3 de fevereiro de 2013

O homem & o fumo enrolado em papel de seda



Depois de um tempo meu ‘fí’ todo homem tem que entender o seu lugar.
Quando eu era um menino moço, ‘muderno’ como essa juventude de agora, a vida era outra. Os menino da fralda passava direto pro trabalho. O homem pra ser homem, tinha que estufar o peito e labutar de ‘só à só’ pra conquistar o prato de farinha. Os pais da gente eram tudo ignorante, mas ignorante no ponto da brutalidade, duro como pedra, daqueles que faziam o ‘currião’ cantar no menor sinal de afronta.
Naquela época é que o povo era valente de verdade. Quando começava uma peleja, os ‘brabos’ amarravam as camisas e o facão cantava até o sangue ensopar a roupa do mais fraco. Não tinha essa história de atirar e correr no rabo da moto. O homem de verdade olhava o inimigo no olho e dizia “agora tu vai morrer seu ‘fi duma rapariga’”, e o ‘miserávi do fela da rapariga’, se fosse homem mesmo, chamava no ‘biscó’ antes do primeiro terminar o dizer.
No mundo de hoje as coisas é pior. A juventude se perde nas porcarias. No meu tempo a gente crescia no uso do fumo e da cachaça, que até hoje eu carrego, num vou negar! Mas também se eu ficasse no chão, pai nem mãe eu queria incomodar. E no outro dia, fazendo chuva ou ‘só’, podia ir na roça que eu tava lá. Os meninos de hoje já cresce querendo ser vagabundo, é o fim do mundo, como já dizia minha finada mãe.
Deus num fez o mundo assim não. Vai chegar um tempo que os homens vão querer um canto de paz e sossego e vão achar na morte esse cantinho de remanso.
Mas, mesmo assim, eu é que não quero descanso.

Será possível no futuro que eu me lembre do presente agora de maneira tão romântica.
Torço para que não, do contrário prefiro não imaginar o futuro que me aguarda.

25 de dezembro de 2012

Espírito Natal


                               



Pra cada um com um milhão,

Um milhão sem um sequer.





Um Milhão - Rodrigo Amarante



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3 de novembro de 2012

Mães da Rua

Quando a gente é menino e a rua é uma parte da casa, todo povo que se espalha pela sala iluminada de sol e ventilada na brisa faz parte de uma família que em dado momento da vida se cristaliza. A memória faz da infância um quadro que a gente visita quando se lembra de ser feliz.
Na rua todo amigo é quase irmão, toda turma é tipo uma gangue, toda brincadeira é uma festa e toda confusão é batalha da tropa. Ali, quando os pais se escondem em seus afazeres domésticos, os mini-homens iniciam suas histórias aprendendo sobre lealdade, refletindo sobre consequência e reagindo no instinto próprio do aflorar da inocência.
Nessa terra de magia toda mãe de amigo é tia, e toda tia é um pouco mãe. Nada é mais sagrado do que a mãe da gente, quando a gente se junta é tanta mãe, pois é tanta gente, que a mais boba palavra é assunto de morte, toda difamação é algo indulgente, mas pra sorte do imbecil que xingou a tia (que é mãe) a nossa agonia não dura um dia, e na manhã seguinte a gente se junta num ‘baba ‘ de novo.
O tempo passa e a gente se perde por culpa da vida, da tal linha e do destino, mas sempre haverá na graça da lembrança a beleza da Maria, da Valmira, da Rita, da Nilda, da Juce, da Zeni, da Til, e de tantas outras mães de tantos outro meninos.


*texto as mães da barragem de um tempo outro.
...À Glória que já encontrou Maria.

12 de outubro de 2012

¹/2 decáda



BinóculoMíope - 5 anos 

Era fim de tarde quando meus dedos se puseram sobre um teclado com o intuito de iniciar uma nova diversão. Era o fim de uma fase, no entanto desconhecia. E foi de maneira estranha e sem cuidado que meu estado de solidão se ocupou de palavras para desvendar cores minhas, segredos que foram se criando sobre a escrivaninha, as mesas que antes repletas de versos se viam com textos diversos em caráter de exposição. O homem metade moleque naquele instante era mais sóbrio então.
Desviei-me de vários caminhos enquanto meu ninho perdia calor, mas sempre revistava os cantinhos dos meus desatentos cadernos onde certo habitava um restinho de amor. E fui sem saber pra onde, sem saber se quando, nem sequer querendo... Me fiz um rapaz insonso, um pai discreto, um homem fosco. Em meus delitos mais modesto é que me entrego como sou, entre os segundos que restam desse desalento vivo os bons momentos desse ser ator.
Eu finjo viver uma felicidade tão completa que me encanta e me acerta em verdade o coração.


