25 de fevereiro de 2010

entre o corpo e o espectral

a noite que me consome sobre a cama desarrumada e molhada de suor é antes de qualquer outra coisa, uma estranha desconhecida. a janela aberta e o escuro que projeta ao meu olhar assustado é apenas um ingrediente desta porção escandalosa de frio e de desilusão. acordo e vejo a tevê ligada, a emissora transmite as olímpiadas de inverno, o gelo de lá da tela me engana enquanto penso que no quarto a temperatura cai consideravelmente. tento me mexer, olhar a porta, mas nada se move no meu corpo, nada além do globo ocular que percebe a luz do corredor acesa, os canadenses perdendo no hóquei, o estranho brilho do beco no escuro da madrugada. meus músculos se retraem quando escuto o barulho dos talheres, um choro de criança e um chamado distante. meu nome se espalha pelo ar e corre ao longe, na cama meu corpo morto me impede de sequer virar, e deitado de lado não vejo mais do que o já descrito. dentro me escorre um grito abafado pela loucura desse instante, e adiante toda essa insana imersão sinto um peso, um abraço de alguém que não existe, que não vejo, e que desejo não existir. meu corpo morto desfalece num piscar e tudo some.
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Acordo e meu peito pulsa alucinado. Estive num outro momento entre o corpo e o espectral. Meu irmão me explica que é tudo natural, uma coisa do cansaço, mas me embraraço entre a lógica da ciência e a lucubração de minha inconsciência. Deixo-me desplicente, e não mais ciente do que possa parecer me deito.

3 comentários:

Thaisinha... disse...

Meu irmão me explica que é tudo natural..."

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Algo de pouca naturalidade deve ter sido.
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Augusto Andrade disse...

...Mais natural do que o imaginado!

rs'

Claudia disse...

Tenho com frequência essa sensação paralisante. Já não me apavora tanto mais... Agora aproveito as sinestesias.