- descobrir-se é uma ventura
insanamente adorável.
No desejo a inocência é infante e
a maldade é adulta, a juventude é o tempo da malícia tolerante. Um adolescente
que busca se conhecer vai além de todas as pistas para ter o que não sabe. Cada
curva, cada noite, cada segredo que se guarda é uma arma na incerteza do
disparo. Cada beijo, cada toque, cada vontade que se exalta é sem data a
lembrança que se esquece, ainda que o olhar não passe despercebido pela
nostalgia de um relembrar.
Dois jovens afoitos, na suspeita
encabulada de um coito, escorregam pela rua, desconfiados e tagarelas. A menina
magra que floresce lentamente não pressente as cicatrizes desse instante; o
garoto alarmado pelo prêmio conquistado quando não era previsto, sente um misto
de heroísmo e malandragem. Ambos crescem nessa noite bem além de suas idades. Sentem
o gosto do prazer e o temor do revelar. Num novo encontro é aquele encanto
encabulado de travessos perdoáveis, guardam mudos por saber que não sabem o que
falar. Ambos olham e já sabem o que querem repetir.
Depois se cresce, envelhece-se na
verdade, e a pureza inocente se despe em maldade, maldade boa, saborosa, mas
sem o charme da insegurança. Pois do adulto e da criança pressupõe-se que são convictas
as ideias, ainda que de inversas belezas. Mas ao adolescente é permitida a imprecisão
da insonsa safadeza.
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