Errei, como erram os seres vivos.
Errei no momento em que te vi e quis pra mim. E quando quis de novo errei mais do que antes. Você nunca precisou de mim, nunca precisou de nada, nem haverá de precisar se acreditar em tudo que você é. Mas eu errei, e eu perdi.
Não sei o que será agora, e juro que nessa altura da vida não me imaginava assim, sem eira nem beira, na ribanceira de meu fiasco humano, na minha 'macheza besta', no meu rudimentar raciocínio libertino, que tem o cérebro de menino e as responsabilidades de um senhor.
Agora a dor que é de flagelo, machuca a alma como se um martelo me fizesse o ritmo. Eu me quebro por inteiro por não ser capaz de algo nítido: eu não soube cuidar de você.
Mas se eu te amo, e tu me ama, se é tão bom na rua, em casa e na cama, porque correr o risco de... Eu sou a prova viva que os imbecis não foram extintos.
Aqui agora apertado, envergonhado e mal tratado bate o coração que só apanha desse dono irresponsável. Eu sinto que podia ser diferente, que um sorriso me existe logo a frente, mas sem covinha que me enterre, essa é mais uma ilusão.
Eu não me arrependo de ter sido feliz, apesar de agora ter uma referência tão alta que é melhor não dizer ao mundo que estou no fundo, pois é difícil se recuperar.
Se eu partir seu coração, e agora você me convida a partir por não ter sido inteiro, te digo a verdade, fica tu com a metade do melhor que eu já fui, vou ser de novo outra parte que aprendi com seu amor.
Você me fez melhor.
25 de março de 2019
12 de agosto de 2018
Nem Cravo, Nem Canela. Flor de Graxa do Malhado.
Nasceu grapiúna a morena do mar, que aqui no Malhado, na
rua do Amparo, se tornou moça linda. Era uma graça a donzela que caminhava na
orla ao vento da brisa de todas as tardes.
Ali de olho no píer, sentia que o mundo lhe seria uma soma
de esquinas. Desde menina se imaginava a domar a natureza esquisita da vida e
tomar o seu rumo a essa tão desejada liberdade. Moleca humilde de família
simples, ganhou no batismo a alcunha da beleza; daquela beleza safada que subia
nos telhados fazendo os homens subirem nas paredes; a beleza que Amado
registrou em prosa, numa saborosa narrativa que ela só iria descobrir na
adolescência. E diga-se, escondida da família, por intermédio de uma Sophia,
amiga de colégio.
Gabi, como era citada nas conversas escolares, era moça
pacata, discreta, apesar das curvas e das mechas. Tinha a cintura e a anca de
uma preta brasileira, o cabelo e o olhar de cabocla que espreita do mato. Mas
era seu delicado tratar inocente que causava o sobressalto. Desprendida de
preconceitos, tinha a todos um carinho inocente que consumia toda gente que com
ela transitava. Era doce e suave. Sem alarde se instalava no afeto e nos
desejos que nos registros não correspondia.
Certo dia foi questionada o porquê de tanto pudor, se o
deus que lhe havia dado os tão belos atributos foi para os ter em proveito no
amor. Ela, não intimidada, disse apenas ao senhor que lhe interrompia na longa
caminhada ao centro, que o amor que em si guardava tinha limite para uso e
contraindicação para idosos. Fez o boteco ferver em resenhas, e o velho gaiato
secar o pote.
Mas seu dote foi por várias vezes negociado, sem sucesso é
bom que se entenda. Gabriela não era uma prenda ao seu próprio olhar, mas a
família religiosa e fervorosa na “lei de crente”, sentia que já ‘tava’ na hora
de uma semente para em nome do altíssimo louvar. Os ‘irmãos’ se achegavam como
quem ia ler um salmo, e as mãos safadas tocavam suas pernas no sofá tentando um
salto, que era sempre desajeitadamente desconvidado com um sono repentino. E os
pais faziam a sala, para os homens e meninos, enquanto Gabi sonhava distante
das regras.
