Antes de qualquer precipitação
não há interesse desse texto em ofender crenças, posições políticas ou sociais
dos leitores que se dispuserem a analisar tais palavras.
Sem sombra de dúvidas a parte
mais ofendida e agredida com a atitude de paralisação da PM é o povo baiano que
se acua em receio a uma realidade que em dias normais já apresenta preocupação,
quanto mais em dias sem a atividade policial como asseguradora da manutenção da
ordem. Economicamente a sociedade vive a incerteza do futuro próximo e ainda
tenta calcular o prejuízo já causado pelo movimento. Infelizmente a liberdade
do cidadão que nunca passou de uma ilusória sensação, ‘ainda que insegura’, de
realizar as ações aceitáveis no ambiente social se dissolve de maneira instantânea
quando o individuo mesmo atrás das grades de sua casa não dorme com medo de
receber visitas indesejadas nas madrugadas e demais horas do dia. A sociedade
que em outras manifestações foram reprimidas pela PM enquanto braço forte do
governo, e que aqui não culpa a sociedade pela apatia em se manifestar, admite
o medo e se limita a culpar alternadamente as partes por seus problemas
pessoais, sem perceber que corre o grave risco de ficar refém das vontades do
Poder Público e suas manobras de manipulação que faz definhar qualquer futura
manifestação em busca de direitos.
Mas as outras partes envolvidas,
PM e Governo, também convivem com suas mazelas como resultado do evento.
O governo, que agora na figura de
revolucionários e fomentadores de manifestos contra o desrespeito do governo no
passado, perde credibilidade, se ainda havia alguma, com os cidadãos e vê um
ano político se iniciar de maneira desastrosa para o partido, ao tempo que
mancha de maneira definitiva as páginas históricas da política baiana sendo
responsabilizada pela baderna causada durante o período, apesar das milionárias
ações midiáticas que tentam a todo custo negar desde a existência do movimento
até mesmo pousar toda culpa pelo escarcéu sobre os grevistas.
Nesse ponto os demais poderes
além do executivo se entrelaçam numa rede de histórias confusas que nada mais
fazem além de atrapalhar as negociações, como também promover o terror. O
legislativo que abriga contra a vontade os indesejáveis trabalhadores que se
opunham as condições de trabalho, e que foram eles, deputados, que aprovaram as
leis de reajuste salarial destes soldados a mais de 10 anos atrás, e também
sabendo da insatisfação da classe pelo não cumprimento das mesmas leis, preocuparam-se
apenas em reajustar os próprios salários em mais de 60% na calada de uma noite
de verão, e também por isso não tem moral nenhuma para impor o exemplo sobre os
manifestantes.
O judiciário se mistura de
maneira desastrosa quando uma figura sob suspeita de venda de sentenças,
denunciada pelo Conselho Nacional de Justiça, determina o cumprimento imediato
de mandados de prisão aos líderes grevistas, ou seja, líderes de associações, por
crimes intuídos como da autoria dos mesmos, sendo que alguns nomes listados
entre os procurados são figuras que não se manifestaram e nem mais parte fazem
das diretorias destas associações, bem como excluem nomes da lista por estarem
diretamente ligadas ao partido governante. Outros juristas abordam a
ilegalidade da greve, tendo em vista o caráter de necessidade do serviço de
segurança para que o estado democrático de direito possa funcionar de maneira
plena e correta, contudo se esquecem que a dignidade humana é um sentimento
individual sobre um pensamento coletivo, e neste ponto o individuo que se sente
indignado com o desrespeito do Estado, e por vezes da população que o mesmo
defende, abre mão da legalidade para fortalecer a moralidade de sua função.
Sendo assim, é provável que se o mesmo Judiciário que aborda a legalidade das
greves tivesse força para determinar o cumprimento das leis já existentes para
a equiparação salarial quanto à importância da função, não estaríamos agora
gastando nosso tempo neste debate.
O vulgo 4º Poder, a Mídia, se delicia
com matérias e com negócios sujos por baixo do pano para atacar ou defender
partes do jogo, dependendo apenas de quem está por trás das câmeras com os
bolsos cheios para financiar seus interesses. Enquanto fomentadoras de opinião
as redes de televisão e rádio, além da mídia escrita, oposição ou situação no
ambiente político, apresentam suas imagens e gravações depois de edições bem
planejadas para que a sua platéia consuma os fatos narrados como verdades
absolutas e se manifestem a favor dos seus benfeitores de colarinhos brancos, o
ambiente virtual se torna um campo de batalha onde as informações, verdadeiras
ou falsas, se misturam de forma que em dado momento fica impossível distinguir
como elas devem ser classificadas. No ambiente virtual se cria a pior batalha
onde as opiniões tentam se sobrepor como numa luta de quem é mais forte e mais
sábio, mal sabendo os detentores de opiniões, como esse que vos escreve, de que
nada adianta berrar, nem proclamar, no fim das contas ninguém vai te ouvir
mesmo.
E por fim o Policial que está a
mercê dos poderes do estado enquanto funcionário e cidadão, que é expectador de
informações maquiadas e internauta com opinião muda, assim como as outros.
Então o Policial que reivindica seus direitos também sofre com os impactos da
paralisação, porque ele tem família que corre risco como as outras, família que
trabalha em outras áreas e sofre o impacto econômico, família que se acua em
suas casas e fica sem dormir por dois motivos: o medo da visita indesejada e o
receio pela situação do seu ente grevista que vive o embate com a força do
Estado. O policial, e não o vagabundo fardado, que merece ser investigado e
julgado antes mesmo de ser considerado culpado, afinal o Governador insiste em
dizer que ‘vivemos num estado democrático de direito’, esse sofre tudo que a
população sofre e ainda corre o risco de perder a sua vida, como infelizmente
alguns já perderam.
O Policial não é só profissional
de segurança, ele é também um amante do bem social. Assim um PM morreu quando
reagiu a um assalto numa pizzaria em Salvador, ou mesmo o PM que morreu num
roubo na via de Camaçari ao tentar ajudar um carro que supostamente teria
sofrido um acidente, assim como o PM aposentado que tentou proteger os clientes
de um comercio em Feira de Santana durante um roubo, estes não estavam
trabalhando, estavam como o CORPO da corporação em greve, mas ninguém que está
em greve se abstém de proteger a sociedade quando a situação necessita de sua
intervenção.
Nesse tabuleiro de candidatos ao
estrelato ninguém é santo, e ninguém é otário. Mas creio que os PMs não
acreditam que um governo que não cumpriu os seus acordos, nem os acordos de
seus antecessores, farão com que governos futuros cumpram uma regulamentação
que já está atrasada. Bem como, creio que a população baiana é inteligente
suficiente para entender que a voz do coletivo é maior do que qualquer entidade
do governo e maior do que o próprio governo.
Mas até tudo se resolver vamos
nos limitar a reclamar no twitter, facebook, orkut, sei lá eu onde mais, afinal
aqui é a Bahia e quando o carnaval vier tudo de ‘ruim’ será esquecido. Analisem
suas atitudes e se preparem pra viver uma ditadura alimentada pela mídia onde
seu lugar será o calabouço silencioso sem direito ao sonho utópico de um estado
digno. Infelizmente vivemos em um Estado de Imoralidade Social.
Ciente do risco de ter minhas
palavras editadas (rs) e de acordar com um mandado de prisão por expor minha opinião
contraria ao governo, agradeço sua atenção.