Madrugada de inverno no tempo lá fora onde cai à garoa e a nevoa encobre a cidade lenta. Dentro do homem que escreve, um vento frio corre nas entranhas fazendo da alma uma estranha abandonada nas calçadas de seus sóbrios devaneios. A calma que transpassa a linha do tempo num silêncio infinito soa quase como um sussurro ao pé do ouvido. Ali entre o turvo e o imaginário, habita a dor pungente de uma sensação costumeira.
Diante de mais uma ilusão nessa vida marcada por despedidas, ele se vê calado na certeza de que assim será mais fácil assistir o amanhecer na vida de outras pessoas a quem só é possível desejar a felicidade. Cá o que acontece é apenas mais uma insônia desgastante ao corpo e a mente. Esse delinqüente sem crimes vive sua prisão na incerteza das alegrias, na insegurança de um sonho bom, na angústia de um resquício de felicidade para ele também.
Depois de encoberta a última luz amarela do poste da rua, a sua face desfalece como se se encontra seu próprio reflexo exausto de viver. Olhando a si, nada lhe parece aceitável. As nuvens brancas que se assentam sobre sua cabeça, trazendo o frio, fortalecem a presença de sua fiel escudeira. Ali sentado no passeio da casa a solidão o acalenta nessa madrugada de inverno na cidade lenta.
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