Ela ia pro quarto, ouvir o barulho do mar e o cheiro de
maresia com óleo. Ali em seus devaneios sentia que do píer viria o seu resgate.
A flor de graxa do Malhado seria retirada por outros cantos, a outros mundos.
A cravo e
canela dos anos 90, mulher já sedenta por saber, não estava disposta aos
desmandos ‘coronéicos’. Não via na casa um abrigo, não tinha um amigo desejo,
nem de um beijo seu se podia dar conta. Se morresse cedo, morria virgem, num
pecado sem precedentes, por não fazer feliz uma gente qualquer das ilhéus do
redentor.
Certo dia, já mulher criada, gostosa e sozinha, conheceu o
seu próprio Nacib para insatisfação geral da nação. Australiana da Gold Coast,
Mary Alli se achegou no Cururupe, com sua prancha de surf e cabelo enrolado
numa cera ‘invocada’. Não tomou prosa da agitação que Gabriela causava, e tomou
foi a própria Gabriela pra si. ‘Tascou-lhe’ um beijo de língua na surpresa, a
praia lotada ficou em choque. Era tempo de rock, mas tocava o Morango do
Nordeste na rádio local, e ali sem passar o tempo e a beleza menina da terra da
jaca, se entregou aos delírios da carne. Ela que nunca fez um quibe, demonstrou
muito apetite pelo afrodisíaco degustar das ostras. E foi ser da outra, contra
todas as pregações, injúrias e pragas rogadas por seu povo.
Subiu no lombo de um avião na pista do próprio Jorge, o
aeroporto, e fez sua peregrinação a outro canto. Sem espanto, até hoje não
retornou. Descobriu a liberdade de pensar diferente em um diferente mundo, e
por falta de assunto se isolou da terra verde. Perdeu o enterro do pai
desgostoso, não viu a mãe se casar de novo com um catador de coco das praias do
norte. Aparentemente nem deus a perdoou, pois sempre que se diz da flor de
graxa, da outra cravo e canela, um saudosismo de suas pernas faz tremer as
pernas outras, inclusive as minhas, que presenciaram de camarote diversas
homenagens. Não foi feita pra homens tolos, nem pra vida seca com o cheiro da
lama do Almada na baixa.
Gabriela agora é dona moça. Leva seu nome em um
restaurante de frutos do mar no pacífico distante, mas elegantemente não se
furta em revelar que o fogo de paixão que a língua de Alli lhe deu é um pecado
seu que está super disposta a pagar. Sem neuras e sem dramas, assim feliz na
cama já lhe é suficiente. Ela se deu o mundo, e o mundo lhe fez gozar.
De lá do telhado, sobre a pipa da vida, ela assiste
distante o nosso caminhar.
25 de maio de 2018
Do Mundo que Somos
ISIS, ALQAEDA, ETA, IRA.
Envelheço na cidade enquanto o mundo se
comprime no meu quarto.
De sobressalto vejo torres caindo, mesquitas
explodindo, crianças afogadas no mediterrâneo...
Que mundo é esse de agora?
Hall não enrola, lança uma análise concisa:
“O homem não se paralisa vendo o globo se
encontrar.
Ou ele assimila, ou parte ao seu intento.”
Com base em fundamentos de pureza a segregar
fazem guerra, fazem horror,
desfazem seus pedaços de mundo.
De cá do Brasil eu ‘assunto’.
Por outro lado a soma das partes cria um novo
produto
Híbrido histórico o país é uma confusão.
Dos nativos vindos do norte aos especulados
Fenícios,
Certo é que os patrícios alimentaram a
equação trazendo do outro lado do Atlântico uma força negra em profusão.
E hoje o que somos?
Somos tudo e pouco Brasil.
Sulistas, Nordestinos, Amazônicos;
Sertanejos sem sertão;
Paulistas, Cariocas e Mineiros...
Um espirito santo que não prega a salvação.
E dentro desses grupos outros tantos também
somos.
