31 de maio de 2012

Desamor Adolescente

Quando a noite se acabou num suspiro sem sono e ele se viu abraçado definitivamente pelo abandono, não se sentiu enojado de mais uma vez recorrer ao engano pra se sentir menos infeliz. Foi só mais uma noite de uma temporada de insucessos, sua vida estava em retalhos, suas aspirações embaçadas, suas perspectivas anuladas. Daquele ponto em diante o inferno de dante seria seu recanto indefinido.
Amargurado com aquela dor que lhe consumia a fé, seus pés sem afundavam numa lama de incertezas sobre o que foi bom e confirmações de tudo que lhe foi pior. A dor da descoberta de sua fraqueza conseguia ser maior do que o aperto no seu coração que aquela trama engenhosa do destino lhe causava. Era refém de si e sem imaginação para se libertar. Por semanas esperava ouvir aquilo que imagina solucionar seus problemas, iludia-se em invenções de diálogos que nunca iriam existir, e ali em seu cantinho desprotegido viu seu mundo desmoronar. Era um desconhecido no reino descontente da realidade.
Por tempos infindos seu caminhar encontrou-se num rumo que não daria em lugar algum. Em silêncio percorria sua vida até que o fim daquela noite chegou. Dali em diante tudo deveria ser novo, ou menos velho, não poderia ser igual. Ele acordou do pesadelo que se permitiu viver e numa conversa necessária essa história se concluiu. Levantou-se do porão que se escondia e abriu a janela pro sol entrar.



Em Resumo:
Apaixonado ele queria entender por que ela não ficaria com ele.
Viveu a desilusão sempre esperançoso de que nada impediria ela de voltar atrás.
Até que um dia viu seus colegas falando dos novos namorados do colégio.
Foi preciso apenas que ela lhe contasse que estava apaixonada pelo carinha da 6ª série.
O mundo naquele instante acabou, pra renascer na semana seguinte.



A gente cresce e envelhece, mas os dilemas não mudam.
...humanidade...

28 de maio de 2012

*pensamento nato



"É rotineiramente no silêncio da razão
que escutamos todas as verdades que precisam ser ouvidas."








*na maioria das vezes é justamente aquilo que não queremos ouvir. 

10 de maio de 2012

Parábola da Equação do Amor


Certa vez um rapaz sem dotes físicos extravagantes, que tinha em seu conhecimento matemático seu maior dom, se apaixonou por uma linda estudante de Letras. Por muito tempo ele viveu o encantamento de maneira secreta, sem se arriscar a decepções. Todos os dias observava o desfilar de sua musa pelas áreas comuns da universidade, contudo nunca sentiu coragem suficiente para abordá-la. Sempre que seus olhares se cruzavam ele desviava sua atenção com vergonha da situação.
Um dia, cansada de tanto esperar pela iniciativa daquele rapaz inseguro e tímido, a garota foi ao seu encontro e indagou:

- Bom dia! É impressão minha ou existe entre nós interesses além do âmbito estudantil. Vejo você me observar todos os dias e sempre espero ouvir sua voz, mas em silêncio retorno a minha rotina, curiosa a respeito do pensamento desse rapaz que tanto me instiga.

- Desculpe-me, Bom dia! Não tenho a intenção de constrangê-la, mas meu coração pulsa numa frequência descompassada, em velocidade incalculável, fazendo com que minhas resoluções sobre a vida pareçam inexatas. Partindo deste princípio de ausência da razão e da perspectiva ínfima de possibilidade da correspondência na sensação e desejo, me privei da tentativa.

- Que pena que você não se permitiu. Pelo pouco que conheço de estatística ao menos 50% das chances seriam positivas aos seus interesses. É preciso ser mais confiante.

- Eu sou, mas depois de calcular todas as variantes que me possibilitariam êxito nessa conquista, não encontrei equação que me favorecesse. Se você vê uma alternativa para que eu consiga o seu amor, me apresente, por favor!

Ela de maneira discreta pegou um guardanapo na bolsa, ofereceu um sorriso e um olhar convidativo, e com a caneta esferográfica rabiscou brevemente...

35-3WV

Ele passou alguns segundos analisando a singela equação e sem compreender questionou:

- Qual sua intenção com a representação destas incógnitas incomuns?

- Ah, desculpe! O papel está de cabeça para baixo.
...



...coisas de quando ainda sou eu


- poema de outono à tarde

Vindo o inverno ou verão, pode ser que assim ou não, 
o que vale de verdade é a tarde de chuva 
em que me agasalha teu abrigo
quando mesmo já não contigo 
sinto à distância os teus braços sobre mim.
O abraço do meu peito te aperta também
independente do temporal que venha.
...e na ideia mágica dessa chama 
que a lenha do meu coração incendeia
escrevo os versos desencobertos de segredos
para que na solidão diária de cada um
o mundo enfim me leia.

1 de maio de 2012

Mundo Fútil

Sobre a mesa circular um capuccino morno, uma cadeira vazia a frente, e em volta um mundo de percepções individuais do mesmo mundo que habitamos. No balcão a moça atormentada pelo fim do serviço aguarda aquela que vai substitui-la e já está atrasada. Pessoas em mesas vizinhas discutem famosos e oficios... São milhares pelos corredores de granito, por cadeiras lotadas, pelas escadas rolantes, e ninguém sabe o que lhe aguarda a seguir. 
Um menino na ingênua graciosidade do amadurecimento humano conta os relevos no piso de sinalização especial, de um a um, multiplicar ainda não lhe ensinaram na escola. Ele segue com os pais pra casa, assim como muitos que voltam, enquanto outros partem para mundos diferentes. E ninguém sai de onde é, pois a casa vai com as lembranças e certezas que a vida nos apresenta. 
Agora no meio dessa multidão silenciosa, no meio dessa solidão coletiva, me vejo no saguão vazio da madrugada. Minha estada é pelo entretempo de chegar em casa, mas também me vou pra um canto qualquer. Passagem para mais um lugar nesse globo, que gira e se modifica a todo instante, enquanto nós nos enganamos acreditando que entendemos esse ambiente que nos cerca, e pior ainda, o tempo que temos. Não importa a conta no banco, o conhecimento das coisas, a pontuação no cartão de milhagem, estamos de passagem e não estou citando a situação atual. 
Tudo passa, e na ânsia de querer ser importante perdemos a chance de sermos nós, de nos realizarmos, de vivermos o pouco que temos e que nos faz bem. Diante da vida me sinto uma formiga na rota da bota. E honestamente não sei porque pensar e filosofar tanto, mas cá entre nós, eu quero sorrir mais.
Não sei se vai dar certo, se minha coluna vai se ajeitar entre as almofadas nada macias desses bancos de metal, se o voo vai ser tranquilo, se chego em casa a tempo de buscar meu moleque na escola, mas sei que bem agora me deu uma vontade danada de ser feliz. E já não penso nas contas, nos dramas, nas agonias; penso nos que amo, e em como seria bom tê-los todos comigo num lugar mais bonito aproveitando do incerto.
Triste é imaginar que, mesmo eu, amanhã retornarei aos meus problemas e deixarei de lado essa ideia infantil de alegria. Mas que um dia, ao menos em um dia, é bom ser ingênuo e feliz, isso é. 
Porque um menino quando ri da coisa aparentemente mais tola possível, ele o faz com verdade.