29 de fevereiro de 2012

Epílogo de um sonho


O romance é obra literária. A vida real é drama e suspense.

Queria te amar agora, numa chama de minutos consumindo toda a história que foi nosso enlace, os disfarces e as gafes que experimentamos juntos. Algumas horas em uma sala, de portas abertas pro outro e janelas fechadas para o mundo, para que pudéssemos ir ao fundo do que o outro guarda. Sem as mágoas que nos acorrentam, sem as malícias que nos sufocam, sem as angustias imaginárias de nossas carnes. Queria te tocar como da primeira vez, doce e intenso.
Não sei o que penso disso tudo, por isso me iludo na ideia de esquecer pra ser feliz. Não sei se a tua ideia de humanidade é aceitação de nossas falhas, mas a minha vontade agora é de errar em tua direção. Ser um sim na curva desejosa do não, e aproveitar os segundos para te amar como fiz diversas vezes de uma vez só. Quero ser burro e somar um mais um da maneira mais primitiva que se possa imaginar. Perder-me em afago e aprender a não acreditar. Consumir toda tua vontade numa dança de corpos unidos em nudez. Ser pervertido e carinhoso ao modo da casa. Ter a vida em sensações de prazer e amar antes que o sonho acabe.
Queria queimar feito o álcool inflamado sobre a chapa que o sol esquenta, breve e feroz. Não te obrigar a minha voz, mas o minha vontade de te fazer me ouvir. E num sussurro último te declarar o que já sabes há muitos carnavais. Amo-te impacientemente de uma forma maligna e sem trégua. Tomar-te em meus braços e num olhar final dilacerar tua alma em minha paixão. Depois sumir do mundo e aparecer em outro onde o destino tenha sido diferente.



Em alguns dias o que ressalta é o amor,


na maioria deles suprimimos uma dor que nos devora.


...

21 de fevereiro de 2012

18 de fevereiro de 2012

“ao pé do ouvido”


Gosto de falar contigo quando o mundo é só nós dois
Não há limite para as palavras, não há censura das vontades
Te quero comigo numa libido constante
como esse sentimento de ausência
intenso e  dilacerante
Quero você fora da estante
fora da caixa, exposta a poeira
pronta pro uso e pro abuso de meus deleites
sem os deveres sociais infelizes e limitantes
disposta a brincadeiras
Quero você cotidianamente
como minha adorável amante
Distante, já me basta a certeza de você
Quero a esperança como uma ponte
de ontem para um futuro feliz de prazer

Sal da Carne


Sábado, ele acorda no meio da tarde numa maresia intensa sem vontade de levantar. Deitado, do sofá observa atordoado a cena que se espalha pelo apartamento apertado, superlotado de amizades. Espalhado pelo chão, sobre tapetes, colchões e toalhas os corpos de pessoas amantes pelo prazer do sabor. No teto o ventilador barulhento espalha o vento das respirações ofegantes pelo ambiente inebriante de ressaca contente. Dormindo uma querida indigente expressa um sorriso safado ao seu lado, despida de pudores, revive-se os amores de uma manhã embriagada. Do nada um maluco 'boa gente' surge da cozinha com uma panela na mão tamboreando uma marchinha, despertando os irreverentes cidadãos do carnaval. É sábado e a noite promete.

...pecar é do espírito...

12 de fevereiro de 2012

'nó na garganta'

*
As árvores sacodem ao balanço de um vento breve 
que traz de longe o que me serve 
de sussurro manso 
para uma ideia livremente solta.
É preciso pouca sutileza
para que a beleza de lembrança intensa 
salte aos porões dessa memória que às vezes falha, 
outras massacra o sonhador com tanto ardor 
numa saudade que não se limita física.
Ouço a música mítica no silêncio do meu leito
onde o nó na garganta é a segurança 
do sentimento no peito.

9 de fevereiro de 2012

Breve observação sobre a Greve da PMBA



Antes de qualquer precipitação não há interesse desse texto em ofender crenças, posições políticas ou sociais dos leitores que se dispuserem a analisar tais palavras.

