20 de dezembro de 2010

...e não deu tempo!

Acorda já cansada do que ainda há por vir. Levanta de sua cama desconfortável, abri a janela pra uma paisagem desinteressante, escova os dentes entediada e condena seu dia a insatisfação. Seus amigos lhe parecem falsos e distantes. Seu corpo dói como se tivesse quebrado pedra o mês inteiro. O ônibus se atrasa, o trânsito congestiona, o sol esquenta o ambiente, a mente explode em mil variedades de palavras chulas para descrever sua sensação. Chega ao trabalho atrasada, seu chefe não percebe, mesmo assim ele já é responsável e alvo de possíveis queixas por seu próprio atraso. O dia caminha e ela insiste em negar a alegria que é possível co-habitar seu espaço. Sobre um traço errado sua assinatura anula o trabalho de toda uma semana, é o fim do mundo, mesmo bastando apenas uma reimpressão. Irritada com as vozes que viajam ao seu redor no caminho de volta pra casa, ela só pensa em limpar a bagunça do seu apartamento. Chega na casa arrumada e encontra defeitos no trabalho da diarista, diz que essa só pode ter problema de vista por não enxergar a poeira que não existe. Passa um pano fajuto por sobre a mesa de centro, se cansa e desiste de persistir em sua condenação do trabalho alheio. Vai ao banho, parece outra, calada e distante de seu próprio mau humor. Com um copo de café assiste a novela que se repete e reclama do enfadonho roteiro que não se altera independente do título do folhetim. Alguém lhe liga, e ela não atende. Pensa em quem pode ser o demente que quer atrapalhar seu momento de lazer. Vinte minutos depois acorda de um cochilo , desliga a tevê, ruma ao quarto.
Três dias depois é encontrada morta no leito, aparentemente vítima de causas naturais.
...
Esqueceu de viver o que o dia lhe propôs.
Agora não há mais tempo.


Um comentário:

Otília Amaral disse...

Carpe Diem... pois, "Cada minuto de vida, nunca é mais, é sempre menos"

O verdadeiro sentido de viver consiste em amar... Então, que possamos amar enquanto vivermos... demonstrar amor ao próximo.