30 de novembro de 2010

Olhos abertos no escuro

É noite e você vagueia inconsciente de seus passos. Algo o inundou de pensamentos tolos que enfraquecem a sua segurança. Na dança dos ventos noturnos tudo parece suspeito. No peito um coração acelerado vai aumentando a sua capacidade absurda de batimentos. O mundo vai escurecendo como num obscuro buraco oco que suga qualquer possibilidade de raciocinar logicamente o que lhe cerca. Agora o irreal é plausivel e insastifatoriamente possivel, e pior, parece proximo. Qualquer barulho - um voo de mosquito, um estalar de gravetos, um uivar da brisa - alimenta o assassino instinto de perigo que te cerca. Você esta encurralado pela sua imaginação. Os mitos ganham vida, os filmes se tornam lembranças e o homem-você é um menino acuado. Aquele demônio que te existe se esconde, e você está incapaz de se defender. Clama por Deus, que continua calado. Chora em silencio, treme em segredo, e sofre da quimera sem cura, o...


Medo- fotomontagem de Fr. Dhael


Do lado de fora da casa a vida continua intacta.

RocKinRiO.2011





Snow Patrol, Red Hot Chilli Peppers, Metallica, COLDPLAY e muitos outros.

!!!

26 de novembro de 2010

¬Trincheira urbana.

Um tiro disparam do alto do morro;
outro explode no pé da ladeira.

Evaristo Sá/AFP
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Estavamos em guerra.
Começamos a lutar.

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*"No serviço de auto-falante
...
Amanhã vai fazer alvoroço
Alertando a favela inteira "
que haja paz


*'zé do caroço', de Seu Jorge.

20 de novembro de 2010

...rei de mim...

Não sei de onde vem, mas é pura magia.
Era mais de meio-dia, a tarde já se espalhava e o sol me ardia os olhos, o suor me enojava o corpo, eu já parecia mais um morto a esperar o ônibus. Ali começava o meu seguir, a rotina fora do trabalho, a vida livre das doutrinas. O transporte chegou, me levou e no meio do caminho quebrou. Sai ao sol e esperei um outro. O outro veio e eu fui, e cheguei aonde queria. Estava em casa e me parecia que tinha sido a melhor das minhas viagens. Teria eu viajado mais do que o comum, viajado na minha insólita imaginação de como podem ser maravilhosos os momentos descompromissados que me permito ter. Talvez o pragmatismo das coisas impeçam meus olhos de observar as minúcias agradáveis do cotidiano.
Hoje eu perdi alguns minutos a mais esperando pra chegar em casa, o carro quebrou, o sol me queimou, e a tarde me consumiu sozinho. Mas a água do chuveiro estava na temperatura exata e a musica mulata de Seu Jorge batia num ritmo que harmonizava o peito, e um sorriso fresco me preenchia o rosto. Eu devia estar sentido o oposto, mas era a alegria de mais um dia bom pra se viver.
...
*Ainda não sei de onde vem a calma daquele cara,
mas posso me coroar rei de mim.

15 de novembro de 2010

Fim da história...

Foram anos numa historia que se perdeu no sentido de olhares secos, sem tato. Sem teto, um sentimento de mendigar carícias e companhia. Dois mundos que se repeliam a cada novo passo. Sons distintos; os glóbulos pulsavam em compasso fora do ritmo outro. Sair do que se havia habituado se apresentava como a maior de todas as batalhas. Criou-se entre e envolta deles um muro que os prendia como numa cela, que já não os merecia.
Os corações acostumados com o som daquele que já não era afeto, de fato soavam de maneira estranha. Pensar outro olhar, outro sorrir, e até mesmo o peito acelerar a um olhar cruzado, num gesto tímido, num passar por portas, tudo isso que um dia pareceu normal, era inaceitável. O desejo tornou-se uma ideia alienígena aos olhos cansados de alguém que agora transava como um trabalhador cumprindo o horário. Ele dormia no sofá como se a suite presidencial lhe tivesse oferecido. Na cama dormia a dama do passado que se esqueceu de partir. Era nojento perceber que por culpa dele mesmo foi possível criar um presente repressor ao seu sentimento de vida.
Abria a boca em frente ao espelho toda manhã como se quisesse engolir sua obra-mundo, ou se partir e em parte sumir daquilo que se fez. A lua que no inicio do romance em questão era alucinógeno combustível, tornou-se figurante de um drama desmedido e sem brilho. A noite era um momento de atuação e sono. Talvez as madrugadas lhe fossem o melhor momento do dia, já que no sonho era incontrolável seu desejo; ali ele fugia.
Mas o amanhecer o acordava incessante e impiedosamente para a realidade. A dor sobrevivia do respeito aos anos dourados de antes, da glória pintada na caverna de um tórax empobrecido. Penumbrava na ânsia de seu fim, já que não se permitia acreditar em um fim aos dois. Sentia-se siamês de um inimigo ao qual não podia simplesmente eliminar, enquanto ela também sofria a sua dor.Talvez também ela se sentisse refém de sua aventura juvenil, de sua luxuria romântica que agora se tornara angustia e depressão.
O espaço se retraia mais e mais, e onde antes havia flores, bombons, desejos, vontades e a infinidade passional de sentimentos hoje já não comportava mais que dois silêncios. Eles ardiam no frio seco de suas amarguras, corações atrofiados sem vislumbre de expectativas novas. Morriam em sua inércia. Chovia lâminas e os corpos não tinham sangue a oferecer.
...
Por destino ouviram a mesma canção, assistiram ao mesmo filme, dividiram o mesmo gosto pela liberdade. Escreveram em seus olhos a sentença do querer. O muro caiu. Agora os olhos se perdem no encontro, o corpo toma seu lado, rumos diferentes. Hesitam.
É preciso seguir, ele sabe. Acaba de começar uma nova história.