Quanto menos distâncias, mais dispersos...
Queremos ser um, sendo diversos.
6 de maio de 2018
PARA QUE RECONSTRUIR UMA PRAÇA QUE JÁ É ÚTIL E FUNCIONAL?
Antes de
qualquer proposição partidária deixo claro que meu objetivo aqui não é acusar a
administração pública municipal de Jitaúna de más intenções no uso do dinheiro
público, nem diminuir as ações positivas que são propostas, mas sim chamar
atenção para as reais necessidades do município e para o valor patrimonial
histórico que está prestes a ser demolido sem a anuência real da população.
O papel da
prefeitura municipal é realizar sim as reformas necessárias na área urbana e
rural, mas na questão da Praça Albino Cajahyba, conhecida como Praça do Bomfim, no centro de nossa cidade, qual a
real necessidade em fazer isso? A praça é confortável durante o dia e a noite,
oferecendo sombra e assento aos transeuntes, estacionamento suficiente aos
carros particulares, segurança aos cidadãos que fazem uso da mesma com seus
filhos, estando a uma altura superior a BR 330 onde o trafego é constante e
regular, e traz a marca de um passado que não pode ser simplesmente apagado. É importante
ressaltar senhor Prefeito, que a Praça do Bomfim é um registro importante também
da administração de seu pai enquanto prefeito.
A praça do
Bomfim foi a pouco tempo transformada por uma ação individual sem a valoração
histórica para o município, quando a decisão de um religioso resolveu destruir
a Igreja Católica para construção de um prédio novo, que não lembra e nem
representa a história da fé dessa parte da população. Mesmo não sendo
religioso, nem mesmo fazendo parte da comunidade Católica, a Igreja fazia parte
da minha vida como cidadão, era parte da história de evolução da minha cidade,
e foi destruída sob a alegação de um problema estrutural que durante a
demolição ficou evidente não existir.
Entendo a
necessidade de adequar o espaço público as novas realidades da população, mas o
quanto é preciso fazer e investir para as adequações?
Estacionamento
não deve ser um problema já que a população jitaunense nunca ocupa regularmente
aquele espaço integralmente. O problema de estacionamento na região central é
provocado mais pelo processo de descarga de material nos estabelecimentos comerciais
do que pelos carros populares. Uma regulação no horário de carga e descarga de
produtos seria o suficiente para o controle do trafego.
Conforto e
segurança a praça já oferece. A altura da praça que é agora questionada, é o
fato que garante a segurança, já que impede que num possível acidente a área seja
invadida por algum veículo, ou mesmo que crianças saiam da área da praça em ação
direta para área da via. E todos temos nosso espaço para descansar e nos
abrigar do sol.
Quanto a
questão comercial, aqui sim entendo uma necessidade de um ajuste mais orgânico na
assimilação dos pontos de uso na formação da praça. Mas isso pode ser feito com
uma pequena reforma, que não destruiria a imagem da praça como é hoje.
O mais
importante é que a equipe da prefeitura entenda que essa decisão de
reconstrução está sendo tomada por uma equipe transitória e que os usuários,
nós cidadãos, vamos conviver com essa decisão de forma permanente até que outro
gestor se incomode e faça o mesmo, tente apagar a história sem ouvir o povo. E
vocês tem a chance de fazer diferente, ainda há tempo. E quanto a nós,
população, não devemos nos calar e aceitar tudo, porque a gestão é paga por
nós, o dinheiro investido na praça será pago por nós, e a praça é um espaço
coletivo do povo.
As cidades vizinhas
de Jequié, Ipiaú e Aiquara já realizaram esta mesma transformação nas suas praças
centrais, e o resultado em todas elas foi de:
· Diminuição da área verde, eliminação da sombra
das árvores e pouco uso do espaço durante o dia pela população.
·
Diminuição dos assentos na área da praça e um
trânsito noturno puramente comercial.
·
Destruição do valor histórico de um espaço
público municipal.
