24 de março de 2011

Filhas de Vênus

O brilho nos olhos revela algo que de longe pode parecer surreal. O rosto iluminado encarando o quadro de sua vida transmite carência e alegria. Paradoxalmente se expande a todas as direções da galeria que o universo lhe reserva. Essa pintura enigmática tem várias formas, vários rostos e uma infinidade de projeções sentimentais.
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CAPITU
Dias atrás insatisfeita, disse que estava cansada e que não cabia neste mundo. Foi embora pela porta da frente, um tanto descontente, mas confiante que o sol iria brilhar. Os dias se passaram e ela voltou incerta das decisões que tomou, mas decidida a continuar sua luta. Recebida com um sorriso, ela responde com sua graça encantadora e se instala em seu altar. De posse indevida do território, com seu falatório, tenta exibir uma vitória abstrata. Mas a pobre mulata quer apenas omitir que o mundo não coube em si.
SINHÁ MOÇA
Calada em seu canto, vê as estrelas e as figuras que circulam no céu e na rua. Ali, na sua santidade discutida vive a vida de sonhos que seu vilarejo lhe oferece. Faz preces aos domingos e passa a semana batalhando um príncipe que nunca vai chegar. Escolhe as cartas do baralho e sempre perde a sorte que imaginava ter. Seu olhar discreto, seu sorriso tímido é o mínimo de expressão que sonha propagar. Sente o tempo passar ingrato, pois é fato, o amor não chegou ali.
INSENSATO CORAÇÃO
Atrás da mesa cheia de relatórios e planilhas relembra ainda aquele antigo encontro. A vida já passou do ponto, mas ela insiste ainda em acreditar. Sentada sobre lembranças apaixonantes de tudo que viveu em silêncio, seu coração está propenso há esperar um pouco mais. A vida que segue é o paliativo da ausência que insiste em não ser suprida. Beija as sensações do seu passado e anda flutuante pelo fado de sua expectativa incerta. Vive a rememorar.
ANITA
Com o telefone na mão a ansiedade lhe absorve. Busca o que nunca teve na intenção de usufruir de todos os detalhes do desejo. Imagina a secreta cena do seu encontro marcado. Seu corpo se aquece ainda que longe do objeto prometido. O sangue ferve a uma temperatura absurda por conta dessa sua incontrolável libido. E o mundo continua a girar independente das peripécias juvenis que seu corpo e coração promovem. Sendo jovem, não lhe faltam caminhos.
MULHERES DE AREIA
As experiências aconselham o inverso do que o pulsar reforça. Esforçam-se para não se entregar tão facilmente aos deleites dos sentidos. Mas o silencio que o tempo e a distancia lhe imprimem faz com que já não possam mais ser de tudo racional. Esperam as respostas das suas ações. Cansaram de esperar ligações no dia seguinte, agora são ouvintes de suas próprias aspirações. Querem apenas desfrutar do prazer possível.
CORDEL ENCANTADO
Dona da fantasia que a inunda é iniciante na dança das vontades. Sua carne ainda exala a paixão infante de alguém que aprende aos poucos os meandros do sagrado. Tem seu lado segura no ponto em que amadurece centrada, mas perde na linha da cintura a noção do que é certo ou errado. Faz-se desejada e encanta o mundo de fadas onde vive.
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As divinas são de tudo coração. Sentem seus sonhos e fantasias sendo gravados na carne, às vezes com um leve acariciar de pele, às vezes na brasa triste da desilusão.
As mulheres vivem o protagonismo de suas próprias novelas.

Um comentário:

Juli disse...

As mulheres vivem aquilo que os homens teem medo de viver...