11 de setembro de 2010

Pequenos Contos Modernos - III

¬. 3 Zés, 7 jurados, 1 botijão - história de um pescador.
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Sentado no centro da sala do júri, um pescador com uma história sendo escrita. Cinco anos antes uma situação inusitada o levaria até o momento presente.
Era tarde de um sábado comum quando em frente a um boteco de feira uma confusão se instalou. Alguns minutos antes um Zé cego que fazia uma mudança fora furtado. Levaram de seu casebre um botijão de gás. Enfurecido com a situação o mesmo resolveu sair a caça do imoral ladrão. Um cego, bêbado e armado, saiu a rua buscando fazer justiça com as próprias mãos. Acompanhado de outros Zés, também bêbados, o Bobina e o Moleira, zigzagueram pelas ruas da cidade. Lá pelas tantas, entre boatos e bochichos, encontraram um pescador que não inventou essa história.
Palavrões e ofensas proferidas ao ar, homens embriagados enfurecidos  e uma faca de cozinha no lugar errado. Em segundos de fúria o pescador, que sabia que o provável ladrão era o Moleira, conhecido como (ar)rombador na região, e que foi acusado pelo mesmo do furto que o próprio havia cometido, foi ameaçado com uma investida do cego roubado. Entre corpos embolados a faca reapareceu cravada no peito do cego, que agora não precisava mais do botijão.
O Moleira sumiu na confusão, o pescador fugiu de sua ação, o cego morreu sem compaixão. E o Bobina que entrou de gaiato nessa história foi beber mais uma pra esquecer o que não lembrava. O pescador foi preso e cego enterrado. Do Moleira não se tem notícias. E o Bobina que interrogado contou diversas versões do fato já narrado, variando apenas na intensidade da presença do álcool em seu estado, acabou por fazer rir o juiz.
Agora já julgado, sete pessoas estranhas ao relato decidiram por 13 anos ao condenado. Os dias seguem normais na feira e no boteco. Essa história de pescador exalta o quanto a justiça é cega na embriaguez da vida.

Um comentário:

Augusto Andrade disse...

Infeliz fato!
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Cômica história... Não pude esquecer de mencionar.

Abraços!