Sem sombra de dúvidas a parte mais ofendida e agredida com a atitude de paralisação da PM é o povo baiano que se acua em receio a uma realidade que em dias normais já apresenta preocupação, quanto mais em dias sem a atividade policial como asseguradora da manutenção da ordem. Economicamente a sociedade vive a incerteza do futuro próximo e ainda tenta calcular o prejuízo já causado pelo movimento. Infelizmente a liberdade do cidadão que nunca passou de uma ilusória sensação, ‘ainda que insegura’, de realizar as ações aceitáveis no ambiente social se dissolve de maneira instantânea quando o individuo mesmo atrás das grades de sua casa não dorme com medo de receber visitas indesejadas nas madrugadas e demais horas do dia. A sociedade que em outras manifestações foram reprimidas pela PM enquanto braço forte do governo, e que aqui não culpa a sociedade pela apatia em se manifestar, admite o medo e se limita a culpar alternadamente as partes por seus problemas pessoais, sem perceber que corre o grave risco de ficar refém das vontades do Poder Público e suas manobras de manipulação que faz definhar qualquer futura manifestação em busca de direitos.
Mas as outras partes envolvidas, PM e Governo, também convivem com suas mazelas como resultado do evento.
O governo, que agora na figura de revolucionários e fomentadores de manifestos contra o desrespeito do governo no passado, perde credibilidade, se ainda havia alguma, com os cidadãos e vê um ano político se iniciar de maneira desastrosa para o partido, ao tempo que mancha de maneira definitiva as páginas históricas da política baiana sendo responsabilizada pela baderna causada durante o período, apesar das milionárias ações midiáticas que tentam a todo custo negar desde a existência do movimento até mesmo pousar toda culpa pelo escarcéu sobre os grevistas.
Nesse ponto os demais poderes além do executivo se entrelaçam numa rede de histórias confusas que nada mais fazem além de atrapalhar as negociações, como também promover o terror. O legislativo que abriga contra a vontade os indesejáveis trabalhadores que se opunham as condições de trabalho, e que foram eles, deputados, que aprovaram as leis de reajuste salarial destes soldados a mais de 10 anos atrás, e também sabendo da insatisfação da classe pelo não cumprimento das mesmas leis, preocuparam-se apenas em reajustar os próprios salários em mais de 60% na calada de uma noite de verão, e também por isso não tem moral nenhuma para impor o exemplo sobre os manifestantes.
O judiciário se mistura de maneira desastrosa quando uma figura sob suspeita de venda de sentenças, denunciada pelo Conselho Nacional de Justiça, determina o cumprimento imediato de mandados de prisão aos líderes grevistas, ou seja, líderes de associações, por crimes intuídos como da autoria dos mesmos, sendo que alguns nomes listados entre os procurados são figuras que não se manifestaram e nem mais parte fazem das diretorias destas associações, bem como excluem nomes da lista por estarem diretamente ligadas ao partido governante. Outros juristas abordam a ilegalidade da greve, tendo em vista o caráter de necessidade do serviço de segurança para que o estado democrático de direito possa funcionar de maneira plena e correta, contudo se esquecem que a dignidade humana é um sentimento individual sobre um pensamento coletivo, e neste ponto o individuo que se sente indignado com o desrespeito do Estado, e por vezes da população que o mesmo defende, abre mão da legalidade para fortalecer a moralidade de sua função. Sendo assim, é provável que se o mesmo Judiciário que aborda a legalidade das greves tivesse força para determinar o cumprimento das leis já existentes para a equiparação salarial quanto à importância da função, não estaríamos agora gastando nosso tempo neste debate.
O vulgo 4º Poder, a Mídia, se delicia com matérias e com negócios sujos por baixo do pano para atacar ou defender partes do jogo, dependendo apenas de quem está por trás das câmeras com os bolsos cheios para financiar seus interesses. Enquanto fomentadoras de opinião as redes de televisão e rádio, além da mídia escrita, oposição ou situação no ambiente político, apresentam suas imagens e gravações depois de edições bem planejadas para que a sua platéia consuma os fatos narrados como verdades absolutas e se manifestem a favor dos seus benfeitores de colarinhos brancos, o ambiente virtual se torna um campo de batalha onde as informações, verdadeiras ou falsas, se misturam de forma que em dado momento fica impossível distinguir como elas devem ser classificadas. No ambiente virtual se cria a pior batalha onde as opiniões tentam se sobrepor como numa luta de quem é mais forte e mais sábio, mal sabendo os detentores de opiniões, como esse que vos escreve, de que nada adianta berrar, nem proclamar, no fim das contas ninguém vai te ouvir mesmo.
E por fim o Policial que está a mercê dos poderes do estado enquanto funcionário e cidadão, que é expectador de informações maquiadas e internauta com opinião muda, assim como as outros. Então o Policial que reivindica seus direitos também sofre com os impactos da paralisação, porque ele tem família que corre risco como as outras, família que trabalha em outras áreas e sofre o impacto econômico, família que se acua em suas casas e fica sem dormir por dois motivos: o medo da visita indesejada e o receio pela situação do seu ente grevista que vive o embate com a força do Estado. O policial, e não o vagabundo fardado, que merece ser investigado e julgado antes mesmo de ser considerado culpado, afinal o Governador insiste em dizer que ‘vivemos num estado democrático de direito’, esse sofre tudo que a população sofre e ainda corre o risco de perder a sua vida, como infelizmente alguns já perderam.
O Policial não é só profissional de segurança, ele é também um amante do bem social. Assim um PM morreu quando reagiu a um assalto numa pizzaria em Salvador, ou mesmo o PM que morreu num roubo na via de Camaçari ao tentar ajudar um carro que supostamente teria sofrido um acidente, assim como o PM aposentado que tentou proteger os clientes de um comercio em Feira de Santana durante um roubo, estes não estavam trabalhando, estavam como o CORPO da corporação em greve, mas ninguém que está em greve se abstém de proteger a sociedade quando a situação necessita de sua intervenção.
Nesse tabuleiro de candidatos ao estrelato ninguém é santo, e ninguém é otário. Mas creio que os PMs não acreditam que um governo que não cumpriu os seus acordos, nem os acordos de seus antecessores, farão com que governos futuros cumpram uma regulamentação que já está atrasada. Bem como, creio que a população baiana é inteligente suficiente para entender que a voz do coletivo é maior do que qualquer entidade do governo e maior do que o próprio governo.
Mas até tudo se resolver vamos nos limitar a reclamar no twitter, facebook, orkut, sei lá eu onde mais, afinal aqui é a Bahia e quando o carnaval vier tudo de ‘ruim’ será esquecido. Analisem suas atitudes e se preparem pra viver uma ditadura alimentada pela mídia onde seu lugar será o calabouço silencioso sem direito ao sonho utópico de um estado digno. Infelizmente vivemos em um Estado de Imoralidade Social.

Ciente do risco de ter minhas palavras editadas (rs) e de acordar com um mandado de prisão por expor minha opinião contraria ao governo, agradeço sua atenção.