·
Suspeita de superfaturamento no investimento e
desvio de dinheiro.
Aqui em
Jitaúna não precisamos disso.
Mas sugiro que
a administração busque ouvir a população. Não somente os asseclas e partidários
lagartixas. Vocês gerem todos nós, façam uma consulta popular para o projeto,
Escutem a População, vocês só terão a ganhar com ideias e possível economia do
nosso dinheiro.
O Bairro Adelino
Henrique, o Bairro Gilda Ramos e a lateral do colégio Estadual Gilda Ramos
merecem uma praça, e a população de lá ficaria feliz com essa construção. As
praças da Barragem, do Estádio, da Câmara, do Cruzeiro, precisam de reforma, e
a população dessas localidades estará disposta a discutir um projeto útil e
confortável aos usuários e conviventes (quem mora nas redondezas da praça
convive com ela, não a usa apenas).
Até aqui a
grande marca desse governo tem sido o empenho, e a praça na CEPLAC é o produto
mais comentado. É muito positiva a ocupação social e comercial do ambiente. Poderia
ser melhor com toda certeza, mas mostra uma vontade de fazer que tem o meu respeito.
Mas alerto que essas decisões administrativas precisam ser comunicadas com o
povo e ser transparentes, desde a apresentação do projeto, a seleção dos comerciantes
(para evitar despejo de quem de fato fazia uso do espaço anteriormente, e
contemplar a comunidade vizinha da área), e também na apresentação do orçamento
e do gasto final, porque vocês estão gerindo o nosso dinheiro, que honestamente
no caso da praça da CEPLAC, para mim e para todos a quem perguntei, é uma informação
desconhecida.
Não quero que
esse comentário soe como uma acusação ou critica partidária política, não tenho
a intenção de ficar com ‘picuinhas’, mas com a informação e formação
profissional e acadêmica em que fui construído, pelos meus pais, pelos
professores locais e pela comunidade geral, que me fez um cidadão, não posso
apenas assistir decisões sendo tomadas sem a transparência e a participação da
população.
Esse comentário
visa contribuir com as decisões de vocês. Gostaria muito que o legislativo
municipal fizesse seu papel de fiscalização e acompanhamento das ações do
governo em favor da população, mas como não é uma prática municipal há muito
tempo, estou aqui me expondo como cidadão, fazendo esse papel.
Ouvir o povo e
discutir projetos é o papel de qualquer administração pública respeitosa e
digna, o que espero ser uma característica da Prefeitura Municipal de Jitaúna.
21 de novembro de 2016
30 de setembro de 2016
A Fantástica Festa do Povo de OTA
OTA,
esse mundo incrível em que habitamos, nos surpreende sempre pela magia de seu
povo simpático e afável, que a cada quatro anos se permite o belo e o grotesco,
num show de primitivismo humano diante os olhares nublados da comunidade. As
ações e comportamentos das mais variadas pessoas, com suas variadas índoles e
históricos, são de um inclassificável absurdo social, que provavelmente será
esquecido ao longo dos próximos quatro anos.
O
que se vê, só não vê quem não quer ver.
Em
OTA, quando outubro se aproxima, as cores se definem, os gritos se superam, as
figuras se apresentam e a turba se aglomera em um ritual abstrato de egoísmo
coletivo travestido de esperança e salvação. Os heróis e vilões se alternam na
visão de seus seguidores, e as promessas são ofertadas ao vento com menos
profusão apenas as ofensas e ameaças ofertadas a quem diverge no pensamento.
Não se perde mais tempo conferindo currículos, propostas e possibilidades. O
que se mede é a força da presença em eventos, regados a dispersão do palco,
perfumados pelos conhaques e cachaças, sonorizado por parodias que em suas
versões originais são sempre de gosto duvidoso e animados pela sempre santa
ignorância desse povo de OTA.
