5 de março de 2011

LENÇÓIS EMARANHADOS

Sobre os lençóis emaranhados de uma madrugada sonolenta o celular vibra informando uma mensagem. O ponto de partida das palavras noturnas se encontra em silencio na expectativa da reação de quem as lê. Ali deitado ele dorme na sua imbecilidade ingênua e cansativa de uma rotina sem esperança.
...
Levanta-se suado sob um céu enluarado de verão. Com a mão busca pela parede o interruptor. Ainda cego pela iluminação que o envolve procura o celular na ânsia de observar as horas, afinal a muito os celulares aposentaram os relógios. Vê o símbolo do SMS no alto do visor, abre a pasta, despreocupado como quem espera a resposta do saldo dos créditos telefônicos, e avista o nome inesperado no cabeçalho da mensagem. Ela, que ele já não imaginava, que em seus sonhos já era figura escassa, que fugiu da realidade de sua vida tão rápido quanto um estourar de um balão.
Em duas frases com cinco palavras ela escreveu uma notícia tão efemeramente intensa que sequer a bíblia naquele momento poderia promover tamanha emoção comparada com aquelas orações de palavras suprimidas. Era tão fascinante a leitura que honestamente ele não acreditou de imediato. Mas não seria muito inteligente desacreditar na surpresa agradável que ele acabará de receber. Era ela, e queria ele.
Levantou-se apressado, vestiu o que lhe coube e rumou em direção as estrelas de uma noite encantada. Cada passo sonhador promovia a leveza da alma endiabradamente apaixonada. Seguiu pelo caminho de paralelos discretos até seu destino. A porta estava fechada, a luz acesa escapava pelas brechas da fechadura, e o som da televisão ligada se ouvia da calçada. Ela esperava alguém e esse alguém acabava de chegar ao seu momento.
Após um breve e suave toque de campainha o olho mágico vislumbrava sua resposta. A porta se abre e os sorrisos mútuos já abertos em satisfação se encontram. Faz-se silêncio entre eles, a TV atravessa a madrugada num dialogo desconexo desse filmes de western em uma dessas sessões para pessoas insones. Os corpos se lançam como o vento em direção ao continente, a porta se fecha, os lábios se somam, as peles se unem. Os seres se amam sob a luz testemunhal da lua, sob o som estranho da TV, sob o calor infernal de um verão celeste.
Ali, prestes a consumação no fogo de seus desejos, eles sabem que será aquela a ultima chance de se sentirem seus, um entregue ao outro como se houvessem nascidos para este único propósito, mesmo que na imaginação de seus corações imaturos. Eles se perdem no encontro das vontades. A madrugada se escreve em chama na cama daquele amor que vivia enfim o seu final.
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Sobre os matinais lençóis sonolentos e emaranhados ele acorda. Olha o celular sem entusiasmo. Já não espera a mensagem, pois sabe, nunca vai chegar.

Um comentário:

Anônimo disse...

O sonho em algumas circunstância nos parece tão real que jamais gostaríamos de acordar .