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Baseado em um história hipotética.
Inspirado pelo filme "500 dias com ela" e também
pela canção "la trama y el desenlace" de Jorge Drexler.

14 de novembro de 2010

13 de novembro de 2010

amando a Trama

Lembro do seu segredo silencioso que só teus olhos me revelavam. Eu, teu descobridor, e... quem te perdeu. Seguir o que o vento me traz é reviver a lembrança do teu perfume em meu respirar e o passar  do tempo que desgastava o coração que já era teu sem o meu conhecimento. Estava perdido em meus minuciosos problemas que agora se foram na amnésia do antes de ti. Meu mundo nasceu quando eu imaginava-me vivo. Um salto em teus braços revivo naquilo que sempre pude e não fiz, agora é lembrança inexistente que invento para me sentir um homem melhor.
Éramos nós e a cama, nós e a praça, nós e as flores, e nunca uma soma bem realizada, e nunca um produto das parcelas. Viajo nos dias de minha desilusão sabendo de minha cegueira, da inutilidade das lentes que carrego sobre o nariz. Nos outdoors da estrada se vende de tudo e nada me preenche como o teu sorriso que ilumina o avesso de minha pálpebra. Somente na noites vazias é que me sinto feliz, por te ter de volta na rota da minha canção, no rumo do meu inventar, sem pensar em despertar pro que sou agora. Agora sou apenas um homem, um homem sem você.

só - GuhAndrade
Os dias calidosamente irão me fazer sucumbir ao que restei, mas a saudade do tempo antes, da vida pura, do gesto simples e de tudo que impresso em minha pele é registro seu, me permitem o desfrutar de uma paixão que eu não soube viver.
Na amargura da rotina os sonhos adoçam o meu caminhar. É no acaso que talvez os nossos passos se encontrem num momento mais feliz do destino e eu possa me permitir o desejo [dar e ter].


"Amar la trama más que al desenlace"


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*escrito ao som de 'La trama y el desenlace' de Jorge Drexler.

10 de novembro de 2010

Coisas da rotina

Vivendo aqui na esquina do fim do mundo, invariavelmente me encronto vago nas lacunas ociosas de minha rotina. Nos últimos dias estive meio ausente deste blog por conta da manutenção de velhos hábitos. Segue então uma lista de coisas que me ocuparam e que eu sugiro aos mais diversos (ainda que poucos) leitores.

Livros
Técnicas de masturbação entre Batman e Robin
O sobrinho do mago - As Crônicas de Nárnia
O clube dos anjos
Marley e Eu

Séries

Além das series baixadas e dos livros amontoados, uns filmes medianos e um joguinho viciante no celular tem tomado meu tempo extra. Isso, é claro, quando meu pequeno prioridade máxima me dá uma folga.
Vivendo entre os bizarros personagens de terror, os gangsters do século passado, assassinos em série, seres fantásticos e famílias comuns, percebo ainda mais forte a presença constante em minha necessidade de viver de figuras estranhas e ausentes [como vocês].
Na tv e nos livros a vida é tão mais fácil...

5 de novembro de 2010

Algumas Palavras

Já li diversos livros, nos mais variados estilos de escrita, das mais variadas nacionalidades. Alguns autores me fizeram pensar no mundo, outros me fizeram perder tempo. De fato o que me marcar nas histórias é necessariamente a capacidade de mutação das reações ao leitor que se permite encontrá-las. Cada um ver o verso ao seu modo. Quintana quando brinca em seus versos poéticos fala tão sério quanto Machado quando enlouquece a natureza humana. Efraim e sua marginalidade é tão interessante quanto Zusak e sua imaginação sentimental, mesmo que ambos falem das mesmas relações de maneiras tão distintas. Agora que acabei o meu Veríssimo e continuo com o Lewis, me vejo inundado com palavras que mexem e preenchem minha rotina, meu pensamento e minha sensibilidade ao mundo. Estou acostumado com as palavras, elas me dão sentido, me permitem sentir histórias outras que também são minhas.
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Eu só nunca estive preparado para desvendar as palavras aleatórias que você descartou naquela bolinha de papel no cesto de lixo.
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*Depois de ler o in-opus e acordar pro que era vísivel.

no Tabuleiro Social

Ao acordar me vejo no reflexo do espelho e imagino quem me olha de lá. Dentro do ambiente fechado do banheiro começo a analisar quantos contatos indiretos fazem parte da minha vida, quantas pessoas desconhecidas produziram peças de acomodação para o meu dia.
O cara da fabrica de torneira, o da empresa de cerâmicas, de tintas, o cara do creme de barbear e o da escova, todos eles interferem na minha rotina. Eles produzem ações que me promovem facilidades. Mas ainda assim não me conhecem. Eu também não os conheço. Mas sei que a interferência tem um preço e eu também devo pagar. Em algum lugar alguém se reconforta com o resultado que eu produzo. Todos temos papeis a realizar no nosso ambiente micro, que por vezes reverberam no macro. Isso é um jogo interminável de ligações discretas entre os participantes.
Agora que terminei minha higiene bucal, é hora de fazer a minha parte.
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A sociedade é um organismo de imperceptíveis relações.