Em
cima do palanque a mais estranha fauna de candidatos se reveza em discursos e
grunhidos, gritos e fanfarrices, sem sentido ou lógicas plausíveis para a
necessidade estrutural que os cargos requerem. O deus desocupado que ocupa o
céu é solicitado em orações e profecias, defendendo os candidatos que se auto
intitulam escolhidos para a árdua missão de comandar este tão sofrido povo de
OTA. Destinados a guia-los na travessia dos tempos difíceis, estes salvadores
costumeiramente tendem a enriquecer, ainda que solitariamente, após o mandato
de origem divina, enquanto o povo traído pelo falso profeta elege um novo
líder, para uma nova caminhada, para uma nova frustração.
Ainda
no pé do palco, o povo cansado nem liga de fato para o que é falado. Pouco
importa o proferido, o candidato já está negociado, o santinho guardado, o
eleitor marcado na contabilidade do candidato, a nota de gasolina separada na
mão do filiado, a ficha do álcool entregue, o olheiro esperto com os
infiltrados, e tudo em dispersão até o chamado ansiosamente aguardado: vai
começar a passeata! Sai gente de todo buraco, vestidos com seus abadás, pulando
e vibrando, transpirando uma emoção que faz da campanha uma questão particular.
Quando
a turba monocromática desce a ladeira do BESSIL em uma efervescência que beira
o êxtase, sob o estouro dos custosos fogos de artifícios, a multidão alucinada
lembra uma escola de samba no carnaval carioca. A charanga batuca no meio do
povo, fortalecendo esse vínculo imaginário, levando o momento de analise a se
tornar um momento de entrega. E nesse louvor pagão todos os credos, cores,
status e gêneros se misturam sem o preconceito comum do dia a dia. E é nesse
momento alucinógeno de comunhão que nos aproximamos mais da utopia de um mundo
igualitário, sem barreiras e sem castas, mas dura o tempo da descida, e depois
a festa acaba. Além disso existe o mal impregnado no opositor e sua corja, que
assiste de camarote a nossa festa. Amanhã somos nós os espectadores, e as
sensações são as mesmas, se repetem continuamente, como num quarto de espelhos.
O
outro estar errado é uma certeza que temos.
Mas
o campo de batalha é maior agora com os adventos tecnológicos. As redes sociais
são os novos ringues para os discursos inflamados, lotados do desconhecimento
da língua portuguesa e do uso indelicado de palavras chulas. Já as reuniões com
o eleitorado e com os cabos eleitorais se dão em grupos do Whatsapp, o que
oferece maior comodidade aos famosos ‘puxa-sacos’ que podem derramar seus
elogios sem sair de casa.
Por
vezes alguns arautos da comunidade se arriscam em textos pouco lidos e muito
comentados, boa parte como resposta aos comentários curtos e despreocupados com
a boa educação. Nesses textos a busca por uma imparcialidade fajuta se esvai na
crença pouco crível do autor que ele possui a solitária razão sobre a situação
dos candidatos e da cidade. Nós, todos de OTA, vivenciamos as mazelas e as
angustias de nosso mundo, e percebemos o quanto é interessante um
posicionamento prévio, ainda que “imparcial”, para sermos vistos e lembrados
quando o futuro chegar. Seria injusto dizer que as pessoas de OTA não se
preocupam realmente com uma cidade melhor, mas é natural o desejo de que essas
melhorias nos atinjam primeiro.
A
mudança que ocorre em especial neste atual período em OTA é impressionante, não
como resultado de uma política pública, mas como uma ressonância estritamente
ao nosso modelo político. O povo que antes se enamorava pelos ídolos, que se
comprometiam com seus salvadores, agora agem de modo mais cauteloso e astuto,
de modo “politico”, do mesmo modo com que foram tratados nas últimas décadas.
Agora as famílias se dividem, não por divergir nos ideais, mas para garantir a
aproximação de um dos entes ao elegido. A miséria que afeta os derrotados no
período do mandato agora tem uma alternativa, alguém aqui em casa estava do
lado certo, um pensamento impuro e certeiro que impera. Outro comportamento que
se fortalece é a negociação à vista pelo apoio. Aquela promessa pós-eleição de
emprego, de ajuda, foi desacreditada diante as gestões que se sucederam. A
promessa real é a que mostra o Real ($). O povo de OTA cansou de apenas
acreditar, o povo quer ver.
