26 de fevereiro de 2010

A guerra e as mães

Estou lendo A Cidade do Sol, do escritor afegão Khaled Hosseini, e durante a segunda parte do livro tenho conseguido interligar dados recentes a respeito da imensa profusão de sentimentos que uma guerra pode gerar num ser humano, em especial naquelas que foram condenadas, talvez mais do que qualquer outro, com a dor da perda, as mães. Na terça-feira pela manhã reassisti O resgate do soldado Ryan, de Spielberg, e na semana passada por acaso reli um texto de Cecília Meireles chamado Pistóia, Cemitério Militar Brasileiro. Em ambos instrumentos de informação fica clara a afirmação de que as mães não foram feitas para as guerras.
Enquanto o mundo distante acompanha as desventuras e desenlaços das batalhas com empolgação, ou ao menos com curiosidade, essas figuras celestes sofrem a agonia da ausência e da incerteza. A guerra como disse alguém por aí, é sim a higiene do mundo, mas ninguém quer ter os seus amados descartados desse plano. Infelizmente ambas as partes travam suas campanhas na certeza de que sua razão está correta e prevalecerá, porém o irracional é por a vida em prova, sabendo que a única certeza que prevalece é que haverá um derrotado. Se o mundo fosse um pouco mais feminino e materno - é uma suposição apenas - talvez o desenrrolar da história humana fosse outro.
Desde a mãe de Aquiles, passando por milhares de mães européias (nazistas, comunistas ou aliadas), as mães arábicas e orientais, tupis e incas, de qualquer região, religião; mãe, como diz o ditado popular, é uma só, e na dor de sua despedida é que se revela o maior combate de uma guerra. 

"...
Este cemitério tão puro
é um dormitório de meninos:
e as mães de muito longe chamam,
entre as mil cortinas do tempo,
cheias de lágrimas, seus filhos.
..."

- Pistóia, Cemitério Militar Brasileiro -
cecíliaMeireles

25 de fevereiro de 2010

passageiro




A estrada pode até parecer diferente, mas o que muda invariavelmente é a diferença de cada um que trafega por ela.





foto de Guh Andrade

entre o corpo e o espectral

a noite que me consome sobre a cama desarrumada e molhada de suor é antes de qualquer outra coisa, uma estranha desconhecida. a janela aberta e o escuro que projeta ao meu olhar assustado é apenas um ingrediente desta porção escandalosa de frio e de desilusão. acordo e vejo a tevê ligada, a emissora transmite as olímpiadas de inverno, o gelo de lá da tela me engana enquanto penso que no quarto a temperatura cai consideravelmente. tento me mexer, olhar a porta, mas nada se move no meu corpo, nada além do globo ocular que percebe a luz do corredor acesa, os canadenses perdendo no hóquei, o estranho brilho do beco no escuro da madrugada. meus músculos se retraem quando escuto o barulho dos talheres, um choro de criança e um chamado distante. meu nome se espalha pelo ar e corre ao longe, na cama meu corpo morto me impede de sequer virar, e deitado de lado não vejo mais do que o já descrito. dentro me escorre um grito abafado pela loucura desse instante, e adiante toda essa insana imersão sinto um peso, um abraço de alguém que não existe, que não vejo, e que desejo não existir. meu corpo morto desfalece num piscar e tudo some.
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Acordo e meu peito pulsa alucinado. Estive num outro momento entre o corpo e o espectral. Meu irmão me explica que é tudo natural, uma coisa do cansaço, mas me embraraço entre a lógica da ciência e a lucubração de minha inconsciência. Deixo-me desplicente, e não mais ciente do que possa parecer me deito.

tempo disperso

Faz tempo que meus dedos preguiçosos não deslizavam por esses teclados, enquanto isso do lado de cá da vida minhas pernas sofridas pularam por lares distantes. Foi-se janeiro num breve suspiro, trazendo uma montanha de diversas aventuras, prazerosas e não, nesse mês singular que é fevereiro. Sendo menor para que não caiba mais loucuras do que já proporciona, fevereiro veio e se vai numa leve gota de suor que cai do rosto cansado de verão.
Para não ser mais saudosista do que já fui até aqui, deixo-lhes apenas as palavras de um amigo:

"É segundo por segundo
que vai o tempo medindo
todas as coisas do mundo
..."

- monotonia -
márioQuintana