20 de maio de 2011

Esquecendo

Minha memória já não acompanha o desgaste incomum que o tempo realiza em minhas lembranças. Passo diariamente pelas ruas e não reconheço os olhares e sorrisos cordiais que me são direcionados, escuto meu nome sendo proferido por rostos que desconheço. Sinto que estou perdido em meio a multidão que me conhece, mas que infelizmente não sei quem são.
O maior desconforto desta situação é o sorriso sem graça, o olhar de disfarce de quem finge o que sabe que está acontecendo, de quem está totalmente desentendido das palavras que escuta. A verdade muitas vezes discretamente declamada através de um "desculpe, mas não me lembro de você" ou um "eu te conheço de onde mesmo?" cria uma situação angustiante de desconforto. A idade não avança tanto quando o esquecimento, e já tão cedo eu lamento minha impotência diante do que não consigo lembrar.
Esses dias, não me lembro exatamente quando, você que não reconheci passou por mim, trocamos algumas figurinhas vagas, sorrimos em fraternidade - a sua ação sincera, a minha nem tanto - e seguimos nosso destinos sem maiores estragos. Conversamos sobre algo que nem sequer fazia ideia, e pior, atuava como alguém que estava ciente de tudo que ocorria. Nesse dia você pensou alguma coisa ruim de mim, com todo direito, pois tenho certeza não ter sido um bom companheiro de recordações. Nesse dia eu cheguei em casa preocupado com meu estado aminésico precoce. Sentei-me no sofá e parei pensando em como pode ser vago viver uma vida sem as lembranças do que se viveu. Eu suspirei e olhei o vago.
Levantei-me sem saber o que estava fazendo ali sentado em plena tarde de uma terça-feira.
O tempo e a mente são instrumentos sem controle.

-Mas eu falei de que mesmo?

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