A rua cheia de pés que rumam ao mesmo lugar numa procissão silenciosa de
pensamentos inquietos e sofridos a respeito daquilo que é comum a todos os
andantes. Entre olhares desconhecidos e acolhedores a sentença única da dor que
é dividida, mas não suplantada. Vai um corpo na caixa de madeira e de certa
maneira o espectro daquela vida se eterniza na massa que a segue.
Cada
um carrega consigo uma ausência particular daquela que se esvai na história e
no tempo, uma intensidade única e particular de afeto que machuca o peito e
corrói a alma. A dor se espalha no olhar de quem conheceu há pouco tempo e vive
a curiosidade que se esbarra no não contínuo; na incerteza de quem teve todo o
tempo e não acredita ter aproveitado bem; na desilusão fatal de quem amou e não
possui o bem querido, e pior de quem possuiu, mas não teve coragem amar; de
quem conviveu situações íntimas e sigilosas que serão sempre lembradas por sua
importância e resultado; e a dor suprema de quem deu a vida e não acredita que
essa mesma se foi tão cedo.
Cada
um carrega consigo um abrigo imaculado pra quem nos deixa aqui, e vela em sua
memória a gloria do tempo em que viveram juntos. Vai o dia se findar numa
sensação de vazio que não vê remédio, a não ser as horas que virão e lentamente
solidificarão essa angustia líquida que escorre dos olhos. Depois de toda dor,
virá o brilho do sorriso moreno que há de afagar a alma com a vibração de vida
que ela espalhou...
A
vida se esvai do físico pra se expandir no infinito.
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