20 de maio de 2011

novas belezas

"Oração"
A banda mais bonita da cidade



...cabe nós dois.

Esquecendo

Minha memória já não acompanha o desgaste incomum que o tempo realiza em minhas lembranças. Passo diariamente pelas ruas e não reconheço os olhares e sorrisos cordiais que me são direcionados, escuto meu nome sendo proferido por rostos que desconheço. Sinto que estou perdido em meio a multidão que me conhece, mas que infelizmente não sei quem são.
O maior desconforto desta situação é o sorriso sem graça, o olhar de disfarce de quem finge o que sabe que está acontecendo, de quem está totalmente desentendido das palavras que escuta. A verdade muitas vezes discretamente declamada através de um "desculpe, mas não me lembro de você" ou um "eu te conheço de onde mesmo?" cria uma situação angustiante de desconforto. A idade não avança tanto quando o esquecimento, e já tão cedo eu lamento minha impotência diante do que não consigo lembrar.
Esses dias, não me lembro exatamente quando, você que não reconheci passou por mim, trocamos algumas figurinhas vagas, sorrimos em fraternidade - a sua ação sincera, a minha nem tanto - e seguimos nosso destinos sem maiores estragos. Conversamos sobre algo que nem sequer fazia ideia, e pior, atuava como alguém que estava ciente de tudo que ocorria. Nesse dia você pensou alguma coisa ruim de mim, com todo direito, pois tenho certeza não ter sido um bom companheiro de recordações. Nesse dia eu cheguei em casa preocupado com meu estado aminésico precoce. Sentei-me no sofá e parei pensando em como pode ser vago viver uma vida sem as lembranças do que se viveu. Eu suspirei e olhei o vago.
Levantei-me sem saber o que estava fazendo ali sentado em plena tarde de uma terça-feira.
O tempo e a mente são instrumentos sem controle.

-Mas eu falei de que mesmo?

14 de maio de 2011

13 - mente & medo.

O beco & a madrugada, de Guh Andrade .







Madrugada de sexta-feira
em plena rua vazia
minhas pernas tremiam em minha correria.

11 de maio de 2011

Pequenos Contos Modernos - V

¬.O defunto e a laranjeira

Parada na sua estância ela balança ao sabor do vento. Imóvel, ele sem dor, nem lamento espera o tempo que não cessa em sua viagem. As folhas verdes em galhos finos, os frutos mínimos se expandindo em um espaço amplo. O cheiro forte da putrefação, a pele roxa, a língua solta numa boca frouxa.
Era meio dia e o insano se instalou na mente humana. Chegou para o trabalho sujo contra seu próprio mundo. Deixou a bicicleta na portaria e adentrou para um café. Seria seu último minuto de excitação. A cafeína lhe correu por dentro e o sangue frio lhe adiantou os passos. Foi ao fundo, no fundo de sua alma, na calma de sua loucura, na sina de sua história. Sem glória amarrou a corda no caule da árvore que não lhe pode dizer nada.
Quatro horas depois, ainda lá, longe da curiosidade alheia, escondido de seu próprio fracasso, se faz as ultimas anotações. Farda, sandália e saliva. As almas vivas espantadas com sua interpretação. Sem aplausos a cortina se fecha pro que poderia ser um momento seguinte. Mas o desfecho deste drama incomum se dá no requinte da recepção popular sem nexo e no complexo choro de um filho abandonado.
Quatro horas antes, ainda em casa, o café esquenta na brasa, a mulher olha preocupada, já sente que algo está errado. Suas palavras perdidas ecoam pelas paredes sujas com o tempo, seu pensamento vagueia nas horas que ainda seguirão. A família acredita que esse estranhamento passará, mais tarde ele volta e tudo voltará ao normal. Isso não aconteceu.
A laranjeira em seu canto calada vê o homem que nada contra uma corrente de idéias tortas, que fecha a porta para um futuro possível. Um homem invisível que se pendura pelo pescoço e se lança sem alarde para um fim insensato. Ali, o resumo de um fato narrado, laranjas doces e um corpo inanimado.
É uma tarde de maio e o sol brilha forte.

9 de maio de 2011

Às vezes é frequentemente

Arnaldo Antunes - Meu Coração

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Vejo melhor a paisagem com as pálpebras fechadas. O dia se consome sutilmente como uma pequena gota de orvalho que se esqueceu de evaporar e ainda está lá em pleno meio-dia. É triste perceber que a alegria as vezes exige lágrimas. Mas também é gostoso chorar quando já não é possível conter a intensa felicidade em apenas um sorriso.
O abrigo que reservo para meus momentos só aumenta exponencialmente para guardar cada lembrança que cultivo em relação ao montante de relações sensitivas que me permito. Os sentimentos que resultam das misturas de sensações e miragens que meu pensamento me produz me são desconhecidos. A porta da casa sempre está fechada e o cadeado do portão afasta as visitas, mas as janelas se abrem para novos horizontes.
Sei que minha ignorância diante dos mistérios da alma é absurdamente grande, mas aceito meu estado inculto e vivo meu mundo de maneira a saborear cada pequena coisa que ele me oferece. Sinto, e faço desse sentir um instante especial em registrar como é gostoso estar vivo, e sorrir, chorar e me arrepiar com cada emoção distinta.
No silêncio do meu quarto escuto sons estranhos que ecoam dentro de mim.

"meu coração
bate sem saber
que meu peito é uma porta
que ninguém vai atender"

6 de maio de 2011

-silenciosa contemplação-

A ausência, de Adriane .






Calada
a madrugada
me explica o que não quero saber.

Dias de outono

Abril se despediu depois de me oferecer das mazelas de uma vida normal. Dores e suores, lágrimas, sorrisos e espectativas. Os sonhos nublados se desfizeram como uma garoa irritante que não cessa. Aos poucos o ar foi limpando e hoje já dá pra ver o sol se arriscar numa alvorada interessante.
Aqui eu me reencontro com os dilemas de um tempo passado mas certo que o que me resta é saudar o sol por um novo dia. Agora eu quero é o que o mundo siga seu caminho, eu sigo cá o meu.

Abriu de vez a porta pr'um novo rumo.