Mas
ainda que em sua sabedoria ilícita, nosso povo continua sendo de OTA, pois faz
parte da nossa essência sermos quem somos. E elegermos representantes que saem
de nosso seio social, pessoas que são contumazes em vivenciar nossa realidade
cotidiana, não faz parte dos nosso planos. Outra coisa impensada é a
capacitação dos indivíduos para exercer tais cargos. Eleger é uma ação de
pagamento por bonanças ou agraciamento pela convivência ou parentesco. O certo
é que diante o hall de candidatos que se apresentam fica evidente a ausência de
interesse de ‘pessoas de bem’ nos pleitos em nossa boa terra de OTA.
Política
é coisa para corruptos, desde o povo até o poder.
Mas
a festa tem data para acabar, e com essa data acaba a vida de OTA. A cidade se
esmaecerá, os ímpetos se recolherão as suas insignificâncias e dentro de nove
meses o sentimento coletivo se aplacará e retornará ao que lhe é comum, a
insatisfação.
Os
derrotados, calados em seus cantos, buscarão rotas de fuga e alternativas mais
duras para prosseguir. Os vencedores arrotarão poder e arrogância até a data da
posse, tossindo confiança até o momento que não sobrar mais cargos e a
expectativa de melhoria de vida se esvair por mais um período. Porque a
verdadeira certeza de dias melhores recaem apenas aos elegidos, em suas
autoridades temporais alimentadas de gordos salários e poder de barganha na
busca sempre de ‘um a mais’.
A
festa do povo é um engodo esporádico e cíclico, que enche o espirito local da
beleza da fé e da algazarra, e revela o monstro abissal que habita em cada um
de nós. A voz que nos reverbera internamente é o bicho guloso que se preserva
ainda que inconscientemente. O egoísmo eleitoral é a minha intenção de
interesse pessoal, familiar ou de grupo, sem a análise geral do mundo em que
vivo. Mas eu sou de OTA, e isso me redime. E as alternativas também não são tão
distintas...
Quando
se encerra o prazo e se imprime o resultado das urnas, o que se contabiliza é a
vitória épica de nossa ignorância. A ânsia de um futuro melhor já nos escapou
do sonho. O que nos resta é o abandono da utopia e a alegria insonsa de
garantirmos ‘o nosso dia a dia’. Mais o que vale é que o povo de OTA foi muito
feliz na festa em BESSIL.
E a vida segue em OTA... como segue por todo o Brasil.
23 de setembro de 2016
...na Corda Bamba, meu Caro Amigo.
Meu caro amigo, me perdoe por favor,
pois não lhe faço uma visita.
Mas essa vida dura de trabalhador
só me dá tempo pra esse e-mail.
Aqui no meio tá ficando complicado,
todo menino já nasce 'politizado',
tem tanto crime precisando de um culpado,
E vamos vivendo como dá, na corda bamba,
pois na verdade já não se vive mais de samba
e mesmo o Chico tem seu lado.
A batida lá na rua é o 'panelaço' das madames;
o pão com mortadela e os guerrilheiros com bedames
reclamam seu espaço na tevê e nos reclames
mas ninguém se ocupa em por ordem na bagunça
e o país inteiro é um puteiro, uma furdunça.
A minha crença em igualdade é história do passado
melhor é crer no céu e no deus loiro bronzeado,
pois nesse pessoal, já deu!!!
...
9 de junho de 2016
. # )
no tempo de me ser já não sei se sou bem...
a vida é uma história de presentes
muito além do que se pode imaginar.
eu vou amando o que posso e o indevido,
curtindo a posse do que não é permitido
e sendo escrito pelas brechas da razão.
o que bate tão impreciso no meu peito
é o amor de ser e não.
