Todas as noites quando me ponho
sobre a cama e ajeito o travesseiro, sinto o aperto em dividir este espaço com
tantos fantasmas do meu passado. O peso desolador daquelas imagens distorcidas
de uma lembrança que não quero ter, a sensação de compressão que se espalha
pelo peito, o medo de encarar aquelas cenas perversas infinitas vezes. Viver
com meus erros, com os erros dos outros, e principalmente com os não cometidos,
faz-me um ser igual a todos, e nada me angustia mais do que essa sensação de
massa, pois na minha consciência, leiga
e jovem-adulta, o pior paradoxo é essa ideia de solidão e multidão.
Queria poder fazer um ‘Ctrl +
Del’ e excluir definitivamente as insones recordações de outros eus, e vagar
pelas estradas das possibilidades que meu passado guarda, as encruzilhadas que
nunca serão desbravadas, pois as escolhas que fiz me trouxeram a este destino,
e desconheço maneiras de viver realidades paralelas. Ao tempo disso, ainda
existe o apego pelas conquistas que me possibilitei viver, os bens que adquiri
e me fazem o melhor que posso hoje, não há como desapegar. Não existe uma vida
perfeita pra ninguém, mas é duro admitir que a vida do outro também possa ser
assim tão cheia de incertezas, desilusões e dores, se no mais íntimo de nossas
essências vive o embrião-mestre de nossas características, o ser egoísta que
por temporalidade do ser não pode se permitir sofrer pelo outro, já sofremos o
bastante por nós mesmos. Queria apagar todas as noites e acordar com a
alvorada, ainda que os pensamentos diurnos me trouxessem todas estas incursões
tenebrosas dos ‘fantasmas nossos de cada dia’, pois o desligar faz bem, e é
preciso não pensar de vez em quando. Mas já que optei por encarar essa jornada,
vou viver a caminhada de maneira limpa, amargurando cada dor em sua etapa e me
esforçando para ser melhor de maneira progressiva. A vida é uma colcha de
retalhos coloridos e estampados, nem todos os retalhos são bonitos.
...envergo mas não quebro!
2 comentários:
E o que traçamos é o que fica ae marcado. Uma trajetória, de outros caminhos desconhecidos que as vezes nos invadem e deixam inúmeros questionamentos.
Ae você para. Se reconhece como você mesmo, é o que escolhestes e o fizeste de si para a vida. Ou a vida fez de si?
E segue.
por ai......
seguindo
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