26 de julho de 2012

Caminho da Dor


A rua cheia de pés que rumam ao mesmo lugar numa procissão silenciosa de pensamentos inquietos e sofridos a respeito daquilo que é comum a todos os andantes. Entre olhares desconhecidos e acolhedores a sentença única da dor que é dividida, mas não suplantada. Vai um corpo na caixa de madeira e de certa maneira o espectro daquela vida se eterniza na massa que a segue.
Cada um carrega consigo uma ausência particular daquela que se esvai na história e no tempo, uma intensidade única e particular de afeto que machuca o peito e corrói a alma. A dor se espalha no olhar de quem conheceu há pouco tempo e vive a curiosidade que se esbarra no não contínuo; na incerteza de quem teve todo o tempo e não acredita ter aproveitado bem; na desilusão fatal de quem amou e não possui o bem querido, e pior de quem possuiu, mas não teve coragem amar; de quem conviveu situações íntimas e sigilosas que serão sempre lembradas por sua importância e resultado; e a dor suprema de quem deu a vida e não acredita que essa mesma se foi tão cedo.
Cada um carrega consigo um abrigo imaculado pra quem nos deixa aqui, e vela em sua memória a gloria do tempo em que viveram juntos. Vai o dia se findar numa sensação de vazio que não vê remédio, a não ser as horas que virão e lentamente solidificarão essa angustia líquida que escorre dos olhos. Depois de toda dor, virá o brilho do sorriso moreno que há de afagar a alma com a vibração de vida que ela espalhou...

A vida se esvai do físico pra se expandir no infinito.