A música começa no fone do
individuo alucinado que corre pela rua da cidade assustada, quando do nada
aparece o monstro do ônibus rompendo as fronteiras da via, ele desvia e sobrevive
ao primeiro suspiro sem imaginar o que há de vir, mas adivinha o que precisa
fazer para ter o que almeja com aquela fuga vibrante, como um amante fugindo do
dono da casa, ele extravasa a sua alegria em um temor evidente na face sorridente de quem pressente que o fim se aproxima,
ai se apruma no passo e desembaraça as idéias inúmeras que na cabeça se
confundem e se consomem vorazmente em profundos pensamentos vãos, essa cabeça base
de um outdoor gigante de uma marca qualquer em brilhantes num boné sem graça e
desgastado que faz do ser usado um usuário satisfeito, desfeito de qualquer
sensibilidade coletiva se imagina o dono do mundo, mas no fundo se sente um só
no meio do modo industrial de produção, induzido a acreditar que seu caminho é
sua opção quando na verdade não, ainda assim faz um bem a si aceitando que na
rota abrem-se portas de maneira horripilantemente estranhas quando nas
entranhas pára para analisar que não foram suas mãos as desbravadoras, sem
demora vê as horas e adentra o ventre da minhoca mecânica sobre trilhos no
aperto colossal das células que rumam para o mesmo lado, seguindo seu fado
rotineiro de costumes pontuais observa os vizinhos de transporte, seres grandes
e fortes independente de suas feições, que cumprem suas sinas no anseio da
satisfação e das alegorias pra se viver, ele não vê que é mais um, igual a
eles, eu e você, e continua sua estrada, desce calado e distante quando um
braço infante lhe suga da trama, destila fúria até percebe quem lhe convém,
então derrama sorrisos, abranda seus passos e vivos terminam o caminho chegando
ao lar.
Resumindo:
Ele sai do trabalho correndo,
desvia de um ônibus na rua, pega um metrô lotado, desce no terminal, sua mulher
o encontra e juntos vão para casa.
Não há momentos sem
graça,
a graça está em vivê-los.