12 de maio de 2016
12 de Maio
Reunidos madrugada adentro,
políticos decidem mais um passo na história brasileira. Não houve assombro com
a decisão proclamada. O povo em seus lares ou já nas ruas a caminho do trabalho
se assombraram ao saber que os políticos, quando querem, também fazem horas
extras.
Depois de um dia inteiro de
proclames e discursos o colégio eleitoral no Senado, comparado pelo escritor
Ruy Castro a um ambiente ginasial pela tamanha demonstração de descompasso
intelectual em suas palavras ou nas dificultosas leituras dos ensaios de
assessores, decidisse pelo afastamento da então Presidente da República. Essa, diga-se
com méritos, outra baluarte no desencontro com a oratória. Se o Senado é um
ambiente ginasial, a Câmara seria um primário com seus alunos mal-educados,
birrentos, cheios de vontade e ignorantes, o que promove maior valor a analogia
feita por Ruy.
O que de fato acontece hoje não é
uma mudança, pois o modelo na prática governamental permanece, com as negociações
de ministérios e a tentativa de abafar os escândalos de corrupção. Tampouco é um
golpe político, já que os elementos existem e o rito processual respeita
ordeiramente o que estipula a constituição. Enquanto os defensores da
presidente alegam a votação popular como garantia legal para se manter no
cargo, esquecendo-se que o vice fora eleito conjuntamente, e que é a eleição o
primeiro requisito necessário para que haja o impedimento, como é requisito
essencial à morte, que tenha havido vida. Os acusadores em sua explanação se
esquecem de suas parcelas de culpa no caos governamental e de gestão, já que
juntos abraçaram o país enquanto os comparsas esvaziavam os cofres públicos.
Não haverá mudança. Infelizmente não
há perspectivas no horizonte. Contudo, com certeza não seria a inércia o
melhor para o momento, pelo simples fato de que esse modelo se apresentou
viciado há uma década, mas nossa benevolência egoísta do agraciado nos impediu
a exigência de mais moralidade e ética na vida política, permitindo a preservação
do gestor que ‘rouba, mas faz’. Desde o escândalo do mensalão o governo vem se
defendendo de acusações e denúncias, não tão investigadas, de corrupção, até
que a operação lava-jato vem à tona e não alivia seu empenho em prol dos
políticos no poder.
De fato, a corrupção parece crônica,
porem o mais devastador é a ilusão desmascarada que destrói o sentimento utópico
de um país mais digno. O país do futuro está temporariamente adiado.
O Partido dos Trabalhadores não destruiu
o Brasil, como também não o inventou como prega em suas propagandas. De fato
devemos valorar as políticas públicas implantadas nos últimos 13 anos, mas não devemos
diminuir a importância das ações de governos anteriores que contribuíram com o cenário
positivo que possibilitaram tais medidas. A política ao fazer arroubos históricos
de autopromoção auxilia na manutenção da ignorância social.
Por vezes se inventa tanto uma
verdade artificial que acabam por acreditar em suas fantasias, talvez seja este
o espelho mais próximo da realidade do partido no poder. Mais do que o livro de
Romeu Tuma Jr., é o próprio PT um assassino de reputações, muitos dos quais membros
de seu quadro partidário. Os dissidentes do partido durante esses anos de
governo criaram partidos em oposição ou com ideias divergentes, correligionários
foram afetados com fracassos eleitorais por ausência de empenho da bancada nas campanhas,
bem como o apadrinhamento político na indicação de candidatos promoveu a desmotivação
de figuras centrais do partido, que debandaram ao não se enxergar na lógica do
poder. Marina na Rede, Heloísa no PSOL, Pinheiro desligado e Suplicy sem
cadeira no congresso, são figuras que mostram o quanto internamente esse
governo não consegue gerir democraticamente a oposição de ideias.
