13 de novembro de 2009

Crônicas de eLe - XXII

MÁSCARAS E CORAÇÕES
Rumando em direção alheia ao pensamento desconexo do momento de descoberta, seu corpo por osmose se direciona ao ponto de ônibus. eLe volta pra casa.
Nesse caminho o processamento das informações esclarece nitidamente o que realmente aconteceu naquele escritório. Um pai, um patrão, descontente com as escolhas de sua filha. Como será possível que alguém com tantas possibilidades vai se encontrar com um outro alguém que vem de um canto distante do mundo, sem muito a oferecer, sem perspectivas futuras visíveis de sucesso, sem sequer um nome que mantenha uma falsa impressão de poder?
eLe pensa:
*
¬O Seu Arnaldo é um escroto com toda a razão. Se eu mesmo tivesse uma filha naquelas mesmas condições nunca permitiria que um zé como eu viesse a possuí-la. O que eu posso oferecer a ela a não ser amor. De onde eu venho sei que o amor não enche a barriga. E alias, sou um perdido no mundo gigante que ela vive, mas o inverso é uma giganta no meu pequeno mundo de pobreza e ilusões. Me apaixonar foi um erro. Talvez ela tenha apenas aproveitado de minha inocência para experimentar de uma pureza ingênua dos sentimentos. Mas agora isso acabou. Acho que nunca mais vou vê-la.
*
Por mais apaixonado que o nosso personagem possa parecer, existe no seu intimo uma clara ação lógica de racionalidade que uma vida dura oferece. Muitas vezes é nos recantos mais distantes do globo que a distinção de uma ação correta vem nos surpreender. Longe dos mecanismos de uma sociedade fajuta, vive a graça do compreendimento das massas e de suas regras sociais. O jovem matuto amadurece mais rápido.
Ele chega à casa vazia de uma manhã normal. Fecha-se no seu quarto de marfim que agora é um calabouço do inferno pessoal. Sente o desgosto de suas aspirações. Sem trabalho, sem namoro, sem projetos futuros.
Alguém entra em sua casa. eLe escuta o barulho da porta e não se lembra de ter fechado a casa após adentrá-la. Sai correndo em direção à sala, com medo e raiva. Só faltava agora ser roubado por um vagabundo qualquer que se aproveitou de sua distração. Ao chegar à sala eLe empalidece e paralisa.Eugenia está ali com os olhos mareados de lágrimas.

Um comentário:

Thaisinha... disse...

ao menos não sofre tanto eLe.