“
Depois de um tempo meu ‘fí’
todo homem tem que entender o seu lugar.
Quando eu era um menino moço,
‘muderno’ como essa juventude de agora, a vida era outra. Os menino da fralda
passava direto pro trabalho. O homem pra ser homem, tinha que estufar o peito e
labutar de ‘só à só’ pra conquistar o prato de farinha. Os pais da gente eram
tudo ignorante, mas ignorante no ponto da brutalidade, duro como pedra,
daqueles que faziam o ‘currião’ cantar no menor sinal de afronta.
Naquela época é que o povo era
valente de verdade. Quando começava uma peleja, os ‘brabos’ amarravam as
camisas e o facão cantava até o sangue ensopar a roupa do mais fraco. Não tinha
essa história de atirar e correr no rabo da moto. O homem de verdade olhava o
inimigo no olho e dizia “agora tu vai morrer seu ‘fi duma rapariga’”, e o
‘miserávi do fela da rapariga’, se fosse homem mesmo, chamava no ‘biscó’ antes
do primeiro terminar o dizer.
No mundo de hoje as coisas é
pior. A juventude se perde nas porcarias. No meu tempo a gente crescia no uso
do fumo e da cachaça, que até hoje eu carrego, num vou negar! Mas também se eu
ficasse no chão, pai nem mãe eu queria incomodar. E no outro dia, fazendo chuva
ou ‘só’, podia ir na roça que eu tava lá. Os meninos de hoje já cresce querendo
ser vagabundo, é o fim do mundo, como já dizia minha finada mãe.
Deus num fez o mundo assim
não. Vai chegar um tempo que os homens vão querer um canto de paz e sossego e
vão achar na morte esse cantinho de remanso.
Mas, mesmo assim, eu é que não
quero descanso.
”
Será possível no futuro que eu
me lembre do presente agora de maneira tão romântica.
Torço para que não, do
contrário prefiro não imaginar o futuro que me aguarda.
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