Não se deve, principalmente,
esquecer o nome de Dilma, candidata imposta pelo presidente Lula, até então uma
figura técnica, sem carisma ou conhecimento político para guiar o país. Talvez
seja a questão de sua figura que provoque tanta paixão, para mantê-la ou
destroná-la. Enquanto os governistas a viam como vítima, resultado de sua própria
incompetência, os opositores a viam como negligente, agindo ciente do erro, porém
ambos, contudo, ainda que em seus íntimos, concordam que ela foi extremamente irresponsável
ao não realizar os ajustes necessários para a boa gestão do país, e em seus
discursos desconexos ainda orgulhosamente defendia o absurdo, ‘o brasil estava
bem’ e ‘eram os outros os culpados do caos’. Ela caiu sem entender o que fazia
ali, e acredita que ainda resiste.
Depois de um oligarca latifundiário,
um playboy, um velhinho fanfarrão, um acadêmico boêmio, um aposentado
sindicalista, uma especialista em cargos comissionados, é a vez de um jurista
de penteado lustroso presidir a república democrática do Brasil. Nenhum trabalhador
comum de fato chegará ao poder, pois ainda que o trabalho dignifique, ele não promove
ascensão social, muito menos política. Os bons profissionais no brasil
permanecem em suas profissões, os demais ou perdem a função, ou trilham
caminhos políticos, quando não raro, se tornam políticos sem função.
Nesse samba de roda sem santos,
mas repletos de inocentes, podemos observar que a política nacional reflete de maneira
fiel a sociedade que representa. Uma gama de figuras despreparadas para os
cargos que ocupam, com pouca educação e tolerância, repleta de vícios na busca
por benefícios pessoais, arrogantes e orgulhosos que ao serem descobertos em
seus erros vestem os seus mantos e se ‘vitimizam’, sendo sempre ameaçados pelos
mais poderosos e sofrendo das fatalidades da vida. Nunca somos responsáveis por
nossas mazelas. A constituição cidadã nos garantiu diversos direitos,
esquecendo-se de valorar os deveres de cada um para com seu povo e seu país.
Dessa forma seguimos em frente.
Aos atuais 11 milhões de desempregados
somamos agora o ex-senador Delcídio, cassado por decoro ao atuar atrapalhando a
justiça nas investigações, e os presidentes impedidos, Dilma e Cunha, que
receberam seus avisos prévios. Se política for emprego, aparentemente está perdendo
a estabilidade, se for função social, ainda temos milhares a cassar nos estados
e municípios do país, sem esquecer os nobres suspeitos de Brasília.
Fica evidente a necessidade de se
reinventar a nação, mas uma reforma política realizada por estes políticos não nos
instiga credibilidade. Devemos qualificar essa democracia que é acessível, mas não
exige o mínimo de conhecimento, para não ser prolixo na questão da ética e da
moralidade.
O Senador Cristovam Buarque no
ano de 1999 em seu manifesto-proposta para a erradicação da pobreza no Brasil,
intitulado A Segunda Abolição, onde ele apresentou proposta que vieram a ser o ‘Bolsa-escola’,
o ‘Minha casa, Minha vida’ e as ‘Escolas Técnicas’, defendia uma coalizão partidária
para uma revolução social. Em suas palavras, ‘’uma coalizão que se fará por
razões éticas, e não por razões políticas’’, já evidenciava que política e ética
dificilmente andam de mãos dadas em nossa pátria.
Enfim, assim chegamos a essa data
sem nada a comemorar.
Amanhã é 13 de maio, e como canta
Caetano, "dia 13 de maio em Santo Amaro na praça do mercado os pretos
celebravam, talvez hoje inda o façam, o fim da escravidão, da escravidão, da escravidão...’’
talvez um dia, quem sabe, possamos celebrar o fim da ignorância cultural,
social e política, e assim termos de fato uma pátria educadora que transforme
as massas de analfabetos funcionais em cidadãos dignos com uma vida mais justa,
num país mais sério. Uma verdadeira revolução nessa democracia fajuta que nos
torna refém de um país miserável.
Uma segunda abolição que nos liberte a mente
e a alma.
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