7 de março de 2011

Eu, o telefone e a morte

Todos os dias sigo a mesma rotina. Acordo, vou ao trabalho, volto, resolvo pequenos problemas domésticos, crio outros, observo meus queridos em suas rotinas, e durmo para recomeçar amanhã. Contudo em dias em que cruzo esporadicamente por determinação de escalas extraordinárias uma linha telefônica em uma sala de atendimentos, uma velha amiga resolve me acompanhar.
Nesses dias em que a morte pega carona o que mais me assusta é a sua assiduidade. Ela não falta, não dá atestado, não se ausenta nem mesmo em causa própria. Ela se diverte imaginando quem será o próximo pacote a ser embrulhado e carregado na lata fria motorizada rumo ao destino final. Independente do escolhido, seja um vagabundo, um bêbado, um pai de família, todos terão seu espetáculo próprio de tristeza intensa e curiosidade alheia.
Na roleta russa que minha companheira de trabalho gera, uma esfera de medrosos começa a se movimentar na ânsia de que eu a deixa para trás durante o trabalho. Mas eu não a convidei, sequer a informei pra onde ia. E outra, mal ela não me faz. Segue apenas a sua própria rotina. A morte, coitada, também tem que trabalhar. E por mais que ninguém ache legal a sua existência, a finidade da vida é necessário na manutenção da evolução humana. Vivemos um ciclo, a morte é uma etapa.
Mas como não posso exigir de você compreensão, quando eu tiver na linha é melhor tomar cuidado!
Pode ser a última chamada.

Em 5 turnos no atendimento telefônico no setor de segurança de uma cidadezinha do interior desse país, ocorreram 5 mortes.
Talvez seja necessário um banho de sal grosso.

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