24 de dezembro de 2010

História de Natal

Esta história começa no inicio do século passado. Uma criança que nasce num berço humilde, filho de camponeses já cheios de filhos. Menino que crescendo presencia a morte do pai, a fome da mãe e a pobreza que vai assumindo protagonismo em sua vida. Junto com seus irmãos assiste o definhar calado da mãe no seu leito de miséria e dor. Dor de não ter o que comer e não ter o que oferecer aos seus meninos espalhados ao chão. Chão de uma casa de farinha que presencia o desfazer de uma família. Família que perde o sentido nos rumos distintos que cada um faz em seu destino. Uns morrem, outros somem, mas alguns, incluindo aquele menino, conseguem se reencontrar e construir uma história.
Ele cresceu no labor da vida. Foi homem do campo, colhedor de cacau, ‘cuidador’ de animais; Foi homem do progresso ao abrir estradas, construir igrejas, levantar sobrados; Contudo o que se destacou em sua história foi ser homem de família. Teve seus filhos, criou-os em sua modéstia, nos seus ensinamentos silenciosos, na sua sabedoria interminável freqüentadora da vida e ausente da escola. Fez-se um homem de fartura na mesa, de casa cheia, de sorriso fácil, de alegria evidente na face marcada pela tragédia escondida.
Seus filhos lhe deram netos, seus netos bisnetos. Sua mulher morreu e ele se casou de novo. Criou outra família, fez dos filhos de outros os seus. Viveu sua aposentadoria em momentos de simplicidade serena, com dificuldades preservou-se vivo. Seu coração batia diferente.
Hoje esse velhinho ouviu uma criança pedir comida a uma pobre mãe que não soube o que falar. Hoje é natal. Ele fez seus caminhos, seguiu sua rotina, e encontrou a menina na porta de sua casa. Como quem quer fazer uma surpresa trouxe num pacote embrulhado uma boneca. A menina com fome sapateava na sua frente e o pobre velho não sabia quem estava mais contente. Então emocionado saiu discretamente por conta de um coração fragilizado. O seu coração é maior que o peito.

“Quem pede, pede chorando
Quem dá merece vontade
Coitado de quem pede
Pela sua necessidade.”
Dezin

O natal é todo dia em que a bondade renasce no coração do homem.


Um comentário:

Augusto Andrade disse...

Enquanto lia, imaginava cuidadosamente a cena na minha cabeça... E me emocionei, por saber quão verdadeiro é o setimento que esse bom velhinho teve!
Que seu coração aguente e que bisnetos deem bisnetos!

Amo essa criança magrela de 80 anos.

Muito bom!

Só me resta... Feliz Natal!