3 de novembro de 2015

Uma Carta de Desculpas


Não quero enxugar mais as lágrimas que escorrem pela curva do teu rosto, nem ter o desgosto da culpa que me persegue agora. Sei que faz tempo que horas assim se repetem em nossa rotina, quando o Mister Hyde me possui em doses discretas e você menina se esconde na sombra de nossos dias. Não quero teu perdão, pois será vão, como tem sido até aqui. Quero tua atitude de basta. Quero a castidade do sonho e a igualdade da vida. Somos diferentes e devemos entender e respeitar isso, afinal de contas, somos, sim, iguais.
A vida é paradoxo.
Nas coisas mais tolas o monstro do homem se apresenta. É no olhar tarado sobre as genitais, como um cachorro que assiste churrasqueira de frango. É no desconfiança das capacidades, quando o cargo é alto e o salário é sempre inferior. É nas piadas infames sobre inteligência e direção. É na construção de uma imagem sexualizante que deturpa a beleza singela de cada uma em suas diferenças. É no respaldo divino em que a submissão se baseia, pois veja, um ‘deus macho’ determina que o poder é do homem da casa, e não há o que contrariar.
Ontem fui grosso e as palavras te machucaram. Eu era eu, não há apelo a um outro ou a um momento estranho. Estranhamente eu ajo assim sempre que as condições incidem. Eu sou reflexo dessa cultura de sexo que se estabelece em minha comunidade. Não importa a cor, a idade, nem mesmo o gênero, meu mundo é machista, e mesmo a artista que faz propaganda contrária ao rito é só mais um grito que reverbera fugaz numa dimensão própria de demagogia.
Eu sou culpado, mas o júri me absolve por ser similar. Não irei preso, pois o sistema é de ressocialização, e eu já estou socializado com a conduta. ‘Mulher é coisa frágil, é objeto, é submissa.... O homem que pensa o inverso disso só pode ser um fraco, e sendo assim é ‘mulherzinha’. Tá na hora de sair da cozinha, mesmo que você goste de cozinhar (eu adoro), e vir pro fórum que busca seu espaço de garantias.
Quando te fodo como um louco pra te fazer gozar não é gratidão, nem tem a intenção de me sentir o maioral, é um direito seu sentir o prazer que você me provoca. Quando as contas chegarem e formos dividir é porque decidimos ficar juntos, não como posse e peso, mas como parceiros. Quando suprimo em níveis aceitáveis meu ciúmes em suas escolhas é por entender que estamos juntos por que queremos, então não existem motivos para amarras. A mulher é um animal como o homem, não pode haver domesticação intra espécie.
Amor, me desculpe por ser machista, me desculpe por você ser machista, me desculpe pela ativista machista que visa suprimir a igualdade em busca da supremacia inversa. Somos uma espécie de seres em auto extinção, e não teremos êxito se a convivência se basear no respeito.
Mulher deve ser bela, educada e prendada. Melhor se a bunda for grande, e se for grande os peitos. Mulher não precisa opinar, nem trabalhar, nem ter orgasmos. Eu posso não pensar assim, agir assim, mas eu aceito. E sendo omisso com teu direito, não te respeito. Eu quero ‘sair pra fora’ desse machismo, assim mesmo, no pleonasmo.

Desculpe-me por sermos árvores dessa cultura tão velha e ultrapassada. Vamos mudar a alvorada e enfeitar um novo mundo.

Nenhum comentário: