu em uma certeza que daria luz a um conjunto infinito de novas dúvidas. Perdi-me no limbo do inconsciente. Não me sentia presente. Tenho agora apenas a lembrança da paisagem além das janelas da Casa Verde, um o oceano que invade o píer de edifícios.
_____________________________________________
Tive apenas uma noite estranha. Fruto de uma mistura descuidada.


17 de setembro de 2010

Garota de Plástico

Não sei bem o que lhe aconteceu, mas hoje ela estava diferente. Sorriu assim pra gente, e me disse que queria se descobrir. Cansada de uma vida agradável, deixou de lado seus princípios e viveu além do intenso o que lhe foi oferecido. Homens descartáveis percorreram seu corpo; Mulheres também. E nada que lhe foi compartilhado em tesão e desejo deu ensejo a uma minúscula emoção.
Fudia o dia na manhã que ela acordou da vida e se perdeu num sonho psicodelíco de experimentos. Os escrementos em seu corpo não eram registros de romance. Apenas a lembrança de um lance que rolou em um lugar qualquer na companhia de qualquer um. Até pra seus padrões já estava bem além do que se aceitaria ir. Fez tudo sem pestanejar. Foram minutos de inconsciência social, moral e/ou pessoal. Era a puta que seus parceiros queriam, e eles, o que ela buscava.
O amor em seu formato minímo se realizou na busca de um pobre coração. Ela não goza, apenas reforça seu pensamento de que somente ela pode se fazer feliz. Ainda que correta, a porta aberta não dá acesso ao paraíso sonhado. A vontade de ter é apenas pedaço diante de ser. As rachaduras de nossa armadura não serão sanadas com o suor de outros. O amor é fruto interno. Não é de recados, lençóis e flores que se invoca o cupido.
Infelizmente agora ela caminha  no acostamento de uma vida sem hora marcada para o retorno. O abandono de si, dejá vu de momentos outros, faz um esgoto correr em suas veias. No peito uma bomba de dores e a lembrança de cada passo mal dado. Na sua consciência vazia ele escuta a reverberação do seu mundo dizendo: - Primeiro, é preciso se amar!

15 de setembro de 2010

do Baú - zeroGrau



Eu brincava de ser menos sério
& a gente ria da vida.

O rio nunca é o mesmo

Ele acorda para mais um dia. Sua luta rotineira se inicia na viagem que altera o ambiente da realidade presente. Aos poucos os entes vão ficando cada vez mais distantes, e o que o circunda no momento que se segue é a incerta beleza do novo. O homem entregue ao mundo que agora o embala, se instala no sentido que o expressa melhor ao tempo. Ele é forte e seguro, o mundo é domável. O espaço que o recebe é acolhedor, como um primeiro encontro, como uma visita a casa dos tios. Mais o tempo passa e tudo que era colorido perde o brilho e a desgraça começa a se espalhar no horizonte. Em tudo que se sente haverá mudança. A vida, a rima, a dança. Cada novo verso é uma expressão. O homem se cansa da aventura cotidiana e em uma reação tipicamente humana, retrocede em busca de abrigo. Ele volta e tudo se encontra no seu devido lugar. As pessoas, os espaços. Tudo ali ainda é o mesmo,...





...mas já não é mesmo.

11 de setembro de 2010

Pequenos Contos Modernos - III

¬. 3 Zés, 7 jurados, 1 botijão - história de um pescador.
...
Sentado no centro da sala do júri, um pescador com uma história sendo escrita. Cinco anos antes uma situação inusitada o levaria até o momento presente.
Era tarde de um sábado comum quando em frente a um boteco de feira uma confusão se instalou. Alguns minutos antes um Zé cego que fazia uma mudança fora furtado. Levaram de seu casebre um botijão de gás. Enfurecido com a situação o mesmo resolveu sair a caça do imoral ladrão. Um cego, bêbado e armado, saiu a rua buscando fazer justiça com as próprias mãos. Acompanhado de outros Zés, também bêbados, o Bobina e o Moleira, zigzagueram pelas ruas da cidade. Lá pelas tantas, entre boatos e bochichos, encontraram um pescador que não inventou essa história.
Palavrões e ofensas proferidas ao ar, homens embriagados enfurecidos  e uma faca de cozinha no lugar errado. Em segundos de fúria o pescador, que sabia que o provável ladrão era o Moleira, conhecido como (ar)rombador na região, e que foi acusado pelo mesmo do furto que o próprio havia cometido, foi ameaçado com uma investida do cego roubado. Entre corpos embolados a faca reapareceu cravada no peito do cego, que agora não precisava mais do botijão.
O Moleira sumiu na confusão, o pescador fugiu de sua ação, o cego morreu sem compaixão. E o Bobina que entrou de gaiato nessa história foi beber mais uma pra esquecer o que não lembrava. O pescador foi preso e cego enterrado. Do Moleira não se tem notícias. E o Bobina que interrogado contou diversas versões do fato já narrado, variando apenas na intensidade da presença do álcool em seu estado, acabou por fazer rir o juiz.
Agora já julgado, sete pessoas estranhas ao relato decidiram por 13 anos ao condenado. Os dias seguem normais na feira e no boteco. Essa história de pescador exalta o quanto a justiça é cega na embriaguez da vida.