17 de abril de 2011

4 vidas

Deitado escuto o meu parceiro de sono soluçar seus medos e suas dores. Encolhido sob o coberto paterno, meu menino anseia pela não partida dos que ama. Revivendo as lembranças recentes ele amarga sua dor de um simples tchau. Chora a ausência que se propaga em seus breves minutos de sono como se imaginando toda uma eternidade distante. Em sua sabedoria inconsciente ele sente que a vida nos presenteia sempre com o indesejado. Haverão sempre partidas para que continue a existir chegadas.
Algumas gerações acima, o pai vigia o sono daquele que deu a ele a chance de construir uma história. O avô que se gastou no tempo passa sobre a cama seus minutos insistentes sobre a face da terra. Na sua guerra pessoal contra o tempo e o cansaço ele revive seu estágio de fragilidade. Ali ele rememora vagamente toda história de uma vida sem mais perspectivas, se não a de um sono a mais. Seu sono é marcado pela fraca respiração e forte tosse, como um relógio velho que se esforça pra continuar marcando o tempo.
Observando o pai que vigia o avô, assisto a um mal dormir compreensivo. Sobre o lençol de suas angustias estão o bem estar daqueles que fazem sentido a sua vida. Ele que agora é sim o patriarca de todos nós também vê o tempo passar de maneira feroz, devorando os minutos com uma fome insaciável. Vendo o seu pai em seu leito sente que todo o respeito que agora oferece de maneira gentil servirá apenas como paliativo para o sono que se aproxima. Ele sequer esquece da realidade enquanto dorme, seu corpo não descansa, está apenas de olhos fechados.
Não sei do meu sono. Não imagino o que transpareço enquanto estou fora. Na aurora acordo assustado com medo de ter perdido algo que vejo estar ali. O tempo também me passa, e aos meus provoca mudanças. Na dança da vida todos estaremos na cama nas mesmas circunstâncias.

7 de abril de 2011

Notícia de uma triste manhã

Faltava pouco para o intervalo. Do lado de fora o sol da cidade fervia como de costume, os carros trafegavam em sua ânsia alucinada rumo ao nada, as pessoas se cruzavam sem a experiência de compartilhar. Aquele era o momento mais comum da terra, quando os adultos vivem a loucura da vida e as crianças e adolescentes as maravilhas da fantasia.
Para a maioria de nós o mundo se resume ao pedaço de terra e de gente que nos cerca. É preciso contato para existir. Por isso aquilo que está distante não nos é natural, então naturalmente não nos afeta. Mas existe uma coisa universal chamada dor. É possível sentir a dor do outro apenas vendo sua expressão, ouvindo seu urro, imaginando sua situação.
O fato é que estavam todos em seus caminhos, seguindo seus destinos, quando a insanidade humana resolveu aparecer. Em salas de leitura a loucura se apresentou desferindo pontos finais. 
Do lado de fora o sol da cidade fervia como de costume, os carros parados no trânsito perplexos pelas informações, as pessoas se cruzavam atônitas em uma triste corrente de indignação e impotência. A demência social se afasta por alguns minutos. A cidade é silêncio, é lágrima, é a dor da interrupção. Sobre a carteira resta um caderno aberto onde se escrevia um futuro que já não existirá.



07 de Abril de 2011.


3 de abril de 2011

o menino & o amor

Havia um pequeno pedaço de mim
que não entendia você
E foi justamente o pedaço
que danou a crescer
Ele cresceu de um jeito
que não o consegui parar
Agora te dizendo a verdade
de você já não entendo é nada
O mais estranho
é que tudo já não tem mais importância
Eu vejo o mundo gigante
como no olhar da minha infância
As coisas, por mais estranhas,
agora me fazem sentido
Você que não consigo decifrar
achou de ocupar
todo meu coração desentendido
E eu acho é bom!