Um homem ajoelhado diante o mundo
aguarda a sentença de seu executor, atônito um menino no interior desse
universo assiste o espetáculo de horror real. Mais cruel do que a cabeça que
rola ao chão no golpe impiedoso da espada é a imagem da plateia presente na
cena do crime, formada por homens e crianças que aceitam tal ritual como
natural, olhando de maneira insensível o findar da vida de um ser com prazer de
quem acredita que todo esse processo é divino. A religião já foi denominada o
ópio do povo. Sem análise espectral, é sim um grande organizador social, mas
quando é instrumento do fanatismo se torna uma arma de destruição sem
comparação na linha histórica da humanidade.
Aquele homem sem cabeça é um cidadão
do mundo, não lhe cabe uma nacionalidade, e talvez por isso, não exista
exército que o defenda ou que o vingue, não existe nação que o represente. É um
homem desprezado pela humanidade. Seja em solo árabe ou africano, os bandos que
propagam estes costumes assassinos não precisam de motivação para exercer suas
vontades infames, estão protegidos por sua insanidade e muitas vezes pelo
espirito democrático dos povos alvos de seus atentados.
O terrorista é um soldado da guerra,
e em qualquer terreno ou tempo merece o julgamento de guerra. Não há condenação
justa que não seja uma perpetuação de sua ideia anormal de mundo. De fato o
terrorista morto cumpriu sua jornada de maneira exemplar, viveu e promoveu
guerra, chocou o mundo e apodreceu como imaginava, mas o cidadão que jaz
decapitado em vídeos pela internet não descansa, não se finda, não se realiza.
Um corpo inerte que se deteriora a
cada visualização abismada, que se expressa em silêncio. O mundo que aceita tal
atrocidade potencializa a continuidade dessas ações. Ainda que entenda e
valorize a evolução do pensamento humano, acredito que o mais adequado a intolerância
é ser intolerante, contra o terrorismo pregar o terror. A grande fraqueza da
democracia é a extrema valorização do seu valor moral. A defesa da dignidade da
vida não se encaixa de maneira justa quando se emprega no julgamento ao
terrorismo. Como se pode imaginar que o carrasco de um mundo pacífico pode ser
protegido por sua vítima.
A selvageria desses homens já nos contaminou.
Sinto que enquanto o carrasco mantiver sua cabeça sobre o pescoço o esboço do
mundo será sim o apocalipse, mas o fator que impulsiona as ações militares de
pacificação não tem muito interesse na paz ou mesmo na dignidade da vida
humana, esses conceitos não são lucrativos, logo não deve ser investido tempo
em dinheiro em sua busca. Deixem às garotas prisioneiras, os pobres dizimados e
o inferno de crânios se prolongarem, combate-lo é desgastante e oneroso demais.
O menino do interior desse universo
sente a faca traspassar sua garganta lentamente, sente a dor latente de um
futuro enegrecido pelo ódio e se consome na incapacidade de se lançar ao
combate. O mundo arde em chamas, Deus já se ausentou.
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Foi há 1 ano, há 10 anos, como foi anteontem... tem sido
frequente, e a gente se assusta toda vez novamente por não entender como pode
tal barbárie ser produto de gente, que se sente excluída, abusada, ultrajada em
seus costumes, credos e paz, mas que responde com o extremismo imbecilizante da
violência contra outra gente que em sua rotina nada de mal faz.
WTC – Metrô de Madri – Charlie Hebdo – Boates em Bali – Ônibus
em Londres
Shopping em Nairóbi – Trens em Mumbai – Boêmia
Francesa – Democracia do Mundo
Lá e Aqui
O terror
se expande dentro de nós, mas o medo não vencerá a razão.
We are Humans . Nous sommes humains
نحن بشر
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