“O poeta é um fingidor...”



5 de setembro de 2012

ELEIÇÕES NO MUNDO DE OTA



OTA é um mundo distante em que seus moradores vivem e vêem na democracia e liberdade individual a representação de suas vontades, os seus maiores direitos. Esse momento de validação de seus pensamentos chega ao ápice de 4 em 4 anos, quando são realizados pleitos eleitorais para a escolha daqueles que iram comandar o mundo de OTA durante o mandato, até o próximo pleito. O que mais chama atenção são as características do eleitorado de OTA e como acontece todo o processo eleitoral de OTA.

Pessoas ignorantes, analfabetas, cultas, instruídas, ricas, pobres, miseráveis, os que se acham alguma coisa, os donos da razão e os calados formam o eleitorado de OTA. Todos são donos de seus votos conscientes, afinal de contas a consciência humana é individual, e cada um vê na vida um objetivo. Da mesma forma são compostas as chapas dos candidatos que concorrem aos cargos funcionais da política. É muito comum do povo de OTA reeleger indivíduos que pouco fizeram ou em nada contribuíram para o desenvolvimento local, o que faz do cargo funcional uma profissão política, já que a grande maioria que assumem o poder não aceita que a mudança seja interessante para o processo político do estado democrático, independente de em qual esfera ocorra à eleição (município, estado, união). Ressaltando que o grupo que discursa em favor da mudança no caso de ser eleito promove mudança em seu próprio discurso afim da continuidade no poder.

O povo de OTA disputa de todas as formas a campanha política, fazendo grandes caminhadas promovendo número, cor e mascote de seu candidato. Talvez seja este o período festivo do calendário mais esperado pelo povo de OTA. Importante aqui ressaltar que no período político é inaceitável usar cores do adversário, itens com seu número e mascote. Importante também cuidado no uso da mascote, sendo mais comum o uso de aves, mamíferos, peixes e seres do mar ou corpos celestes; não é indicado o uso de anfíbios ou répteis tendo em vista o aspecto asqueroso e duvidoso que os mesmo promovem aos seres humanos, conduto é aceitável assimilação com o grupo adversário. Interessante a demonstração de afeição do povo de OTA que marca suas residências com símbolos, cartazes e bandeiras dos grupos políticos que apóiam numa clara demonstração de involução ao direito do voto secreto. O povo de OTA acredita que esse direito é desnecessário e os que promovem tal conduta são apenas adversários com medo de se revelar ou pessoas sem opinião. O povo de OTA está à frente do seu tempo, dentro da idéia do tempo cíclico acredita que esta reavivando uma segunda fase do período feudal.

Neste último pleito o povo de OTA revolucionou a campanha política promovendo a politicagem local ao mundo virtual através das novas plataformas de comunicação. Agora a população fica durante todo o dia se provocando e promovendo baixarias a fim de incitar o grupo adversário. Desta forma incluíram em debates pouco políticos pessoas que até então pareciam não ser de OTA, mas que são. Estes independentes de OTA que se envolvem com os militantes e correligionários da ganância ou da utopia são figuras que apenas sofrem de um espasmo circunstancial, mas que acreditamos não sair tão afetados desta contaminação pseudo-salvadora.

Os candidatos de OTA são criaturas a parte, tão similares aos seus eleitores que fortalecem a idéia de governo do povo, já que o povo de OTA no geral é despreparado para as oportunidades, tem demonstrado grande capacidade para o ilícito e para a ganância individual. Assim fica fácil apontar como é adequada a política da casa abonada, ou seja, o voto vai para aquele que favorecer aos meus e a mim. A política coletiva e social é muito interessante para uso exclusivo nos discursos de palanque, aos que tem esta habilidade, já que é incomum entres os políticos de OTA a capacidade da oratória. O habitual em discursos e conversas com os candidatos é a fluência em assuntos banais e ofensas ao adversário e ao seu grupo. Projeto político de governo é um item desconhecidos dos candidatos, alguns até esboçam idéias em público, porém cientes de seu desinteresse.

Para obter seus objetivos o políticos de OTA que sozinhos durante muito tempo demonstraram tamanha capacidade de destruição e inércia no desenvolvimento local, formam grupos com outros políticos, que também possuem esta capacidade, no interesse de fortalecer suas chances de sair vencedor no pleito de OTA. Assim o eleitorado de OTA tem ficado um tanto perdido quanto a posição dos seus candidatos, já que oposições históricas são desfeitas em estranhos apertos de mãos e discursos ofensivos são tratados com rugas e dão lugar a afagos absurdos. Estes acordos têm por interesse o controle político de determinadas áreas do governo, o que nos leva a entender que eleito o candidato X, ele deve vagas a todo alfabeto da coligação, o que inclui letras abomináveis de se ver no poder. No fim das contas se for bem estudado será percebido que independente do resultado das eleições o povo de OTA está fadado a mais do mesmo.

