7 de janeiro de 2012

Parcela do Dia


A música começa no fone do individuo alucinado que corre pela rua da cidade assustada, quando do nada aparece o monstro do ônibus rompendo as fronteiras da via, ele desvia e sobrevive ao primeiro suspiro sem imaginar o que há de vir, mas adivinha o que precisa fazer para ter o que almeja com aquela fuga vibrante, como um amante fugindo do dono da casa, ele extravasa a sua alegria em um temor evidente na face sorridente de quem pressente que o fim se aproxima, ai se apruma no passo e desembaraça as idéias inúmeras que na cabeça se confundem e se consomem vorazmente em profundos pensamentos vãos, essa cabeça base de um outdoor gigante de uma marca qualquer em brilhantes num boné sem graça e desgastado que faz do ser usado um usuário satisfeito, desfeito de qualquer sensibilidade coletiva se imagina o dono do mundo, mas no fundo se sente um só no meio do modo industrial de produção, induzido a acreditar que seu caminho é sua opção quando na verdade não, ainda assim faz um bem a si aceitando que na rota abrem-se portas de maneira horripilantemente estranhas quando nas entranhas pára para analisar que não foram suas mãos as desbravadoras, sem demora vê as horas e adentra o ventre da minhoca mecânica sobre trilhos no aperto colossal das células que rumam para o mesmo lado, seguindo seu fado rotineiro de costumes pontuais observa os vizinhos de transporte, seres grandes e fortes independente de suas feições, que cumprem suas sinas no anseio da satisfação e das alegorias pra se viver, ele não vê que é mais um, igual a eles, eu e você, e continua sua estrada, desce calado e distante quando um braço infante lhe suga da trama, destila fúria até percebe quem lhe convém, então derrama sorrisos, abranda seus passos e vivos terminam o caminho chegando ao lar.



Resumindo:
Ele sai do trabalho correndo, desvia de um ônibus na rua, pega um metrô lotado, desce no terminal, sua mulher o encontra e juntos vão para casa.

Não há momentos sem graça, 
a graça está em vivê-los.

Nenhum comentário: