20 de março de 2013

Meia-Noite com os Fantasmas


Todas as noites quando me ponho sobre a cama e ajeito o travesseiro, sinto o aperto em dividir este espaço com tantos fantasmas do meu passado. O peso desolador daquelas imagens distorcidas de uma lembrança que não quero ter, a sensação de compressão que se espalha pelo peito, o medo de encarar aquelas cenas perversas infinitas vezes. Viver com meus erros, com os erros dos outros, e principalmente com os não cometidos, faz-me um ser igual a todos, e nada me angustia mais do que essa sensação de massa, pois na minha consciência,  leiga e jovem-adulta, o pior paradoxo é essa ideia de solidão e multidão.
Queria poder fazer um ‘Ctrl + Del’ e excluir definitivamente as insones recordações de outros eus, e vagar pelas estradas das possibilidades que meu passado guarda, as encruzilhadas que nunca serão desbravadas, pois as escolhas que fiz me trouxeram a este destino, e desconheço maneiras de viver realidades paralelas. Ao tempo disso, ainda existe o apego pelas conquistas que me possibilitei viver, os bens que adquiri e me fazem o melhor que posso hoje, não há como desapegar. Não existe uma vida perfeita pra ninguém, mas é duro admitir que a vida do outro também possa ser assim tão cheia de incertezas, desilusões e dores, se no mais íntimo de nossas essências vive o embrião-mestre de nossas características, o ser egoísta que por temporalidade do ser não pode se permitir sofrer pelo outro, já sofremos o bastante por nós mesmos. Queria apagar todas as noites e acordar com a alvorada, ainda que os pensamentos diurnos me trouxessem todas estas incursões tenebrosas dos ‘fantasmas nossos de cada dia’, pois o desligar faz bem, e é preciso não pensar de vez em quando. Mas já que optei por encarar essa jornada, vou viver a caminhada de maneira limpa, amargurando cada dor em sua etapa e me esforçando para ser melhor de maneira progressiva. A vida é uma colcha de retalhos coloridos e estampados, nem todos os retalhos são bonitos.






...envergo mas não quebro!