20 de agosto de 2011

in-finitude

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Através da neblina estranha
a lua me debocha em seu sorriso
Fico em sobre aviso para o tempo
e a tormenta me abraça em pleno Agosto
Sei das falhas em meu rosto
e assumo minha culpa intolerante
Sinto antes e depois
a infinitude do durante
como o infeliz amante da solidão
Agora as horas são dos fins
sem encontrar o caminho
Chegaram as partidas
nessa sinuca de vida


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19 de agosto de 2011

...na fila do pão

02 - tudo passa - Marcelo Camelo

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O errar é humano, o julgar talvez mais humano ainda. Seria um fim sem versos nem prosa se na hora do adeus o ponto final não fosse replicado em reticências. Nas madrugadas e tardes desse inverno de garoas, as palavras que voam por ondas invisíveis proferem veneno e sangue numa dor que tenta se acalentar. Tudo simples seria se o vão me consumisse e eu enfim sumisse desse cenário de caos acomodante.
Naquela história onde habita a dúvida eu mesmo me confundo com as variações da certeza. Numa ficção a graça da trama está nas possibilidades variantes de verdades que se escrevem, na vida real ou se é isso ou aquilo, tudo o mais é condenável. Cansei de tentar me explicar e até de tentar me entender. O mundo me abusa em suas insinuações.
...até quem me vê na fila do pão sabe mais de mim do que eu mesmo.
Durante meus digitares abri um sorriso, não pela lembrança amarga do que o imaginar alheio possa se inventar, mas pela certeza de que mesmo que indiferente o outro ainda perde tempo só para pensar em mim. Mas tudo bem, tudo passa....

16 de agosto de 2011

Sempre quis ser o Heath Ledger

Enquanto eu nascia Matthew Broderick andava pelas ruas de Manhattan numa Ferrari com sua namorada e seu melhor amigo, isso quando não cantava “TWIST AND SHOUT” em cima de um carro alegórico. Eu só fiquei sabendo disso uns 13 anos depois.
Já na casa dos 20 rememorei minhas lucubrações juvenis nas aventuras mais naturais e absurdas que o cinema me ofereceu. Imaginei-me Jesse Eisenberg se apaixonando pela decidida Emma Stone enquanto eliminava zumbis. Já fui o Joseph Gordon-Levitt derrubado pela encantadoramente estranha Zooey Deschanel, porém sempre estive mais próximo de ser o Michael Cera desiludido que se encontra nos olhos brilhantes e no sorriso de coringa de Kat Dennings. Sempre tive uma queda maior por mulheres desajustadas.
Mas voltando aos 13, quando ela me apareceu com aquele sorriso desordenado roubou meu deslumbramento inocente. Julie Stiles nunca foi um ícone de beleza, mas a minha certeza se consolidou naquele instante. Eu sempre quis ser o Heath Ledger, mas me faltaram a coragem e a ousadia. Perdia tardes enamorando as possibilidades inexistentes.


Pela tela eu me apaixonei diversas vezes, e o melhor é que essa paixão me continua.

14 de agosto de 2011

...destinosss


O menino e o escuro, de FhaelDrade





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Caminhar no escuro
oferece o incerto sabor
de se sentir inseguro.
...











...a beleza mora no risco.

13 de agosto de 2011

Atlas Desordenado

Era eu, o silêncio e a companhia. 
Naquelas noites em que sentado eu espalhava sonhos por destinos diversos a alegria de reorganizar as páginas soltas daquele velho atlas ouvindo as palavras doces de seu imaginar, eu me lançava por um mundo singelo de satisfação. Ali o Gabão, a Tailândia, os países do leste europeu e até as ilhas do pacífico me pareciam miragens possíveis de me imaginar não só. Quando o sorriso que me observava soprava em minha nuca um sentimento de reciprocidade, o mundo se resumia naquele espaço de cimento e tijolos.
Sem entender até hoje como se delimitam as fronteiras, vivo meus caminhos tortos na esperança de um dia não caminhar tão só. Sabe-se lá o porque dessa afeição pela solidão, mas vou meus passos desenhando numa folha solta com um giz de cera o meu mapa particular. 
Ali no rodapé dessa imagem que ainda não se apresentou, pois é futura, virá descrito "Ele, o silêncio e a companhia". A felicidade há de se apresentar.
Enquanto isso eu carrego um mundo em minhas costas.

