14 de março de 2009

A Boneca da Lâmpada Mágica

Surgida da poeira cósmica celeste, caiu destrambelhada de um livro que pendia no alto da estante daquela velha biblioteca escolar. Era ela uma personagem diferente de tantas outras conhecidas que povoavam minha imaginação. Brilhava na claridade de um dia de verão de um jeito insuportável de encarar. Fazia as flores desabrocharem em pleno outono mais comum. No inverno me aquecia apenas sorrindo. Não sei dizer ao certo quando foi nosso primeiro encontro, sei apenas que fugi das entrelinhas uns dias antes. Ela ainda se escondia atrás dos velhos livros empoeirados de matemática quando nos esbarramos por acaso. Daí em diante fomos escrevendo a nossa própria história.
Sei que seu sorriso me revelou coisas incríveis sobre a vida, como naquele dia em que ‘no mais intimo momento de mim’ encontrei o amor. Era eu um menino, mas o que é mais majestoso do que o amor infantil? Lembro das tardes em que nossos olhares dividiam o mesmo espaço, percorrendo uma reta de luminosidade até a imagem do outro. Eu vivia na minha invenção romântica, enquanto ela me preenchia com amizade. Crescemos distantes por culpa do destino, mas sempre que nos víamos era aquela mesma alegria. Certa vez, numa esquina do caminho de tijolos dourados, quando já não havia a invenção, nossos lábios se encontraram. Eu flutuei. Mas de tudo que nos ocorreu nada foi tão fantástico como aquela manhã-tarde-noite-madrugada em que gastamos os verbos e os substantivos na fantasia de entendermos a vida. Ouvi-la falar é como beijar sua face, prazeres tão parecidos que não posso escolher o melhor. Hoje a menina encantada, que me iluminava o olhar, me alimenta com sentimentos felizes, próprios de uma paixão fraterna.
Sei que Gepeto quando a criou sabia de sua importância pra mim. Agora ela já não usa seu chapeuzinho vermelho, em seus vestidos floridos se apresenta como princesa - adormecida em sua preguiça engraçada, enfeitiçada com sabedoria e palavras, cristalizada em sua beleza incomum –, a mais pura da corte real de nossa existência.
Guardo em meu peito um bosque secreto, repleto de sonhos felizes, para que ela sempre esteja segura, guardada nas doces lembranças e presente ao sonhar as venturas. Hoje, longe de Agra, esfrego minha lâmpada sempre que preciso vê-la, ouvi-la, senti-la em minha presença, dividir as angustias e compartilhar as conquistas. Somos duas peças incompletas, certos de nossos valores, mas nos cabe a missão de sermos ao outro um abrigo de paz e alegria. Sentimos a graça dessa imensa fantasia que é viver.

Moral da História: Quando do céu um amigo vier não feche os olhos, só abra o peito. O amor é uma mistura de loucura, paixão e respeito.

2 comentários:

Unknown disse...

a mais linda história q já lí...surgiu numa época em que os desejos sexuais ainda não tinham se despertado. e quando um dia,no fim de suas vidas, a impotência bater em suas portas, restará ainda em seus corações esse amor para aquecê-los.

Fr. Dhael disse...

Rsrsrsrsrs
vc vai longe, menina!!!!!!!!