5 de dezembro de 2008

Colega de Quarto

Eu moro numa república, ainda anônima, junto com quatro amigos de outros rumos. Nossa casa tem dois quartos, uma sala, uma salinha do computador, uma cozinha e uma garagem. São dois rapazes num quarto, duas garotas no outro quarto... e eu na garagem.
É aqui em meu cantinho, no meu colchão estacionado, que tenho minhas reflexões rotineiras. Meu mundo intenso e complexo se deita na mansidão desse espaço. Além de umas caixas vazias, de minha bagunça pessoal e do material do curso, tenho que dividir meu espaço com um colega, um tanto quanto, especial.
Em seu pedaço de garagem ele constrói uma casa, vai e volta nesta sua produção independente. Sempre só vai vivendo seu sonho. Tem dias que quase não o vejo - talvez esteja trabalhando fora ou quem sabe descansando. Na maioria das vezes o vejo chegando cheio de novidades, mas como ele é discreto, vai logo se esconder em sua construção. A cada dia que passa sua casa fica maior. Já estou até com medo de que aquilo venha a desabar em minha cabeça, mas não vou destruir obra de tanto esforço e empenho.
Fico imaginando se eu vou conseguir um dia ser como ele, sabe!?
Assim, sozinho.
Ele já tem seu canto no mundo, conquista suas próprias coisas, parece estar sempre bem, nunca incomoda ninguém, sempre lá em sua busca pessoal, todo faceiro e simpático. Mas só. Bom, mas quem sou eu pra dizer se é certo ou errado, ou se isso faz diferença pra ele?. Eu não tenho nada a ver com isso, e devo me portar com ele da mesma maneira que ele se porta comigo, com respeito e discrição.
Hoje eu penso em viver um futuro um pouco egoísta, um pouco sozinho. Quero ter meu castelo, minha carruagem, minhas aventuras amorosas e quem sabe até um herdeiro, mas quero fazer isso sozinho. Eu quero escolher a cor das paredes e dos pratos de porcelana. Quero ter minha vida nas mãos e não quero dividi-la. Talvez seja burrice minha, mas é um pensamento válido, pois só quem pode nos fazer feliz somos nós mesmos. E quem melhor do que eu para saber o que me trará felicidade?
Meu colega de quarto é um inseto voador, ele tem sua casa de barro na fiação da lâmpada. Talvez eu o convide pra morar comigo.
Talvez...

4 comentários:

Otília Amaral disse...

"Quero ter ... quem sabe até um herdeiro, mas quero fazer isso sozinho..."
Não entendi, é possível fazer um herdeiro sozinho?(rsrsrs)

Já disse e repito: Você é um PARADOXO!!!

Janna Peixoto disse...

Mas, quem não sonha em ser reis e rainhas de um universo, mesmo particular?!
São de sonhos que nascem felicidades. E já sabemos que são eles possíveis!


Bjoo.

e obrigada pelo comentário.

Augusto Andrade disse...

Concordo... "pois só quem pode nos fazer feliz somos nós mesmos. E quem melhor do que eu para saber o que me trará felicidade?"

Enfim... às vezes penso semelhante.
Dou-te a maior força para as escolhas solitárias dos pratos e entre outros... Estranho!

Abraços.
Qual o inseto?

Alan Almeida disse...

Não sei como não li esta postagem antes...


As vezes pensamos que dependemos de algo ou alguém pra construirmos ou conquistarmos, entretantato "somos aquilo que podemos ser". Por um minuto achei q vc falava de mim, me identifico muito com as características desse inseto e quase sempre qndo algo novo começa para mim, percebo que algo maior me falta, dessa forma me coloco só e me encontro, mas não apenas num ponto central, mas num ambiente meu, onde penso, me coloco, me retiro, me entendo, me torno solidário, me arrependo, reflito e me faço feliz.

Nesses momentos sou eu mesmo o meu colega de quarto.
Afinal, ninguém nos conhece tão bem quanto nós mesmo.

pra não perder o hábito... rsrs

Rafha parabéns por mais uma excelente postagem!

abraço