O povo de OTA celebrará o pleito como uma vitória, de maneira até bonita de se ver. A maior certeza além dessa é que daqui a 4 anos o povo vai estar na rua da mesma maneira, alguns mentido sobre as belezas de agora e outros propondo mudanças, mas nessa dança só que não se dá bem é o povo de OTA.




Carta de um Eleitor de OTA.



Green Day - American Idiot

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26 de julho de 2012

Caminho da Dor


A rua cheia de pés que rumam ao mesmo lugar numa procissão silenciosa de pensamentos inquietos e sofridos a respeito daquilo que é comum a todos os andantes. Entre olhares desconhecidos e acolhedores a sentença única da dor que é dividida, mas não suplantada. Vai um corpo na caixa de madeira e de certa maneira o espectro daquela vida se eterniza na massa que a segue.
Cada um carrega consigo uma ausência particular daquela que se esvai na história e no tempo, uma intensidade única e particular de afeto que machuca o peito e corrói a alma. A dor se espalha no olhar de quem conheceu há pouco tempo e vive a curiosidade que se esbarra no não contínuo; na incerteza de quem teve todo o tempo e não acredita ter aproveitado bem; na desilusão fatal de quem amou e não possui o bem querido, e pior de quem possuiu, mas não teve coragem amar; de quem conviveu situações íntimas e sigilosas que serão sempre lembradas por sua importância e resultado; e a dor suprema de quem deu a vida e não acredita que essa mesma se foi tão cedo.
Cada um carrega consigo um abrigo imaculado pra quem nos deixa aqui, e vela em sua memória a gloria do tempo em que viveram juntos. Vai o dia se findar numa sensação de vazio que não vê remédio, a não ser as horas que virão e lentamente solidificarão essa angustia líquida que escorre dos olhos. Depois de toda dor, virá o brilho do sorriso moreno que há de afagar a alma com a vibração de vida que ela espalhou...

A vida se esvai do físico pra se expandir no infinito.

11 de junho de 2012

aos 26¨

Aqui desde 86
rumando junto com vocês
pr'um lugar que realmente não sei onde é
Hoje acordo todo dias às 3
pra enrolar meu menino 'artês'
começando meu dia com fé
Agora um homem aos 26
me sinto ainda um tanto 'devez'
Mas depois de tudo estou aqui de pé...



...vivendo 
o que me cabe da vida.

31 de maio de 2012

Desamor Adolescente

Quando a noite se acabou num suspiro sem sono e ele se viu abraçado definitivamente pelo abandono, não se sentiu enojado de mais uma vez recorrer ao engano pra se sentir menos infeliz. Foi só mais uma noite de uma temporada de insucessos, sua vida estava em retalhos, suas aspirações embaçadas, suas perspectivas anuladas. Daquele ponto em diante o inferno de dante seria seu recanto indefinido.
Amargurado com aquela dor que lhe consumia a fé, seus pés sem afundavam numa lama de incertezas sobre o que foi bom e confirmações de tudo que lhe foi pior. A dor da descoberta de sua fraqueza conseguia ser maior do que o aperto no seu coração que aquela trama engenhosa do destino lhe causava. Era refém de si e sem imaginação para se libertar. Por semanas esperava ouvir aquilo que imagina solucionar seus problemas, iludia-se em invenções de diálogos que nunca iriam existir, e ali em seu cantinho desprotegido viu seu mundo desmoronar. Era um desconhecido no reino descontente da realidade.
Por tempos infindos seu caminhar encontrou-se num rumo que não daria em lugar algum. Em silêncio percorria sua vida até que o fim daquela noite chegou. Dali em diante tudo deveria ser novo, ou menos velho, não poderia ser igual. Ele acordou do pesadelo que se permitiu viver e numa conversa necessária essa história se concluiu. Levantou-se do porão que se escondia e abriu a janela pro sol entrar.



Em Resumo:
Apaixonado ele queria entender por que ela não ficaria com ele.
Viveu a desilusão sempre esperançoso de que nada impediria ela de voltar atrás.
Até que um dia viu seus colegas falando dos novos namorados do colégio.
Foi preciso apenas que ela lhe contasse que estava apaixonada pelo carinha da 6ª série.
O mundo naquele instante acabou, pra renascer na semana seguinte.



A gente cresce e envelhece, mas os dilemas não mudam.
...humanidade...

28 de maio de 2012

*pensamento nato



"É rotineiramente no silêncio da razão
que escutamos todas as verdades que precisam ser ouvidas."








*na maioria das vezes é justamente aquilo que não queremos ouvir.