22 de junho de 2011

minhas distâncias

Aqui desse canto morto de meu peito, um inquilino quieto me mantém esperto para as possibilidades esquecidas de novas intenções. São os sentimentos adormecidos, as lembranças bem guardadas, que se mantém na gaveta de poeiras e bugigangas importantes e indispensáveis. Ali onde ainda estão as figuras daquele album do passado, os restos de borrachas mal mordidas, os clips e grampos enferrujados e a fotografia embassada de nossas aventuras juvenis.
Hoje sem tempo pra lamentar, recordo com saudades dos sorrisos e alegrias que dividimos juntos. De cada momento estranhamente eterno que se estendem pelo estrelar céu noturno de inverno, como se fosse a lua um projetor de histórias fantásticas de um tempo que certamente não retornará. Sob a incerteza dessa madrugada fica na minha face enrugada a lembrança desse amigo que sempre me será fiel.
Um eu tão jovem e corajoso que me faz querer voltar nas eras e ser de novo tudo que me fui. Nessa figura que me guardo reside um pouco de cada amigo que me fez crescer. Ali eu resido na mais intensa veracidade. 
Saudades de minha memória inocente.

19 de junho de 2011

incompreensões plausíveis

Para tudo existe um modelo de definição,
algo que sirva de base,
que seja uma forma de medida.
Perdido em teu coração,
como mensuro o desejo
nessa fase da vida?








"a medida do amor é amar sem medida"
Humberto Geissinger

9 de junho de 2011

1/4 de século

As velas se apagam e a noite consome o homem que se perde nela. Na outra ponta desta triste narrativa vem a vida se desprendendo do sentido afim de tornar mais vivo aquele que se marca pelo tempo. O tempo se marca pelo tempo, ele só é registro depois de extinto. Agora só é fato por que já aconteceu.
Estranhamente simples é ver que as rotinas nos invadem de maneira incontrolável. É sentir que os sentidos se aguçam e se dissolvem com as horas já contadas. Agora entre o doce e o salgado existem uma infinidades de sabores, enquanto os 'dessabores' vão minando minha capacidade de sentir. O homem é refém de seu relógio. O relógio marcar em seus ponteiros as venturas e desventuras destas almas que se arriscam a perambular pelas vias expressivas das sensações. Por mais frio que seja o peito humano, sempre há um sonho que o faça aquecer. Desde sempre a gente acorda querendo ser feliz, por mais que seja esse um delírio momentaneamente impossível. Os sonhos nos motivam a querer amar as coisas, as lutas, as pessoas e as relações. E assim o corpo e a alma se entregam.
Entregue em sua causa o peito irracional, como é, apenas pulsa oferecendo impulso para um cérebro 'enloucubrado' que vaga alucinado nas perspectivas mais inusitadas que me permito projetar. Eu vagueio como um astronauta solto da nave que não pede socorro, apenas se apressa num abraço ao sol sem questionar o seu fim, nem se preocupar com seu passado. Eu sou às vezes aquele que só quer ter no coração um calor indimensionável. 
Mas eu vivo como todo mundo, e no fundo sei de minhas decepções, de meios desagrados, de meus fracassos particulares. Assim como todo mundo choro e desconfio da felicidade. O tempo passa e conforme vou adicionando números a minha idade eu me vejo por ângulos diferentes nos capítulos de minha história. 
A vida é breve, efêmera como imaginamos que é o orvalho de cada manhã, mas o que fica da vida não é a nossa história, nem os nossas conquistas, é a lembrança de cada momento intenso que nos permitimos viver, mesmo os mais simples. O homem se constrói nas atitudes que toma, mesmo aquelas que são para corrigir erros anteriores. Certo ou errado não existe no fim do livro. Isso é para os críticos, não para os autores. Então antes que me esqueça do que estou vivendo agora me permito nesse escuro deslumbrar-me com essa fantástica sequência de relatos que ainda hão de me acontecer. 
Estou apenas no inicio, me restam muitas páginas em branco.

do outro lado



Vejo o meu reflexo 
fora do espelho 
e já não sei 
quem sou agora!







Espelho, de Ricardo Jaime Simoes .

...off

Estava como a canção proclama, "andando por ai meio desligado", de um jeito estranho observando as nuvens que passam pela moldura de minha janela. As vezes a aquarela que me presenteia nas tardes de mormaço, são apenas impressões de um cansaço nulo, vago, vazio. Farto de tanto ócio, experimento bem pouco da reação à minha inércia.
Sobre o colchão surrado que me acolhe eu vejo uma triste realidade que me absorve lentamente a cada novo entardecer. Estou ficando, enquanto o mundo passa, enquanto tudo passa, enquanto a vida segue por histórias delirantes. Já não me basta acordar, pois os olhos abertos denunciam que não durmo. Eu é que esqueci que viver é mais do que contar as horas. Já não me vejo num pretérito-mais-que-perfeito a algum tempo, preciso urgentemente entender o presente e conjuga-lo em verbos mais intensos.


'-Agora aperte o botão!'