6 de agosto de 2011

Desencanto

Quando o tempo parou na última sombra de uma tarde de sábado, o amargo escorreu garganta adentro como um tormento da infelicidade vivida. Era ela uma doce menina na espera do que lhe parecia concreto: o objeto, o desejo e o espaço e tempo para a consumação de um conto fantástico.
Mas aqui é o mundo real. Os castelos estão vazios de histórias românticas e cheios de entulhos antigos, os bosque se desintegram em incêndios perversos, os dragões da rotina devoram os homens em que habitam, e esses aprenderam a valorizar o indevido. Infelizmente não se pode esperar dos outros nada além de uma resposta singela para o que é oferecido. O homem apenas reage aos seus estímulos. O amor é algo escrito em pergaminhos antigos, sujeito a variações em corações adolescentes e destruído em insinuações ingênuas a partir de algo que supostamente foi imaginado.
Quando o tempo parou e o olhar se concentrou nas notícias desta tarde, o pavor que invade a sua pobre compreensão mostrou para ela que a Cinderela nunca calçou o sapato de cristal.
...
Era para ser um conto de fadas, mas o príncipe encantado chegou tarde  e com uma bagagem que não cabia na carruagem.

2 de agosto de 2011

sensação atemporal

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Faz dias que essa madrugada insiste em não passar.






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lágrima distante

Cai à lágrima do teu rosto santo, e meu espanto é pela minha ignorância e insensatez que me mata a cada novo segundo em que não me apresento pra vida. De repente em um singelo sorriso, o tato em um abraço que se faz em beijo, depois entrega e desejo, depois é medo. Sem saber explicar e tentando entender eu me deito e a cama não dorme insegura de quem a possui. Quem é esse homem que enrolado no cobertor treme vacilante, vendo o mundo passar em brancas nuvens com medo de descobrir ilhas desconhecidas, com vergonha de ser um pouco mais do que se mostra. Homem sem chegada, apenas de partidas, de feridas não curadas, de silenciosos gritos. Dono das lamúrias profanadas na neblina que precede o amanhecer.
 Vi o fim do arco-íris e perdi o pote de ouro. Agora eu sinto que me falta ambição pela felicidade.



mão/voo


re.pouso cinco de Guh Andrade

No voo, independente das variações,
o pássaro ao sair do chão
sabe que já escolheu o seu destino.

Madrugada na Cidade Lenta

Madrugada de inverno no tempo lá fora onde cai à garoa e a nevoa encobre a cidade lenta. Dentro do homem que escreve, um vento frio corre nas entranhas fazendo da alma uma estranha abandonada nas calçadas de seus sóbrios devaneios. A calma que transpassa a linha do tempo num silêncio infinito soa quase como um sussurro ao pé do ouvido. Ali entre o turvo e o imaginário, habita a dor pungente de uma sensação costumeira.
Diante de mais uma ilusão nessa vida marcada por despedidas, ele se vê calado na certeza de que assim será mais fácil assistir o amanhecer na vida de outras pessoas a quem só é possível desejar a felicidade. Cá o que acontece é apenas mais uma insônia desgastante ao corpo e a mente. Esse delinqüente sem crimes vive sua prisão na incerteza das alegrias, na insegurança de um sonho bom, na angústia de um resquício de felicidade para ele também.
Depois de encoberta a última luz amarela do poste da rua, a sua face desfalece como se se encontra seu próprio reflexo exausto de viver. Olhando a si, nada lhe parece aceitável. As nuvens brancas que se assentam sobre sua cabeça, trazendo o frio, fortalecem a presença de sua fiel escudeira. Ali sentado no passeio da casa a solidão o acalenta nessa madrugada de inverno na cidade lenta.

-fugitiva

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Agora já não vou mais ligar se teu olhar é fugitivo meu
se teu cabelo se perdeu no ralo
se meu momento nunca aconteceu
naquela tarde em que você partiu
pr'aquele mundo que ninguém conhece
as minhas preces não encontram um deus
a minha mão já não segura o medo
os teus segredos se espalham soltos
os nossos rostos são pinturas tristes
a nossa vida é uma paródia trágica
o que te escrevo são gravuras mortas
de uma lembrança de amor, nostálgica.

A minha boca seca de saudade tua
o caminhar oposto do duelo western
a sutileza mórbida de uma noite turva
a solidão gelada de minha pele nua
na ilusão safada de segurar as curvas
do teu corpo contra minha pele suja
num pesadelo recorrente e denso
de um desejo inesperado e súbito
de possuir o que nunca foi meu
pra saciar este momento utópico
de um inicio de história humana
um relacionamento que se findou sem fim.
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